Pagar contas tornou- se uma dificuldade em 82,3% dos lares da capital federal, de acordo com dados levantados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), em abril de 2023. O número de famílias inadimplentes supera a média nacional do Brasil, que é de 78% da população.
O principal vilão das famílias quando o assunto é dívidas é o cartão de crédito. O queridinho de muitos está no top 1 no ranking dos tipos de dívidas, e 94% dos endividados têm contas a pagar por conta do dinheiro de plástico. Depois dele, o segundo principal motivo das inadimplências são os carnês.
RelatosO universitário Vinícius Rocha, 21 anos, foi um dos inúmeros que teve dificuldade para manter as contas em dia durante a pandemia. “A empresa que eu trabalhava fechou e eu não tinha uma reserva de emergência. Com isso, eu não consegui pagar as dívidas que eu tinha com cartões de crédito e com a operadora do meu celular”, contou.
Com o contratempo, Vinícius viu que precisava se organizar melhor com o dinheiro, e revelou que antes de ficar em conta com os débitos, chegou a pagar um cartão de crédito com outro que tinha.
“Eu já fui muito imprudente, mas tive que me adaptar à condição financeira que eu tinha na época. Passei a ter mais consciência e abri mão de várias coisas para quitar as minhas dívidas. Hoje em dia, eu tenho um controle melhor das minhas finanças. Faço o possível para guardar economias, porque não quero passar por algo assim de novo”, afirmou o jovem.
O cartão de crédito também foi o pivô da inadimplência do estudante Victor Aguiar, 22. O aumento do limite do cartão dele aumentava constantemente, e a falta de educação financeira foi uma fiel companheira do estudante. “Eu não trabalhava, e o limite do meu cartão sempre aumentava, porque eu gastava muito nele, e parcelava muitas compras. Até que chegou em um ponto que eu não conseguia mais pagar”, revelou.
Para tentar driblar a dívida, Victor fez um empréstimo, mas o jovem nem imaginava que tudo ia se tornar uma bola de neve. “Eu paguei uma parte da dívida com o empréstimo, mas quando eu fiz isso surgiu mais uma dívida, porque os juros dele eram muito altos. Então eu acabei ficando com a dívida do empréstimo e com a do restante que eu devia no cartão”, contou.
O estudante lida com as consequências da imprudência até hoje. “Agora, eu estou trabalhando, e vou conseguir quitar tudo esse ano, mas ainda não consigo guardar dinheiro, porque boa parte do que recebo é destinada a essa dívida. Hoje em dia eu não gasto nada além do que recebo, justamente por isso”, afirmou.
Assessora Financeira do Naskar Bank, Naila Belo esclarece que o cenário atual do desemprego, a inflação e a taxa de juros contribuem muito com o superendividamento das famílias do Brasil. Porém a especialista ressalta que por outro lado a falta de educação financeira, o uso inadequado do crédito, o consumismo desenfreado e a falta de reservas de emergência fazem com que as pessoas se endividem cada vez mais.
“Muitas vezes as famílias utilizam o cartão de crédito como um complemento de renda, e quando a fatura não é quitada integralmente, as taxas de juros são altas, o que pode fazer o valor da dívida dobrar”, explica Naila Belo.
Dicas dos especialistasDe acordo com a especialista, muitas vezes os consumidores têm dificuldade em manter em dia os impostos e os serviços básicos, e isso limita a capacidade de poupar dinheiro, os investimentos e reduz o poder de compra. Além de impactar diretamente na vida emocional do indivíduo.
A assessora financeira explica quais são os principais pontos que dificultam as famílias no gerenciamento das dívidas. “Geralmente a pessoa desconhece a própria situação financeira, e gasta mais do que ganha. Então o planejamento e o controle do orçamento acaba não existindo. Essa falta de conhecimento sobre finanças pessoais faz com que qualquer gasto emergencial resulte em um endividamento”, esclarece.
É preciso estudar e compreender as finanças pessoais, segundo a especialista. “Esses fatores são cruciais para uma boa gestão financeira. Hoje em dia a internet possibilita o acesso a diversos conteúdos, e aplicativos de qualidade totalmente gratuitos, que auxiliam nessa gestão”, informa a assessora financeira.
Também é essencial ter uma reserva de emergência, porque a qualquer momento pode acontecer algum imprevisto, complementa a profissional.