CAROLINA LINHARES, ISABELLA MENON, JOELMIR TAVARES, MARCOS HERMANSON E CATIA SEABRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) se enfrentaram em torno de temas como segurança e concessões e trocaram acusações sobre suspeitas de corrupção e mentiras no debate da TV Globo, o último antes do segundo turno, nesta sexta-feira (25).
Os padrinhos Jair Bolsonaro (PL), de Nunes, e Lula (PT), de Boulos, também foram explorados pelos candidatos.
A dois dias da votação, Nunes insistiu em rotular Boulos como radical e extremista, resgatou casos policiais envolvendo integrantes do MTST (movimento de moradia que o psolista coordenou) e usou posicionamentos do PSOL para desgastá-lo.
Boulos, por sua vez, chamou o adversário seguidas vezes de “fraco” e “sem pulso firme”, além de explorar suspeitas de corrupção e casos espinhosos do passado de Nunes. Também disse que o prefeito não admite os problemas da capital e vive na “Ricardolândia, uma cidade da fantasia”.
“Se tem um extremista nesse debate é você, que anda com Bolsonaro, que tentou golpe, desprezou vacina”, afirmou o parlamentar, que vinculou o prefeito à corrupção e à infiltração do crime organizado em contratos da prefeitura.
Ele também rememorou o caso em que Nunes deu um tiro na entrada de uma boate em Embu das Artes (SP) em 1996. O prefeito minimizou o episódio, justificando que estava apenas separando uma briga de amigos.
Nunes tentou associar Boulos à leniência com criminosos, questionando o deputado sobre não ter votado um projeto de lei na Câmara para aumentar penas para bandidos e indagando-o sobre mudanças de postura a respeito de descriminalização de drogas, desmilitarização da polícia e aborto.
“Ele não gosta da Polícia Militar, sempre votou contra o aumento de penas”, disse.
O candidato do PSOL, que argumentou não ter votado o texto porque estava em uma reunião com Lula, perguntou se o rival “está desesperado” e apontou contradição do prefeito em relação às vacinas contra a Covid, dizendo que ele mudou de ideia “ao receber o apoio do Bolsonaro” e que era “duas caras”.
O prefeito se disse durante a campanha arrependido de exigir comprovante de imunização. “Nunca mudei minha posição de nada. Você [Boulos] tomou a vacina, eu tomei a vacina, foi Bolsonaro que comprou”, afirmou Nunes. “Eu não sou um julgador do presidente [Bolsonaro]”, esquivou-se.
O deputado do PSOL, em outros momentos, afirmou que teria ajuda de Lula para financiar projetos como o Poupatempo da Saúde.
Boulos levou para discussão a privatização da Sabesp, dizendo que Nunes apoiou a iniciativa, que ele considera prejudicial, em troca de apoio eleitoral do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nunes, que repetiu fazer um governo liberal, disse que a medida levará à universalização do saneamento.
Os dois também se enfrentaram em torno da concessão dos cemitérios, atacada por Boulos sob o argumento de que impôs preços proibitivos para famílias pobres. O prefeito disse que a privatização foi adotada porque havia muita corrupção e “era um serviço mal avaliado”.
Nunes perguntou ao adversário por que ele “sempre defendeu liberação de drogas”. Boulos reiterou que é favorável à diferenciação entre traficante e usuário e repetidamente acusou o oponente de mentir para enganar o eleitor.
Boulos recorreu mais uma vez ao expediente de cobrar insistentemente se Nunes abriria seu sigilo bancário, insinuando envolvimento do prefeito em casos de corrupção como o da chamada máfia das creches, investigação da Polícia Federal que tem o emedebista como um dos citados.
“Você não respondeu por que o dinheiro caiu na sua conta [particular], e não a da sua empresa”, disse o psolista.
O emedebista não deu uma resposta objetiva. “Ele [Boulos] não sabe o que é empreender, o que é trabalhar. É muito ruim a gente querer falar da cidade e ele querer falar mentiras”, afirmou, dizendo-se estarrecido e criticando o parlamentar por “não ter ideia do que está acontecendo”.
“O que ele [Boulos] ganhou nesse segundo turno foi o recorde de 32 condenações [na Justiça Eleitoral], porque fica inventando essas mentiras”, disse Nunes, ao responder sobre o tema e citando decisões que obrigaram o deputado a retirar conteúdos do ar e conceder espaço para direitos de resposta.
O deputado falou que, ao insinuar que ele não trabalha, o prefeito ofende todos os professores.
Para se credenciar, Boulos citou outros aliados além de Lula, como Marta Suplicy (PT), sua vice, e Tabata Amaral (PSB), que declarou voto nele apesar de não ter feito campanha. O deputado do PSOL questionou se Nunes, que tinha Marta em seu secretariado até ela deixar a gestão, em janeiro, para ser vice, achava o governo da petista ruim.
Nunes, então, lembrou o voto de Marta, então senadora, a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT). “Você poderia perguntar como ela liderou o processo de impeachment da Dilma Rousseff”, disse o prefeito.
No debate era permitido que os dois circulassem pelo cenário, que tinha um mapa da cidade projetado no chão, onde ambos apontaram regiões durante as falas. As interações tiveram momentos de provocações. Nunes pediu a Boulos que não “invadisse” seu espaço e pediu licença para se movimentar.
Num momento em que se aproximaram, o deputado disse ao prefeito: “‘Não me interrompa, Ricardo, respeite as regras”. Em outro, após o prefeito tossir e andar rumo ao púlpito, falou: “Pode ir lá, meu caro, acho que você está precisando de água mesmo, está gaguejando um pouquinho”.
O mediador do debate, César Tralli, repreendeu Nunes em dois momentos, pedindo que ele escondesse o número de urna, que estava impresso no verso de papéis que ele segurava, e depois quando o prefeito quis usar o celular para ler dados -candidatos eram proibidos de usar o aparelho no estúdio.
“Diferente dele, eu sei andar de bicicleta sem rodinha, então não preciso ficar lendo as coisas”, ironizou Boulos. “Uma rodinha é o Tarcísio e a outra, o Bolsonaro. Se não tiver, ele cai.”
Boulos usou o debate para repetir que o prefeito já “teve a chance dele e não fez”, além de apelar aos eleitores que votem com esperança e não ouçam “o jogo de botar medo nas pessoas”, especialmente em razão das falas sobre segurança.
“Ele [Nunes] quer que você tenha medo na hora de votar, ele sabe que o governo dele foi ruim”, disse o parlamentar, que alfinetou Nunes pela ausência em debates. “Eu não fujo de questão, esse não é um problema meu, e você sabe”, ironizou, completando que o prefeito faz “blá, blá, blá” e não responde.
Nunes afirmou que o rival só queria atacar. “Radicalismo e extremismo não vão permitir ele chegar a lugar nenhum porque ninguém vai querer isso para a cidade. Precisa ter equilíbrio e experiência para tocar uma cidade de 12 milhões de pessoas”, declarou o prefeito.
Segundo pesquisa Datafolha desta quinta-feira (24), Nunes tem 49% das intenções de voto, ante 35% de Boulos. O debate da Globo, a dois dias da votação, foi o terceiro com a presença dos dois neste segundo turno, já que o prefeito evitou ir a outros programas, o que foi explorado negativamente pelo rival.