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O povo ucraniano não tem importância para Lula. Não há judeu no meio

Na sua ignorância, Lula é como Jair Bolsonaro. Mas, como é de esquerda e tem passado — longínquo — de proletário, isso lhe dá imunidade para dizer absurdos.

Na expedição antropológica que Emmanuel Macron fez ao Brasil — não se enganem, meninos, continuamos exóticos para os europeus ocidentais, assim como os tupinambás da época do meu amigo Montaigne —, Lula foi outra vez sincero sobre a guerra na Ucrânia.

Na presença de um Emmanuel Macron constrangido (o presidente francês admitiu a possibilidade de enviar tropas à Ucrânia), ele afirmou que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o autocrata russo Vladimir Putin são “dois bicudos que vão ter que se entender”. Ou seja, Lula continua a igualar agredidos e agressores. Mas o fim da guerra não tem a menor urgência, visto que “estou a tantos mil quilômetros de distância da Ucrânia, que não sou obrigado a ter o mesmo nervosismo que tem o povo francês, que está mais próximo, o povo alemão, o povo europeu”.

Ilustrativo o verbo na primeira pessoa — “estou”. É o reconhecimento, finalmente, de que Lula não cultiva o princípio de impessoalidade no exercício da presidência da República. E o fato de a Ucrânia estar longe do Brasil é motivo suficiente para ele não se preocupar tanto assim com a morte de milhares de ucranianos ultrajados na sua soberania. 

Aparentemente, as únicas mortes a tantos mil quilômetros de distância que importam para o presidente brasileiro são as de palestinos, porque quem os matam são judeus — e judeus, sabe como é, não podem reagir a ataques e ter país próprio.

Lula iguala agredidos e agressores, mas acha que Vladimir Putin é melhor do que Volodymyr Zelensky. Na cabeça enevoada do presidente brasileiro, o presidente ucraniano deveria sentar-se à mesa de um bar e, depois de umas brejas, ceder 20% do território do país invadido pelos russos ao inimigo que é só um amigo chateado com a teimosia da Ucrânia.

Lula também não vê nada demais em convidar Vladimir Putin para a cúpula do G20, no Rio de Janeiro. O sujeito é acusado de ter cometido crimes de guerra e há um mandado de prisão expedido contra ele pelo Tribunal Penal Internacional.

“Conheci o Putin no G-7, no G-20, na ONU. Nós fazemos partes de várias organizações internacionais que você tem a participação heterogênea de muitos países, muita gente que você não concorda, mas faz parte”, argumentou Lula. “Faz parte do processo democrático conviver democraticamente na adversidade. Não são fóruns de iguais, são de Estados, de países, e temos de respeitar o direito de cada um fazer o que quer no seu país, criticando o que não concorda”, disse o presidente brasileiro.

Vladimir Putin poderia, portanto, vir ao Brasil sem ser preso, se fosse apenas pela vontade de Lula. Afinal de contas, há de se “respeitar o direito de cada um fazer o que quer no seu país”.

Eu só gostaria de entender essa frase do presidente brasileiro. Lula se referiu ao regime de terror a que Vladimir Putin submete os compatriotas russos ou tem a convicção de que a Ucrânia inteira é parte da Rússia e, assim, o autocrata goza do direito de fazer também o que quiser no país que invadiu? É uma pergunta que teria de ser feita a Lula, se ainda houvesse jornalistas dispostos a lhe fazer perguntas de verdade.

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