A eleição presidencial de 2026 começou com o fim da apuração dos votos que elegeram este ano prefeitos e vereadores. Só ganhará maior tração nos próximos meses se Lula não se recuperar plenamente da cirurgia intracraniana a que se submeteu ontem no Hospital Sírio-Libanês. Não é, porém, o que preveem os médicos.
Da vez anterior, há 51 dias, ao se acidentar tomando banho e bater forte com a cabeça no chão, Lula foi tratado na unidade do Sírio em Brasília. Seria desaconselhável voar a São Paulo. E, de resto, sua situação não era tão grave assim. A equipe médica comandada por Dr. Roberto Kalil foi ao seu encontro.
Desta vez, não. Por quatro dias, ele suportou intensas dores na cabeça, sempre se negando a acionar os médicos. Quando o fez, uma tomografia feita por precaução no Sírio de Brasília detectou um sangramento interno na cabeça. Lula embarcou para São Paulo consciente, mas com distúrbios na fala. Poderia ser um AVC.
“Lula não teve nenhuma lesão cerebral, não tem nenhum risco cerebral”, concluiu Dr. Kalil. Se tudo correr como se imagina, Lula deixará a UTI daqui a dois dias e irá para um apartamento do hospital, podendo retornar a Brasília no início da próxima semana. Daí porque, a princípio, não precisará se licenciar do cargo.
A sucessão de Lula está em todas as bocas dos apressados em especular sobre o futuro. Se por qualquer motivo ele decidisse não se candidatar à reeleição, quem apoiaria? Geraldo Alckmin (PSB), o vice-presidente? Fernando Haddad (PT), o ministro da Fazenda? Camilo Santana (PT), o ministro da Educação? Outro nome?
Alckmin é o nome mais citado, embora aos cochichos porque ninguém se arrisca a cair no desagrado de Lula. Haddad poderia ser o vice de Alckmin porque de outro nome de peso não dispõe o PT. No passado, a política já se fez com maior elegância e respeito pelas pessoas. Anote: Lula não é de se render diante de desafios.
Venceu o desafio da pobreza, o da ascensão como líder sindical, o da fundação do partido mais longevo da história, e o desafio de vir a ser o primeiro e o único trabalhador a pegar no pesado que até aqui se elegeu presidente – não uma ou duas vezes, mas três. Sem falar que, uma vez preso, venceu o desafio do esquecimento.
O roteirista do filme “Brasil” continua surpreendendo quem pensa que já viu tudo. Getúlio Vargas foi um ditador que voltou ao poder eleito e que se matou para não cair; Jânio Quadros, um fenômeno eleitoral que renunciou ao cargo para voltar mais forte – não voltou; Tancredo Neves se elegeu, mas morreu sem tomar posse.
Fernando Collor disse dispor de uma só bala contra a inflação – disparou-a, ela errou o alvo e ele foi impichado por corrupção, mas não preso; está para ser, novamente por corrupção, condenado pelo Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro é carta fora do baralho. Lula segue vivo e como dono inconteste da mesa de apostas.