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Microsoft é acusada de estar envolvida em suposto esquema de corrupção

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Em 2016, Yasser Elabd notou que um pagamento feito a um cliente na África do Sul no valor de $40,000 tinha algo de errado. O pagamento saiu do fundo de investimentos empresarial da Microsoft — o dinheiro teria sido destinado para concretizar e realizar abertura de novas linhas de negócios. Mas o cliente na lista de requisição não era bem um cliente, pelo menos não segundo a lista interna de clientes. Se tratava de um ex-funcionário que teve o contrato encerrado por baixa performance, e ele deixou a empresa antes mesmo de ter o seu contrato assinado.

Nos dois anos que se seguiram, Elabd disse que ele fez de tudo ao seu alcance para acabar com esse esquema — uma luta que o tornou um marginal entre seus colegas e acabou lhe custando o emprego. Mas, olhando para trás, ele acredita que a Microsoft não estava interessada em interromper os pagamentos, preferindo deixar os contratos falsos rolarem e aceitar o dinheiro atribuído.

Nesta sexta, em um artigo publicado através da plataforma de denúncias Lioness, Elabd postou sua experiência, alegando esquemas de suborno em contratos internacionais da Microsoft. Elabd estima que mais de $200 milhões foram gastos por ano em suborno, e a maioria delas aconteceu em países como Gana, Nigéria, Zimbábue, Catar e Arábia Saudita. Nas regiões em que ele trabalhou, ele acredita que metade dos vendedores e gestores estão no esquema. Se essas informações forem verdadeiras, é espantoso como a corrupção está associada a contratos tecnológicos internacionais — e os esforços da Microsoft em contê-los.

Ex-Diretor do setor de mercados emergentes para Oriente Médio e África, Elabd viu várias versões do problema. Como no caso africano, onde às vezes eram gerados pedidos suspeitos. Em outra situação, ele flagrou um empreiteiro do Ministro de Relações Exteriores saudita recebendo um desconto de $13 milhões em software – mas este desconto nunca chegou às mãos deste cliente. Em outro caso, o Ministro da Educação do Cata pagou $9.5 milhões em licenças para o Office e Windows, mas essas licenças nunca foram instaladas. De um jeito ou de outro, o dinheiro acabava sendo desviado no processo de licitação, que provavelmente é rachado entre o governo, o subcontratante e o funcionário da Microsoft envolvido no esquema.

Este tipo de corrupção corporativa generalizada é um problema internacional, particularmente em países onde o governo é o principal cliente e os burocratas veem propina como parte do negócio. O Fórum Econômico Mundial estima que por ano, mais de $1 trilhão são perdidos globalmente em esquemas de corrupção. É muito difícil estimar a porção envolvida no esquema descrito por Elabd, onde empresas pagam para líderes locais para assegurar os seus negócios ou saquearem o Tesouro através de contratos falsos. E muitas das vezes quem paga o preço por isso é o contribuinte — muitas vezes países que mal tem uma reserva — distribuem [esse dinheiro] para políticos e subcontratantes ao invés de quem realmente precisa.

É um desafio para qualquer empresa multinacional — mas a experiência de Elabd na Microsoft o fez se questionar se a empresa já jogou a toalha. “Isso rola em todos níveis [hierárquicos],” disse ele em uma entrevista concedida ao site The Verge. “Todos os diretores estão cientes disso, e eles têm promovido pessoas pouco capacitadas. Se você estiver fazendo tudo certinho, não será promovido.”

O site entrou em contato, e a Microsoft enfatizou o seu comprometimento com práticas éticas, destacando os “padrões de negócios”, o qual todos os funcionários passam por treinamento, incluindo um de como relatar situações como a descrita por Elabd.

