Foto: Ricardo Stuckert/PR
Na conferência do clima, presidente defende ‘aproveitar o dinheiro que eles lucram’; em discurso sobre floresta, chorou ao lado de Marina Silva 02 de dezembro de 2023 | 10:01
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou na manhã deste sábado (2), em Dubai, que o Brasil vai participar da Opep+ para influenciar os produtores de petróleo a acabar com a exploração de combustíveis fósseis.
“Eu acho importante a gente participar [da Opep+] porque precisamos convencer os países produtores de petróleo que eles precisam se preparar para o fim dos combustíveis fósseis”, disse durante evento na COP28, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
“E se preparar significa aproveitar o dinheiro que eles lucram com petróleo e fazer investimento para que um continente como o africano, como a América Latina, possa produzir os combustíveis renováveis que eles precisam. Sobretudo o hidrogênio verde porque, se a gente não criar alternativa, a gente não vai poder dizer que vai acabar com os combustíveis fósseis.”
Lula falou sobre o assunto em um diálogo com a sociedade civil brasileira na cúpula, que acontece até 12 de dezembro nos Emirados Árabes Unidos.
Nesse evento, voltado a discutir a preparação do Brasil para sediar a COP30, em 2025, em Belém, discursaram representantes de indígenas, de quilombolas e de jovens. Participaram ainda as ministras do Meio Ambiente, Marina Silva, e dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.
Horas depois, em evento com o tema “Florestas: Protegendo a Natureza para o Clima, Vidas e Subsistência”, Lula chorou no palco enquanto discursava ao lado de Marina. Ele se disse emocionado porque nesta COP a floresta veio “falar por si só” e lembrou que a ministra nasceu na Amazônia, no Acre, e se alfabetizou aos 16 anos.
O convite para integrar a Opep+, um grupo que reúne dez países produtores de petróleo, mas sem direito a voto, além dos 13 membros regulares do cartel da Opep, aconteceu durante a viagem de Lula para a Arábia Saudita, nos dias 28 e 29 de novembro.
A proximidade com a COP28, que começou no último dia 30, evidenciou o que foi descrito por especialistas em clima como um contrassenso à imagem de potência ambiental propagada pelo Brasil. A COP é um evento da ONU que visa combater o aquecimento global. Os combustíveis fósseis, como o petróleo, são os maiores responsáveis pela emissões de carbono no mundo.
“Muita gente ficou assustada com a ideia que o Brasil ia participar do Opep. Nossa, o Brasil vai participar da Opep”, disse Lula, ao abordar o assunto pela manhã.
“O Brasil não vai participar da Opep, o Brasil vai participar da chamada Opep+. É tão chique esse nome ‘Opep Plus’. É que nem eu participar do G7. Eu participo do G7 desde que eu ganhei a Presidência da República. É G7+. Eu vou lá, escuto, só falo depois que eles tomarem a decisão e venho embora. Eu não apito nada.”
Os membros regulares da Opep, com poder de influenciar o preço dos barris de petróleo, são Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Venezuela (todos membros fundadores), Argélia, Angola, Congo, Emirados Árabes Unidos, Gabão, Guiné Equatorial, Líbia e Nigéria.
Já a Opep+ reúne os acima mais Rússia, Cazaquistão, Bahrein, Brunei, Malásia, Azerbaijão, México, Sudão, Sudão do Sul e Omã. E, em janeiro de 2024, o Brasil.
Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, comentando a fala de Lula sobre a adesão do Brasil à Opep+, escreveu em redes sociais que o Brasil vai “liderar países produtores de petróleo para acelerar a transição energética”.
Nesta sexta (1º), antes do anúncio de que o convite foi aceito, Marina Silva disse à BBC Brasil não ver uma contradição entre o Brasil estar na Opep+ e defender a redução do uso dos combustíveis fósseis.
Também para ela, o país poderá usar esse espaço para defender matrizes mais limpas de energia. “Em primeiro lugar, o Brasil não vai participar da Opep. Vai participar como observador, inclusive para usufruir daquilo que são os debates e os aportes tecnológicos”, disse Marina, ao lado de Fernando Haddad (Fazenda) em Dubai.
“O Brasil pode ter uma matriz energética 100% limpa e ajudar o mundo a que também faça sua transição energética com hidrogênio verde”, afirmou.
Após a conversa com a sociedade civil neste sábado, Lula seguiu para uma reunião do G77 + China sobre Mudança do Clima. Ali, fez um novo discurso destacando principalmente as guerras.
“Não posso deixar de usar esse momento para falar de paz. Estamos discutindo a questão do clima, mas enquanto discutimos a questão ambiental, temos guerra entre Rússia e Ucrânia, e uma guerra insana entre Israel e palestinos, sobretudo na Faixa de Gaza”, afirmou.
“É importante que a gente chame a atenção de que fica muito mais barato sentar em uma mesa de negociação e encontrar uma solução pacífica. Não é possível que as pessoas não se deem conta de que a guerra nos tempos modernos não leva a nada, a não ser a destruição de vidas, de casas, de prédios, de ferrovias e rodovias. O que está acontecendo na Faixa de Gaza não é guerra, é praticamente um genocídio”, disse Lula.
Folha de S. Paulo