InícioEditorialNa Bienal, Lázaro Ramos é tratado como símbolo da representatividade negra

Na Bienal, Lázaro Ramos é tratado como símbolo da representatividade negra

Lázaro Ramos esteve na Bienal para falar sobre seu novo livro

Lázaro Ramos tornou-se uma referência de representatividade para os negros baianos. Isso ficou muito nítido neste domingo, na Bienal do Livro, quando ele foi recebido pelo público como um popstar no evento literário. A Arena Jovem, que o recebeu para um bate-papo com a poeta e professora Maria Dolores Rodriguez, estava lotada e bastou o escritor dar um aceno de longe para que a plateia respondesse aos gritos, como as adolescentes fazem ao ver um ídolo.

Lázaro estava no Centro de Convenções, sede da Bienal, para lançar seu mais recente livro, Você Não é Invisível, destinado ao público adolescente. Ele também já escreveu para crianças, em publicações como Cadernos Sem Rimas da Maria. Mas muita gente estava ali por causa do impacto que sentiu quando leu o livro Na Minha Pele, lançado em 2017 por Lázaro.

A estudante de direito Marilia Nascimento, 22, era uma dessas que foi arrebatada pelo livro, que, entre outros, trata de questões raciais e direitos humanos.

“No livro, a gente percebe que ele passou por problemas que todos nós passamos e às vezes não percebemos. Pessoas que sempre tiveram suas vozes caladas agora se veem representadas”, disse Marilia.

Marilia chegou ao Centro de Convenções pela manhã, por volta das 10h30, mesmo sabendo que a participação de Lázaro – que era o que lhe interessava no dia – só começaria às 15h. Mas a chegada antecipada tinha um motivo: ela queria pegar uma senha para ter direito a pegar um autógrafo do escritor. A assinatura do autor, claro, seria no exemplar de Na Minha Pele, que ela carregava orgulhosa.

Marilia Nascimento (foto: Roberto Midlej/CORREIO) 

E mais: ela preparou uma carta para entregar a ele na hora em que fosse pegar o autógrafo. “Não vou ter tempo de dizer a ele o que eu queria, de dizer o quanto o livro dele foi importante para mim. ‘Virou uma chave’ em mim depois que li Na Minha Pele”, disse Marilia.

“É uma enorme alegria estar aqui na minha terra para lançar meu livro. Porque foi a Bahia que me ensinou tudo. Me ensinou a ser cidadão, me permitiu estudar teatro e que me deu orgulho da minha cor”, disse Lázaro no começo de sua participação.

Você Não é Invisível foi escrito durante a pandemia e conta a história de dois irmãos adolescentes negros que ficam confinados em casa, enquanto o pai trabalha o dia todo e a mãe está viajando.

“Politizando um pouco mais o livro, ele fala muito sobre identidade e memória. O orgulho de nossa identidade, de nossos traços, da nossa origem. Não fala diretamente sobre racismo e exclusão social, mas tem vários temas que ‘atravessam’ os irmãos: a questão da discriminação, a questão do fortalecimento da identidade e a valorização de nossa história”, observou Lázaro.

O autor disse que, embora escreva de maneira “leve”, não deixa de tocar em temas “que fazem que a gente fique mais afetuoso, saudável e que possamos viver em harmonia no coletivo”.

Lázaro ressaltou que o Brasil vive hoje uma oportunidade de refundar o país e, por isso, a sociedade precisa “ter coragem” de discutir a realidade todos os dias. “Mas não precisa ser ‘no fígado’, no ódio, na raiva. Pensar isso para melhorar e para mais pessoas terem mais acesso a direitos. Essa talvez seja nossa maior missão para esse tempo: resgatar esse lugar de construção de projeto de nação. Nossa nação só será plena quando todos tiverem direitos iguais”. Em seguida, foram 20 segundos de aplausos, naquele que foi, provavelmente, o momento mais emocionante daquela tarde.

Na plateia, outro que se emocionava era o estudante de publicidade Victor Alves, 24 anos: “Na Bahia, há pouca representatividade negra e Lázaro é um desses que nos representa. Representatividade é a gente se ver num lugar onde não nos encontrávamos antes. É ter nordestinos, negros, LGBTs e mulheres em destaque”, disse Victor. O estudante pretende voltar nesta segunda-feira (14) à Bienal para ver a participação dos autores Clara Alves e Pedro Rhuas, que estarão na Arena Jovem às 11h, no bate-papo Tik-Tok, Instagram e o Velho Papel – Como a Gente se lê hoje?

Gilberto Gil participa da Bienal nesta segunda-feira, 17h (foto: Fernando Young/divulgação)

Nesta segunda-feira, o participante mais esperado é Gilberto Gil, que participa de um bate-papo com o compositor e letrista Carlos Rennó, às 17h. Ale Santos, Lu Ain-Zaila, Ana Maria Gonçalves e Eliana Alves Cruz também participam de outras mesas ao longo do dia.

A Bienal do Livro Bahia tem patrocínio master da Colgate, patrocínio das empresas Supergasbras, Skeelo, Suzano, Ferbasa, Bracell e Accor, e o apoio da Prefeitura de Salvador, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo e da Fundação Gregório de Matos.

SERVIÇO
Bienal do Livro Bahia 2022
Período: até terça-feira (15)
Horário: das 9h às 21h (segunda) e das 10h às 21h (terça-feira)
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Site oficial: www.bienaldolivrobahia.com.br

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