InícioNotíciasPolicialMoradores transformam Stiep em um 'Big Brother' para se proteger de violência

Moradores transformam Stiep em um ‘Big Brother’ para se proteger de violência

O aumento no número de assaltos a mão armada no Vale dos Rios, na região do Stiep, em Salvador, levou os moradores a adotarem uma medida extrema. Eles compraram R$ 16 mil em câmeras de vigilância que foram instaladas no bairro. Residentes e comerciantes cobraram a Secretaria de Segurança Pública (SSP) ações mais enérgicas para garantir a segurança das 285 famílias e estabelecimentos.

As câmeras foram instaladas em frente à praça Vale dos Rios, o local é o principal alvo dos bandidos. Os moradores contaram que as ocorrências são frequentes no começo da manhã e no final da tarde, quando o movimento de pedestres aumenta, tanto de trabalhadores e estudantes chegando e saindo, como pelas pessoas que fazem caminhadas, levam as crianças para brincar ou passear com os cachorros.

São 16 equipamentos instalados pela comunidade e uma câmera da SSP. Daniel* contou que o custo com a operacionalização é de R$ 699 mensais, valor que é dividido entre as famílias. Ele garantiu que mais câmeras serão instaladas. 

“É só o começo. Vamos implantar mais. É porque é muito alto o custo disso, é menor que colocar segurança privada, mas ainda assim é alto. Foi um custo que a Associação de Moradores assumiu e a manutenção foi rateada em cima da taxa dos condomínios e estabelecimentos comerciais”, explicou.

A instalação dos equipamentos divide opiniões no bairro. Há quem questione a falta de privacidade e até que ponto os equipamentos são eficientes, porque casos flagrados pelas imagens e levados até a polícia não foram solucionados. Porém, a maioria acredita que a presença dos equipamentos pode ajudar a inibir as ações dos criminosos. Desde que foram implantadas, em dezembro do ano passado, elas já registraram diversos delitos.

O caso mais recente foi o furto de um refletor, ocorrido na semana passada. No dia 1º de maio, um casal em uma motocicleta assaltou moradores em plena luz do dia. Era por volta de 16h30, e o que chamou a atenção foi que a mulher estava usando roupa de praia, o que não levantou suspeita até ela sacar a arma e apontar para as vítimas.

Rotina
O aumento da insegurança fez com que os moradores alterassem e rotina. Rafael* não sai mais com o aparelho celular quando vai encontrar com os amigos na praça ou comprar algo no mercado, porque tem medo de ser assaltado. Quando está voltando para casa em carro por aplicativo Anselmo* faz o pagamento da corrida ainda no caminho para não ter que ficar parado na porta do prédio.

“A pandemia aumentou bastante a atividade de delivery, há um movimento intenso de entregadores por aqui, o que deixa a gente tenso. Muitas vezes, eles vêm devagar porque estão procurando o prédio, mas a gente já corre pensando ser assalto. Tenho evitado ficar na praça e o mesmo com meu filho”, contou.

O proprietário de um bar, que pediu para não ser identificado, está encerrando o expediente mais cedo depois de ser assaltado três vezes. “Antes, a gente ficava até meia-noite ou 1h, mas agora a gente não passa das 22h. Em um dos assaltos, eles [bandidos] levaram até a corrente de minha esposa. Ela conseguiu tirar apenas a medalha da santinha. Levaram bebida, dinheiro e assaltaram também os clientes”, contou.

Por conta da insegurança, o movimento no bar diminuiu à noite. O proprietário de uma pequena mercearia contou que foi assaltado assim que abriu o estabelecimento, por volta das 6h30. Foram três ocorrências em um mês.

No salão de beleza o atendimento é com hora marcada, e a grade fica o tempo todo trancada com cadeado. Aparelhos de ar-condicionado ficam gradeados, assim como os acessos à igreja, prédios e estabelecimentos comerciais. Moradores relataram que já encontraram facas e armas de fogo escondidas na mesma praça onde tem um parquinho usado pelas crianças.

Socorro
Todos os moradores ouvidos frisaram que as câmeras são um paliativo, mas que não resolvem o problema e cobraram medidas práticas da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Eles contrataram segurança particular, mas o custo da operação era alto demais, e como os agentes não podiam portar arma de fogo não conseguiam reagir em algumas situações. Os moradores desistiram do serviço.

“Vi um assalto acontecer na frente do segurança, e ele não pode fazer nada, porque o bandido estava armado. A verdade é que estamos pagando para fazer o trabalho que deveria ser da polícia. Segurança pública é um dever do estado”, desabafou outro morador, que teve o carro dele e do filho roubados na porta de casa e na praça, respectivamente.

Os moradores divergem sobre a retirada de linhas de ônibus no bairro, há quem defenda que a segurança ficou pior e quem afirme que a instalação do final de linha foi o que atraiu o movimento de pessoas de outros bairros e os bandidos, mas todos concordam que o policiamento precisa ser melhorado. Eles disseram que não há rondas e que o contato com a 39ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/ Boca do Rio/ Imbuí), responsável pela região, é falho. O CORREIO permaneceu cerca de 2h30 no bairro, e não localizou viaturas. 

As imagens registradas pelas câmeras ficam armazenadas em uma nuvem, onde os síndicos têm acesso. Agora, os moradores pedem que os equipamentos instalando com recursos próprios sejam integrados ao sistema de monitoramento da SSP. Eles também frisaram que podem ceder um espaço para a Polícia Militar montar um posto no bairro.

Procurada, a Polícia Militar informou, em nota, que a 39ª CIPM realiza o policiamento diariamente no Vale dos Rios, através de rondas ostensivas com viaturas, carros e motocicletas, abordagens preventivas a pessoas e a veículos, além de ações de integração com a comunidade, e citaram como exemplos palestras em escolas e reuniões com associação de moradores e comerciantes.

“Como resultado das ações realizadas nos últimos três meses, a 39ª CIPM conduziu 47 pessoas à delegacia, prendeu em flagrante seis criminosos e apreendeu dois adolescentes por atos infracionais. Ainda neste período, a unidade recuperou oito veículos com restrição de furto/roubo, bem como tem registrado uma redução no número de crimes violentos letais intencionais (CVLI) nos últimos anos”, diz o texto.

O Corporação orienta que a comunidade use o 190 e o 181 para relatar as ocorrências, e disse que a sede da Companhia está à disposição para atender os moradores. Já a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que que os moradores do Vale dos Rios podem aderir ao programa Câmera Interativa.

“A integração deve ser solicitada pelo provedor do serviço contratado pelos moradores, através do telefone 71 3115-1930. A SSP destaca ainda que a PM realiza o patrulhamento ostensivo no bairro e que determinará o reforço”, diz a nota.

*Usamos nomes fictícios para proteger a identidade dos denunciantes.

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