(FOLHAPRESS) – A historiadora Ana Lucia Duarte Lanna, que chefiará a nova pró-reitoria da USP afirma que não há espaço para que as cotas sejam removidas da universidade atualmente.
“Precisaremos das cotas para a graduação, elas completaram o primeiro ciclo no ano passado [2021] e têm mostrado resultados positivos e importantes. Não existe espaço para sua remoção nesse momento”, disse ela, que é professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), em entrevista à reportagem.
A nova pró-reitora afirma ainda que espera poder conduzir o processo de discussão sobre inclusão e diversidade na pós-graduação e nas carreiras docentes. “É nossa responsabilidade conduzir isso, até para saber em que momento nós devemos usar as cotas e quando utilizar outras ações afirmativas [para pós-graduação e contratações de professores]”.
Lanna defende que o tema seja debatido, mesmo que existam visões conflitantes dentro da instituição. “Seremos capazes de construir um campo de diálogo e qualificar as diferenças, valorizar a diversidade nela mesma e não tentar fazer com que todos se tornem iguais”.
Ela é a primeira pessoa a chefiar a Pró-Reitoria de Inclusão e Diversidade da universidade, que foi aprovada pelo Conselho Universitário na terça (3) e começa a funcionar oficialmente já nesta quarta (4).
Questionada sobre qual o orçamento para o novo órgão, ela afirmou ainda não ter os dados completos.
A criação da nova entidade era uma promessa de campanha do atual reitor, Carlos Gilberto Carlotti Júnior, que assumiu o cargo no início do ano. “Desde então estamos trabalhando na estruturação da pró-reitoria, elaborando regimento, objetivos, toda a organização que viabilizasse a incorporação de outros órgãos da universidade”, disse Lanna, que nesse período teve o apoio da nova pró-reitora adjunta, Miriam Debieux Rosa (que é professora do Instituto de Psicologia da USP).
A nova entidade terá sob seu guarda-chuva todos os órgãos que cuidam do assunto da universidade, como o escritório da USP Mulheres e a Superintendência de Assistência Social, por exemplo. A ideia é que isso facilite uma aproximação entre elas.
Para a historiadora, que é diretora da FAU, a criação da pró-reitoria é um passo importante para tirar do papel projetos e ações de inclusão e diversidade “A USP tem um programa de políticas e projetos dedicados a diversidade que cresciam, mas que estavam dispersos no âmbito da universidade. Isso dificultava ampliar e potencializar essas ações”.
“Reunir esses órgãos em uma pró-reitoria foi uma decisão tomada para mostrar com veemência a importância que a universidade está dando à inclusão e ao pertencimento não só dos alunos, mas também dos professores e servidores técnicos administrativos. Tivemos um esforço grande de deixar claro que são ações para todos”, afirmou.
Durante a reunião do Conselho Universitário em que se aprovou a criação da Pró-Reitoria, Reinaldo Santos de Souza, representante dos funcionários, disse que iria se abster durante a votação por acreditar que não houve discussão suficiente com a categoria sobre o projeto.
Ele também reclamou que não há previsão de participação dos servidores no conselho da nova entidade.
Questionada sobre este assunto, a nova pró-reitora disse que a medida foi tomada porque as outras pró-reitorias também não têm reapresentação dos funcionários e seguiu uma orientação da área jurídica.
Lanna afirmou que o tema é importante e que a categoria poderá ter representação nos conselhos das unidades de ensino e pesquisa da USP. “A forma como estruturaremos as comissões em cada unidade permitirá que os servidores tenham suas representações. Essas comissões poderão ser definidas e constituídas com muita liberdade”.
A nova pró-reitora disse que um de seus projetos prioritários será uma pesquisa para saber se os estudantes tem uma sensação de pertencimento nos oito campi da instituição.
Também já estão em andamento as ações de revitalização do Conjunto Habitacional da USP, o Crusp, na Cidade Universitária –ela deve se reunir já nesta quarta com a Superintendência de Espaço Físico para debater um cronograma de reformas nos edifícios.
“A situação da moradia [universitária da USP] na capital é muito diferente daquela vista nos demais campis. A situação do Crusp é muito delicada, estamos conversando com os estudantes e temos essa reunião com o SEF para discutir a recuperação física e material do conjunto”, afirmou.