InícioEntretenimentoCelebridade‘O adeus traz a esperança escondida’

‘O adeus traz a esperança escondida’

Estou parecendo viúva. Meus amigos mandando mensagens e ligando. Rita Lee me fez ter guitarra em 1975, presente de 15 anos. A vizinhança enlouquecia com o som alto e a voz daquela adolescente berrando em roquenrol, idioma novo por aqui. Choro a cada mensagem. Até minha mãe, 92 anos, ligou para me confortar, não sem pedir, com seu humor único, que guardasse as lágrimas para ela. Toc toc toc.

Se sofria muito, Rita precisava descansar. Até porque, aqui na Terra, fez o que a maioria faria em duas vidas. As rádios nos anos 1970 transmitiam músicas de novela, algo de MPB e sucessos norte-americanos. De repente, começamos a ouvir, em todos os lugares, pessoas querendo saber quem era aquele tal de Roquenrol. Tirada dos Mutantes, Rita Lee Jones invadia as rádios nacionais com o disco Fruto Proibido, que todo mundo experimentou e gostou. Nunca mais a música brasileira seria a mesma.

Veio, ainda nos 70, fazer o show do disco no Teatro Castro Alves. Às vésperas, o finado Jornal da Bahia publicou uma foto sua na capa, dizendo que ela tinha sido presa por porte de drogas, mas que faria o show. Sarcástica, Rita entrou no palco tascando fogo no jornal, com uma lata de lixo na mão, onde depositou as cinzas, e disse ter composto uma música para o periódico: Departamento de Criação (mas que falta de imaginação, eu não, meu departamento é de criação). 

Ela era assim. De todo limão, fazia limonada. Logo depois, grávida, foi presa novamente por drogas. Lançou um compacto simples e estampou na capa a roupa de presidiária. O maior petardo, no entanto, era a faixa Arrombou a Festa: “Ai, ai, meu Deus, o que foi que aconteceu/ Com a música popular brasileira?/ Todos falam sério, todos eles levam a sério/ Mas esse sério me parece brincadeira”.

Essas loucuras todas – drogas de todo tipo, ironias, romances descaradamente gostosos (“me deixa de quatro no ato”) se davam em plena ditadura. E Rita se lixava. Em Cor de Rosa Choque, a tesoura cortou o verso “Mulher é bicho esquisito/ Todo mês sangra”. Num show em Brasília, após vários vetos feitos pela poderosa censora Solange Hernandes, Rita metralhou, sem medos: “Dona Solange, a senhora não conhece Modess?”, referindo-se ao único absorvente higiênico da época. 

Esta é a Rita Lee que amei, amo e amarei. Que me fez amar o rock e o pop, vindo com Roberto de Carvalho, parceiro espetacular durante todas essas subidas e descidas do inferno ao estrelato. Rita era feminista por essência, sem precisar militar. Tocava sintetizador, flauta, guitarra, violão, vestia o que quisesse, falava o que viesse à cabeça, encarnava personagens que criava. Conseguiu fazer um monte de gente feliz. E tentou ensinar a se conviver com a tristeza, em Cartão Postal: “Pra que sofrer com despedida?/ (…) O adeus traz a esperança escondida/ Pra que sofrer”. Rita Lee viverá sempre em mim!!!

Isabela Larangeira é jornalista
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores

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