“Temos o compromisso de fazer negócios de maneira responsável e sempre encorajamos a denunciar qualquer coisa que possa violar a lei, nossas políticas ou padrões étnicos,” disse Becky Lenaburg, VP na Microsoft e Vice-Conselheira Geral de Compliance e Ética. “Acreditamos que já investigamos essas acusações, as quais possuem muitos anos, e a resolvemos. Cooperamos com as agências governamentais para resolver qualquer tipo de problemas.”

A Microsoft já esteve envolvida em esquemas de corrupção no passado. Um executivo sênior na Hungria foi pego inflacionando as margens entre 2013 e 2015, segundo investigação conduzida pelo Departamento de Justiça. Uma investigação a parte feita pela SEC (uma espécie de Comissão de Valores Americana) alega que mais de $440.000 das verbas de marketing foram desviados em formato de gift cards para funcionários do governo saudita. A Microsoft resolveu ambos os casos em 2019, pagando um montante de US $25 milhões às agências investigadoras.

Em uma carta aberta aos funcionários, Brad Smith presidente da Microsoft descreveu o comportamento como “inaceitável” e enfatizou a necessidade de uma supervisão interna robusta. “Como empresa, precisamos continuar trabalhando em melhorar o sistema que nos auxilia a combater atos de má conduta,” escreveu Smith. “Esperamos que se ver algo que seja inconsistente com as nossas políticas ou valores, você chame a nossa atenção para que este probleminha não se torne um problemão.”

Mas o artigo de Elabd conta uma história diferente. Nele diz que ele escalou o problema e conseguiu parar os pedidos da Nigéria — mas que os problemas mais graves não foram resolvidos. Logo depois, um gerente o convidou para uma conversa “amigável”.

“Não quero que você seja um blocker,” o gerente havia dito pra ele. Se descobrisse algo suspeito, o gerente dizia, “você tem que dar as costas e deixar do jeito que tá.”

Nos meses seguintes, Elabd se afastou das negociações. Pedidos de viagem que normalmente costumam ser aprovados passaram do nada a serem recusados. E quando ele recusou um plano de melhoria de performance, ele perdeu o emprego e deixou a empresa em definitivo em agosto de 2018.

Nos anos seguintes, ele rastreou pedidos de propina vindos do Catar, Camarão e África do Sul, todos eles envolvendo a Microsoft e seus subcontratantes. Ele até chegou a levar os relatórios ao SEC, esperando que eles tomassem uma ação — mas ele disse que viu pouca ação da agência. (Até o momento da publicação a SEC não havia se pronunciado.)

Este tipo de esquema é ilegal de acordo com a Lei de Práticas de Corrupção no Exterior — mas os processos judiciais tendem a se basear em mais de um único incidente. Leah Moushey, sócia do escritório Miller & Chevalier, diz que os processos geralmente se concentram nos esforços internos de uma empresa para impedir a corrupção. “Eles vão analisar se o programa de conformidade é bem desenvolvido, implementado e se há evidências para atestar que ele funciona”.

Embora um bom processo possa justificar alguns casos ruins, evidências de casos ruins podem gerar punições mais severas, uma ameaça particularmente séria, dado o foco recente do Departamento de Justiça em infratores corporativos reincidentes. “As empresas não tem como colocar a cara na areia, caso surja um problema,” diz Moushey. “Você pode ser responsabilizado caso ignore os alertas que estão aparecendo na sua organização.”

É muito difícil de saber onde a Microsoft se enquadra nesse espectro. A empresa bloqueou os pagamentos e encerrou o contrato de vários funcionários citados por Elabd, e quando não foram, é porque as investigações acabaram não dando em nada. Mas para Elabd, o risco de perder um trabalho não é suficiente para combater a cultura da corrupção.

“Eles nunca tomaram nenhuma ação legal contra esses funcionários, mesmo quando descobriram que eles estavam roubando da empresa e do governo,” disse ele. “A mensagem que passa aos funcionários é façam o que quiserem e gerem o máximo de grana possível, no pior dos cenários o que pode acontecer é você ser demitido.”

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