O cantor e compositor Mateus Aleluia, 74 anos, recebeu, nesta quarta-feira (11), o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A sessão solene ocorreu pela tarde, no Campus Cruz das Almas.
Mateus Aleluia, que também é pesquisador da ancestralidade baiana musical pan-africana, é a quinta personalidade a receber esta honraria da UFRB. A proposta de homenagem partiu do Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologia Aplicada (CECULT) e destacou como mérito a trajetória pessoal e profissional pela sua contribuição aos estudos e divulgação da cultura pan-africana na Bahia, no Brasil e, também, em países africanos e no mundo.
Em seu discurso de agradecimento, o músico fez uma reflexão sobre a vida. “Eu digo: ‘vou receber o título de doutor’. Transformaram-me, nasci novamente. A vida é feita de ressurreições, pensamos que apenas Cristo ressuscitou. Eu cresci acreditando que nós ressuscitamos todos os dias, quando dormimos, depois acordamos”, comentou.
“Caminhando, solfejando e cantando, eu sempre andei. Resisti e resisto, porque meu tempero é o sal. Na estrada que trilho, quem me guia é o sol, e quando o dia se rende, eu me abrigo ao luar. Eu sinto a brisa em meu redor, eu piso o chão que me formou. Tenho fogo no meu coração: a inquietude. Sim, choveu! Atravessando o Saara eu vi que não estava só, era uma solidão partilhada com quem eu não vi”, declamou. Mateus Aleluia ainda agradeceu pelas homenagens feitas pelos professores e reitoria da UFRB.
Um filho de Cachoeira, Senhor Mateus, como é conhecido localmente, nasceu às margens do Paraguaçu no ano de 1943. O cantor, compositor e pesquisador da ancestralidade baiana musical pan-africana do Brasil foi protagonista no grupo Tincoãs, primeiro grupo vocal a expressar a herança cultural (musical e linguística) dos povos africanos. O Tincoãs foi destaque nacional entre os anos de 1960 e 1980.
Mateus Aleluia viveu duas décadas em Angola, a partir de 1983, onde foi contratado pela Secretaria de Cultura para realização de pesquisa antropológica e cultural, junto a mestres e mestras da cultura dos povos africanos, compilando diversos saberes. Retornando ao Brasil, Sr. Mateus lançou os álbuns “Cinco Sentidos”, “Fogueira Doce” e “Olorum”, que, junto com a obra dos Tincoãs, consubstanciam o legado pan-africano do Brasil.