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Longe do Rio Vermelho, devotos prestam homenagens a Iemanjá em outras praias de Salvador

Na retomada dos tradicionais festejos para Iemanjá, após dois anos de interrupção devido ao cumprimento das medidas restritivas contra a covid-19, as praias de Salvador foram tomadas por pessoas que dedicaram tempo para homenagear a Rainha do Mar nesta quinta-feira (2). Longe da multidão que encheu o Rio Vermelho, não foram poucos os que preferiram a calma de um mar tranquilo e companhias seletas para compartilhar o momento de fé com a orixá. 

Esse foi o caso da professora Nilda Andrade, 47, que, para fugir da aglomeração, escolheu a praia de Itapuã para depositar seu presente para Iemanjá. “Aqui eu venho, faço meus pedidos e não preciso estar no meio de tanta gente. Iemanjá está em todos os lugares”, afirmou. 

Apesar de não abarcar o mesmo contingente de público do Rio Vermelho, em Itapuã os festejos para a Rainha do Mar acontecem há mais de 100 anos e, desta vez, não foi diferente. Na Colônia de Pescadores de Itapuã, cerca de 15 balaios ecológicos estavam à disposição de quem quisesse colocar flores, frutos, folhas e perfume, que mais tarde seriam depositados no mar. Na entrada do local, um xirê, roda de dança de candomblé, dava boas-vindas aos devotos e aos curiosos.  

A atriz Nanda Lisboa, 33, conta que não conhecia a festividade no bairro onde Vinicius de Moraes fez morada. Segundo ela, além de uma grata surpresa, a experiência foi bem próxima do sagrado. “Eu acho que o baiano faz a festa sagrada um tanto profana e a maioria acaba se entregando mais aos locais onde a festa tem esse teor profano. Eu vejo que aqui é mais voltado para o religioso, valorizando justamente o sagrado. Estou adorando e aprendendo um bocado”, disse. 

A atriz Nanda Lisboa foi pela primeira vez aos festejos para Iemanjá em Itapuã (Foto: Larissa Almeida/CORREIO)

Há 15 anos à frente da preparação dos festejos do dia 2 de fevereiro, a iaolorixá OriObá Lilian Santana relata que a manhã do dia sagrado, normalmente, tem um movimento tranquilo na Colônia dos Pescadores de Itapuã. Pela tarde, no entanto, o profano se mistura aos pedidos de fé. 

“Tem um samba de viola para buscar nossas raízes do Recôncavo. Todo mundo aqui na praia compartilha. No mesmo horário do Rio Vermelho, saímos em procissão e saudamos a nossa rainha para que ela traga muitos peixes, proteção a todos os pescadores e saúde”, pontuou. 

A ialorixá Lilian Santana está no comando dos festejos de Iemanjá em Itapuã há 15 anos (Foto: Larissa Almeida/CORREIO)

Para não deixar Oxum enciumada, Lilian também organizou o presente da orixá das águas doces, que neste ano foi depositado na Lagoa do Abaeté, às 6h desta quinta-feira. Presente nos atos de fé, o presidente da Colônia de Pescadores de Itapuã, Arivaldo Santana, vê as tradições como forma de afirmação. “Manter uma festa dessa é manter a cultura dos pescadores. Quando você não tem cultura, você não tem nada. Temos que mostrar cultura para aparecer, existir e resistir”, frisou. 

Ao lado do povo de santo de Itapuã, indígenas do bairro também se juntaram à celebração. Na cultura dos povos originários, a Rainha do Mar não é cultuada, mas é um encante que representa as águas e oceanos. Contudo, a convivência e respeito entre os indígenas e os candomblecistas tornou possível a comunhão no dia da mãe de todos os orixás.  

Foi graças a essa partilha conjunta que a idealizadora da Feira das Mulheres de Itapuã, a indígena Rita Capotira, 50, pôde promover a venda dos produtos artesanais dos seus parentes nas imediações da colônia.  

“Poucas pessoas sabem que Itapuã é um território indígena tupinambá e quilombola, então temos esse trabalho de retomada do artesanato e da culinária nativa. Hoje, estamos em casa, fortalecendo o nosso território. Estamos em comunhão com os povos negros, então Iemanjá também tem referência para nós. Colocamos presentes para ela porque acreditamos nas forças das águas e nos encantes do mar”, declarou. 

A pouco menos de 5km de distância de Itapuã, na Colônia de Pescadores de Piatã, também houve reunião de devotos de Iemanjá. Em um pequeno grupo, pescadores e moradores da região estavam envolvidos em um samba de roda depois de terem entregado ao mar um balaio com flores, champanhe, sabonete e perfume. 

Longe da lotação do Rio Vermelho, a aposentada mãe de santo Irami de Araújo, 60, justificou sua preferência por Piatã ao apontar que a mesma Iemanjá que rege as águas de lá, rege as de cá. Concordando com Irami, a baiana de acarajé Viviane Rodrigues, 36, acrescenta que o que difere as duas praias e a faz optar por Piatã são as companhias.  

“Aqui tem muita alegria e amizade. Adoramos fazer os festejos todo ano, somos devoto de Iemanjá, fizemos nossos pedidos e já soltamos até foguetes. Prefiro ficar aqui, porque é mais calmo e é bom evitar aglomeração, ainda mais que estamos com a covid-19 ainda entre nós. Temos que ter cautela”, aconselha. 

Foi na tranquilidade do vai e vem das ondas que o pescador Luiz Gonzaga, 65, foi agradecer a quem ele atribui a razão de ainda estar vivo. “Duas vezes eu estava em alto mar e aconteceu de a embarcação naufragar. Perdemos a embarcação e pensaram que não conseguiríamos retornar, até que conseguimos nadar e encontrar um pedaço de terra. Pedi ajuda a Iemanjá antes e ela me agraciou. Até hoje, tenho muito respeito, peço licença sempre que vou entrar no mar. Hoje, já agradeci e pedi muitos peixes”, conta Luiz. 

O pescador Luiz Gonzaga prestou homenagens a Rainha do Mar na praia de Piatã (Foto: Larissa Almeida/CORREIO)

No outro lado da cidade, também houve homenagens para Iemanjá na Praia da Preguiça, local onde aconteceu, nesta tarde, o evento Dois de Fevereiro: A festa, no restaurante Amado. Com a presença do ilustre Sidney Magal e dos Filhos de Gandhy, os devotos de Iemanjá almoçaram com vista para o mar e aproveitaram para confraternizar até o cair do sol, quando os balaios com flores e champanhes seriam depositados no mar. 

Filha de Oxum, a advogada Florinda Barreto, 55, acredita na união entre sua mãe e Iemanjá, uma vez que foi salva por duas vezes de acidentes no mar. Agradecida, ela optou por um evento perto da praia para conseguir homenageá-la. “Nós vamos colocar no mar a rosa e um champanhe, porque ela merece. Preferi vir para cá porque não gosto de tumulto e aqui é mais tranquilo e mais privado”, completou. 

A advogada Maristela Florinda Barreto optou por saudar Iemanjá em um evento privado na praia da Preguiça (Foto: Larissa Almeida/CORREIO)

Para Mazinho, dos Filhos de Gandhy, poder voltar a tocar no dia da Rainha do Mar era digno de celebração. Para honrar o retorno pós pandemia, ele prometeu um repertório repleto de canções em homenagem a ela na tarde desta quinta-feira. “É muito importante para os Filhos de Gandhy, depois de dois anos sem pandemia, sem fazer evento”, justificou. 

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo

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