Há um ano, Luís Inácio Lula da Silva prometia “cuidar” das pessoas e “reconstruir o país” depois de “anos de devastação”. A esperança, para os que deixaram o Brasil durante a presidência de Jair Bolsonaro e para muitos que ficaram, foi imediata.
Ao fim dos primeiros dias, com a invasão da Praça dos Três Poderes, em Brasília, percebeu-se que o regresso não seria um passeio no parque. A fasquia estava alta para um Presidente que passou 580 dias na prisão, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e que indirectamente abrira espaço à ascensão de um político populista.
Mas Bolsonaro foi-se eclipsando à medida que os meses passaram, muito fustigado por processos e decisões judiciais que acabaram por colocá-lo num pousio forçado de oito anos, durante os quais estará impedido de concorrer ao Palácio do Planalto ou a outros cargos políticos. O que não se eclipsou foi o bolsonarismo, que continua vivo e tem ambições.
Isso significa que as divisões numa sociedade que estava excessivamente polarizada não foram ultrapassadas neste último ano, mas também não impediram o Governo de Lula de obter algumas vitórias políticas. A recente reforma tributária, o “arcabouço fiscal” e a consequente subida do rating da dívida brasileira foram boas notícias que o Presidente pode agradecer a Fernando Haddad, o seu ministro das Finanças.
As más (notícias), que também as houve, Lula pode agradecê-las a si próprio. As que tiveram maior repercussão recordam-se através de duas frases do próprio: 1) “Posso dizer que se eu for Presidente do Brasil e ele [Vladimir Putin] vier ao Brasil, não há nenhuma razão para ele ser preso” (proferida após a emissão de um mandado de captura internacional em nome de Putin) e 2) “É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz” (dita no final de uma visita à China).
As posições sobre a Ucrânia, que Lula da Silva se esforçou por explicar e normalizar, tiveram efeitos até em Portugal, ofuscando as celebrações do 49.º aniversário do 25 de Abril, que coincidiram com a visita do chefe de Estado a Lisboa — quem não recorda o espectáculo dos deputados do Chega a interromperem o Presidente brasileiro a cada oportunidade?
Um ano depois do regresso de Lula, o mundo fará balanços e avaliações, lembrará as conquistas e as derrotas, as promessas cumpridas e as que ficaram no papel. E o Brasil, esse, será cada vez mais o país que esquece Bolsonaro, pouco a pouco
(Transcrito do PÚBLICO)