O Brasil vai às urnas neste domingo depois de uma campanha curta e agressiva na qual sobraram desinformação e ataques pessoais entre os dois principais candidatos e faltou algo que, para o convencimento do eleitor, deveria ser fundamental: propostas.
Nos dois únicos debates em que Lula e Jair Bolsonaro estiveram frente a frente neste segundo turno, o da Band no último dia 16 e o da TV Globo nesta sexta-feira, a falta de detalhes sobre o que cada um deles pretende fazer caso se eleja ficou ainda mais patente.
Os planos de governo de ambos, registrados no Tribunal Superior Eleitoral, lá ficaram e quase não foram discutidos.
Faltando três dias para o segundo turno, a campanha de Lula divulgou uma carta com alguns eixos econômicos na tentativa de afagar o mercado, mas não houve espaço para que as ideias fossem discutidas. Do lado bolsonarista, as ideias foram igualmente vagas.
Em meio ao festival de xingamentos, com variações de “mentiroso” para um lado e “ladrão” para outro, o que efetivamente os dois planejam para o país nos próximos quatro anos ficou de lado.
“A discussão de propostas foi zero. A campanha foi um atirando contra o outro, buscando realçar supostos efeitos e problemas”, resume o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo.
“Bolsonaro fica com a narrativa em torno da questão da corrupção, usando bordões como ‘Lula ladrão’, ‘ex-presidiário’, e as falas de Lula contra Bolsonaro são um combo com assuntos como os 51 imóveis adquiridos com dinheiro vivo, as rachadinhas, um assunto que sempre vai e volta”, emenda.
“Essa campanha não teve proposta. O tom adotado por Lula na campanha foi o de que é favorável à democracia e contra o autoritarismo, enquanto o de Bolsonaro foi sobre ser contra a corrupção e a favor dos bons costumes. Mas sem proposta”, afirma o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Baía ressalta que uma campanha nesses moldes deixa o eleitor sem compreender de fato o que desejam os candidatos.
Na prática, embora os apoiadores mais radicais de um lado e outro reclamem do diagnóstico, na prática os brasileiros passarão um cheque em branco para o governo que começa em janeiro, independentemente de quem for o grande vencedor neste domingo.