O carioca Paulo César Batista de Faria, conhecido como Paulinho da Viola, que nasceu em 12 de novembro de 1942, fecha o ciclo em 2022 dos gigantes da música popular brasileira que comemoram 80 anos. Primeiro foi Gilberto Gil em junho, Caetano Veloso em agosto, Milton Nascimento em outubro e agora o mestre do samba. Feliz do país que pode contar com artistas dessa grandeza que chegam às oito décadas em plena atividade como se o tempo fosse eterno aliado deles.
Mais tímido e reservado dos quatro octogenários, Paulinho sempre foi admirado pela qualidade musical de sua obra, pela elegância no trato com a platéia e com os colegas. Portelense de coração, lançou álbuns que se tornaram referencia na nossa música e sempre esteve presente nos grandes momentos da MPB a exemplo dos festivais que marcaram muito os anos 1960.
Para a data não passar sem celebração, ele vai reunir a família e sobe no palco da casa de shows Qualistage no Rio de Janeiro no dia 11 (véspera do aniversário) ao lado de companheiros de banda históricos como Celsinho Silva (pandeiro e voz) e Hércules (percussão), além dos filhos João Rabello e Beatriz Rabello. Esse show deve percorrer o Brasil. Mas, as comemorações começaram antes. A gravadora Biscoito Fino lançou, em formato físico e também nas plataformas de streaming, o álbum Choro Negro – Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola.
Filho mais velho do violonista Benedito Cesar Ramos de Faria integrante da primeira formação do grupo de choro Época de Ouro, Paulinho cresceu ao lado de bambas. Mas, foi em 1963 quando o compositor Hermínio Bello de Carvalho o levou para conhecer o famoso Zicartola, bar e restaurante fundado por Cartola e Dona Zica, um reduto de sambistas, chorões artistas, intelectuais e jornalistas que o jovem Paulinho foi incentivado por Ze Ketti a cantar suas próprias músicas.
A partir de então ele começou a crescer musicalmente, participou do musical “Rosa de Ouro”, montado por Kléber Santos e Hermínio Bello de Carvalho, que marcou o retorno da cantora Araci Cortes e lançou Clementina de Jesus em 1965. Dai por diante ele foi parceiro de grandes sambistas como Cartola, Elton Medeiros, Candeia e o sucesso chegou com clássicos a exemplo de Foi um Rio que passou em minha vida, Coração Leviano, Pecado Capital entre outras.
Assim como outros grandes artistas brasileiros, Paulinho da Viola também tem relações estreitas com a Bahia e os baianos. Sempre ele está se apresentando em Salvador (teve aqui com os filhos, com Marisa Monte) e foi presença marcante durante três edições do Dia do Samba comemorado dia 2 de dezembro. Evento organizado pelo cantor e compositor Edil Pacheco. Ele também foi amigo dos saudosos Batatinha e Ederaldo Gentil. Com o poeta tropicalista José Carlos Capinan, Paulinho tem algumas canções como “Sofrer” e “O Acaso não tem pressa”
Mas quem tem uma boa história sobre Paulinho é justamente Edil. Em conversa com o Baú, Pacheco como os chamam os amigos mais íntimos, comentou que tem um tempo esteve na casa de Capinan numa noitada animada. Quando o anfitrião precisou ir na cozinha, ele viu uma letra escrita num pedaço de papel em cima da mesa. Achou legal pegou o papel e colocou no bolso. Capinan retornou e ele ficou calado.
No caminho para casa, Edil fez um samba em cima da letra. Em seguida ligou para Capinam e comentou que tinha visto um papel com uma letra. Capinan respondeu que ele tinha escrito e mandaria para Paulinho da Viola musicar. Com a consciência doendo, Edil revelou: eu peguei a letra e fiz uma música. Então resolveram mandar para Paulinho que comentou: se eu fosse musicar faria do mesmo jeito. A música se chama Meu Coração Sabe Gostar e Paulinho prometeu que quando voltar a gravar colocará no repertório.