Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) 07 de dezembro de 2023 | 14:43
Integrantes da facção criminosa PCC fizeram pesquisas sobre os endereços em Brasília dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com o objetivo de realizar uma missão, afirmam relatórios de inteligência do Ministério Público de São Paulo e da Polícia Federal.
A descoberta sobre o levantamento dos endereços foi feita pela PF durante a investigação sobre o plano da maior facção criminosa do Brasil para sequestrar o senador Sergio Moro (União Brasil-PR).
Além de levantar a localização das residências oficiais dos chefes do Congresso, o PCC também enviou um seleto grupo de integrantes da facção para Brasília com o objetivo de por em prática a missão, afirma o Ministério Público.
Ao analisar o celular apreendido com um dos alvos da investigação, os analistas da PF encontraram fotos aéreas das residências oficiais de Lira e Pacheco, com comentários sobre os imóveis. Nos relatórios de investigação não é mencionado qual seria exatamente a missão a ser executada.
As imagens, diz o relatório do MP-SP, foram capturadas na internet no dia 29 de novembro de 2022. Elas integram material da Folha sobre as residências oficiais das presidências da Câmara e do Senado, publicado por ocasião das eleições para o comando do Congresso.
Em março de 2023, a PF deflagrou a operação Sequaz, que desarticulou o plano contra o ex-juiz da Lava Jato.
“Após a quebra de sigilo de celulares apreendidos, encontrou imagens, com comentários, capturadas na internet no dia 29/11/2022 pelos criminosos que compunham a célula Restrita [espécie de grupo de elite criado para “situações diferenciadas”] do PCC, das residências oficiais dos Presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados”, diz o documento.
Também foram encontrados registros no celular de pesquisa do site Trovit sobre imóveis para compra na Península dos Ministros, no Lago Sul —região de Brasília onde ficam as residências dos chefes do Legislativo.
Para os investigadores do MP-SP, esses indicativos “demonstram que houve determinação da cúpula para que esse setor do PCC, a célula Restrita, realizasse esses levantamentos das referidas autoridades da República”.
O relatório do MP-SP também afirma que em 9 de maio deste ano, dois meses após a operação que mirou Moro, Janeferson Gomes, o Nefo, apontado como chefe da célula Restrita até então, acionou outros integrantes do PCC para a ação.
Após ser preso pela suposta organização do atentado contra Moro, Nefo passou a destacar ao menos quatro faccionados para a missão em Brasília: Sandro Olimpio, conhecido como Cizão, Matheus, Felipe e Neymar, cujos nomes completos os investigadores não conseguiram identificar até a produção dos relatórios.
Anotações sobre a prestação de contas do grupo levantadas pelo MP-SP em Presidente Prudente mostram que em maio, junho e julho de 2023 a célula criada para a “missão em Brasília” gastou R$ 2,5 mil por mês com o aluguel na capital federal.
O imóvel —os relatórios não apontam a localização— seria utilizado como base de apoio para os integrantes do PCC.
Os registros também indicam o gasto do grupo com Uber utilizado por 15 dias para “correr atrás de terreno para compra”.
Com base nas anotações, o MP-SP afirma que em dois meses a célula gastou cerca de R$ 44 mil para a compra de “aparelhos celulares, aluguel de imóvel, transporte, seguro, IPTU, alimentação, hospedagem, mobília do imóvel, compra de eletroeletrônicos, etc.”
“É possível verificar ainda que o dinheiro gasto com a missão estava sendo fornecido pela FM Baixada, célula que gerencia os pontos de venda de droga da organização no litoral paulista e Vale do Paraíba”, diz trecho do documento.
O relatório do MP-SP também atrela a Nefo, responsável pelo plano contra Sergio Moro, o acesso a informações sobre o funcionamento da célula Restrita.
Segundo o MP-SP, o grupo foi criado “para atuar em situações diferenciadas, de alto grau de sigilo e risco, normalmente a partir de ordens emanadas de líderes da facção paulista que estão isolados nas penitenciárias federais”.
O documento afirma ainda que as ações desenvolvidas por essa célula costumam ser “extremamente graves e de grande repercussão nacional, normalmente ligadas à atentados contra autoridades e servidores graduados, não só das forças de segurança, mas também do Ministério Público e dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do país.”
No início de novembro, a Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, mudou protocolo de transferência de presos após a descoberta de um possível plano para libertar Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder do PCC, que está na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Brasília.
O grupo seleto de integrantes do PCC teria surgido em 2014, após a facção estabelecer uma aliança com a guerrilha paraguaia denominada EPP (Exército do Povo Paraguaio).
“Um dos pontos estabelecidos nessa aliança, estava o treinamento de integrantes do PCC pelo grupo guerrilheiro paraguaio, na qual incluía-se a prática de tiro, conhecimento e emprego de explosivos, táticas e posturas adequadas para a guerra, objetivando qualificar alguns de seus homens para integrar grupos de elite, que seriam empregados em missões específicas, pontuais e que necessitavam de resposta de morte”.
O planejamento de atentados pelo PCC, diz o MP-SP, tem como pano de fundo a proibição de visitas íntimas nos presídios federais, onde estão detidos a maioria de suas lideranças.
Como a proibição tem sido mantida há anos, afirmam os promotores, a facção tem optado por planos para tentativas de resgate dos líderes e por atentados.
“A liderança do PCC, durante esses 30 anos de sua existência, sempre optou por ações violentas preconizando o terror contra o Estado, quando se procurou impor limites aos seus objetivos criminosos, como ocorreu por exemplo nos atentados de maio de 2006 em São Paulo”, afirma o relatório do MP-SP.
Ranier Bragon e Fabio Serapião, Folhapress