InícioEntretenimentoCelebridadeNascidos em Minas, cineastas adotaram a Bahia e foram adotados por ela

Nascidos em Minas, cineastas adotaram a Bahia e foram adotados por ela

Nascidos em Minas Gerais e radicados na Bahia, Glenda Nicácio e Ary Rosa certamente estão muito satisfeitos com o merecido reconhecimento que têm tido como cineastas. E esse reconhecimento acontece tanto lá, na terra de origem deles, como na Bahia, que foi adotada pelos dois e que também os adotou.

Tanto que, nos próximos dias, a dupla será celebrada em eventos cinematográficos nos dois estados: em Salvador, a Sala Walter da Silveira será reinaugarada nesta quarta-feira (18) com a exibição de um longa da dupla, Ilha; em Minas, a Mostra de Cinema de Tiradentes, de 20 a 28 deste mês, fará uma homenagem aos diretores, com a exibição do filme Mugunzá na noite de abertura e uma mostra com os outros cinco longas dirigidos por eles.

“A gente tem consciência de que a Sala Walter da Silveira é importante para a história do cinema baiano, que é um lugar de encontro muito importante. É um prazer fazer essa estreia neste momento em que voltamos a falar de esperança. Essa revitalização da Walter é muito importante e a exibição de Ilha, que é um filme muito caro pra nós, nos envaidece bastante”, diz Ary.

Ilha conta a história de Emerson, um jovem da periferia que quer fazer um filme sobre a sua história na Ilha, lugar de onde os nativos nunca conseguem sair. Para isso, ele sequestra Henrique, um premiado cineasta. Juntos, os dois reencenam a própria vida.

Ary destaca também um diferencial da Sala Walter da Silveira, que é a entrada gratuita em toda sua programação. O espaço foi reinaugurado em cerimônia para convidados na semana passada e agora será reaberto para o público. De acordo com o Estado, foram investidos R$ 330 mil na reforma.

Faculdade
Ary e Glenda se conheceram no curso de cinema da Ufrb, na turma de 2010. Na época, era uma das poucas faculdades públicas dessa área que aceitava o ingresso de alunos através do Sisu, o Sistema de Seleção Unificada criado pelo MEC para admitir alunos de acordo com o desempenho no Enem. E esse foi um fator decisivo para a vinda da dupla, que só se conheceu na faculdade.

Mas Glenda, que tem 30 anos e nasceu em Poços de Caldas, admite que fazer um curso superior de cinema não estava em seus planos iniciais. Preferia o teatro e sonhava ser diretora de artes cênicas. Mas, como vinha de uma família muito simples, achou que não podia deixar de passar a chance de estudar numa universidade pública federal.

“Eu atuava no comércio, tinha acabado de sair do Ensino Médio e vinha de uma classe onde fazer faculdade não era algo natural”, diz a cineasta.

Mas em menos de um mês ela já estava apaixonada pelo curso, graças, principalmente às aulas de linguagem cinematográfica. “O teatro então perdeu sentido em minha vida”, diz Glenda, que nunca se identificou como cinéfila.

Ary, por outro lado, embora já fosse formado em filosofia, tinha realmente o desejo de estudar cinema e, pelo Sisu, só havia duas opções: em Pelotas ou Cachoeira. No RS, a ênfase era em animação, que não lhe interessava. optou então pela faculdade baiana, que se tornou fundamental para o olhar autoral da dupla de cineastas, segundo Ary:

“A perspectiva de linguagem nossa é do olhar do Recôncavo. Esse encontro com Cahoeira é fundamental para a nossa história”, revela o diretor de 35 anos, nascido em Pouso Alegre.

Os mineiros acabaram se aproximando, ficaram amigos e, já no segundo ano do curso, se tornaram sócios na produtora Rosza Filmes. A empresa, que realizou todos os longas de Ary e Glenda, cresceu, se estabilizou e se tornou a razão da permanência dos mineiros em Cachoeira.

Inicialmente, eles pensavam em se mudar para Salvador, mas mudaram de ideia, diz Glenda: “Lembro do dia em que decidimos ficar. Nós achávamos que cinema era algo que combinava com capital. Mas pensamos mais e vimos que somos uma boa dupla!”. “Nos sentimos em casa em Cachoeira e temos um afeto pelo Recôncavo. Além disso, tem a questão econômica: quando decidimos ficar, havia um investimento [do governo federal] na produção de audiovisual no interior do país. E ficamos atentos a isso”, justifica Ary.

Além de realizar os filmes, a Rosza promove oficinas de formação, como a que aconteceu na produção de Café Com Canela, que consagrou a dupla.

“Fizemos oficina de cenografia e capacitamos jovens. Algumas desenvolveram interesse por cinema e acabaram entrando na faculdade”, diz Ary.

Há ainda a contribuição para a economia local, através da contratação de fornecedores da região, que sempre são prioridade. Mantém, por exemplo, um contrato com uma cooperativa de costureiras, que não realizam apenas a costura, mas participam do processo criativo das roupas.

Os filmes mais recentes de Ary e Glenda foram Mugunzá e Na Rédea Curta. O primeiro é um drama musical estrelado por Arlete Dias e Fabrício Boliveira e o outro, uma comédia escrachada inspirada nas histórias que fazem sucesso no canal homônimo no YouTube, protagonizadas por Mainha (Sulivã Bispo) e Júnior (Thiago Almasy).

E ainda dá tempo de assistir a Na Rédea Curta, que está em cartaz em Salvador, no Metha Glauber Rocha. Se não conhece os outros filmes da dupla, vem aí uma ótima oportunidade de ver gratuitamente: durante a Mostra Tiradentes, Café com Canela” (2017), Ilha (2018), Até o Fim (2020) e Voltei (2021) estarão disponíveis na plataforma do festival. É a chance de mergulhar na obra desses dois talentos meio baianos, meio mineiros.

SERVIÇO

Exibição de Ilha, de Ary Rosa e Glenda Nicácio
Quando: 18 de janeiro de 2022 (quarta-feira), às 15h
Onde: Sala de Cinema Walter da Silveira (Rua General Labatut, 27, Barris)
+ Informações: 71 3328-7009
Gratuito
 

Mostra Tiradentes
Exibição online dos filmes de Glenda e Ary
Site: https://mostratiradentes.com.br/
Quando: 20 a 28 de janeiro

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