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‘Peixe fora d’água’: jovens contam como é ser demissexual em Salvador

“Mil voltas e voltas que dei, querendo de uma vez encontrar alguém que levasse a sério amar”. A música da banda Eva, “Beleza Rara”, poderia traduzir o sentimento dos demissexuais que moram em Salvador, capital do Carnaval e que passa uma imagem de pegação e amor livre.

Mas o que é demissexual? O termo rapidamente se tornou o centro de discussões nas redes sociais após a cantora Iza, de 32 anos, revelar que não sente vontade de ter relações sexuais com outras pessoas se não houver uma interação emocional ou intelectual. No podcast Quem Pode, Pod, exibido no YouTube, a famosa deixou claro que sexo é algo muito importante para acontecer de forma ‘banal’. 

O que é ser demissexual?

De acordo com o psicólogo e sexólogo Jeová Batista, a demissexualidade é quando alguém só consegue ter vínculo com uma outra pessoa a partir de uma conexão mais forte, que envolve sentimento e emoção. Esse comprometimento seria um requisito para que alguém se relacione fisicamente com o outro. 

Atualmente, para o sexólogo, as questões eróticas e sobre sexo estão mais afloradas, mas “sempre foi normal a gente basear a nossa relação com afeto, com vínculo. Mas também, as relações mais fluidas, sem esse compromisso, também já existiam”. Muitas pessoas não conseguem compreender o que é demissexualidade e acreditam que estão “fora do padrão”.

“Pessoas vêm ao consultório porque acham que estão fora do padrão. A gente precisa entender que algumas pessoas vão, sim, ficar tranquilas e se envolver com pessoas sem precisar, necessariamente, ter sentimento, mas outros, não”, explica. 

Mas como os soteropolitanos demissexuais se comportam na “cidade desapegada”?

A designer gráfica Nara Conceição já tinha percebido que não era como as amigas desde a adolescência. A jovem sempre achava estranho quando as outras sentiam vontade de beijar alguém sem nunca ter falado com a pessoa, apenas por conta de uma atração física. Em se tratando de Salvador, avalia, a situação é ainda mais peculiar. 

“Eu só tinha vontade de beijar alguém quando estava apaixonada e gostando de verdade da pessoa, o que levava muito tempo. Aqui [em Salvador] é muito forte a cultura de ficar, beijar, flertar. Todo mundo é muito caloroso. Sempre me senti um peixe fora d’água, principalmente em locais com esse apelo, como no Carnaval, por exemplo, em que muita gente vai para ficar com outras pessoas”, comentou. 

Nara ainda complementou que muitas pessoas acreditam que sua orientação sexual é “besteira”, mas que a diferença é justamente na forma como ela observa as relações afetivas.

“Para muita gente pode parecer besteira porque todo mundo sente atração por quem está apaixonado, né? Mas a questão da demissexualidade é que é exclusivamente dessa forma, eu não sinto prazer nenhum em beijar alguém (e nem algo a mais) por mais bonita e atraente a pessoa seja, se eu não estiver emocionalmente conectada com ela”.

Se a questão da demissexualidade já se mostra complicada para mulheres, para Haeckel Dias, de 24 anos, o preconceito por ser homem que se relaciona apenas com uma conexão emocional é forte. “Talvez por não entenderem do que de fato significa uma pessoa demi, a galera tende a não acreditar quando encontra uma. [Sobre relação sexual] Só irá ter um sexo decente se a conexão emocional estiver estabelecida”, explica o fotografo. 

“Em Salvador isso fica mais intenso pela cultura da galera, mas toda regra existe exceção. Como sou soteropolitano e moro aqui desde quando nasci, isso pra mim não é um real problema, apenas fica mais difícil de encontrar uma pessoa com tal perfil”.

Para Júlia Alves, 21, estudante de Relações Públicas, ter ficantes – pessoas apenas para beijar ou transar, sem envolvimento emocional -, nunca foi seu forte e ela acha estranho observar a facilidade das pessoas em se relacionar assim. A jovem entendeu, após uma longa pesquisa, que só consegue ter uma relação, de fato, quanto a amizade com a pessoa vai criando laços profundos e acabou percebendo que estava no espectro demissexual. 

“Preciso criar uma relação de admiração, intimidade e realmente conhecer a pessoa antes do relacionamento começar. Só consigo me sentir atraída por alguém quando tenho uma relação mais profunda com a pessoa. Consigo reconhecer quando uma pessoa é muito bonita ou algo assim, mas não consigo sentir atração alguma”, explicou.

Júlia ainda detalhou que ficou com alguém recentemente sem ter algum vínculo emocional e não foi um momento positivo. “Fiquei com alguém que conhecia pouco e me senti muito mal, não fez sentido pra mim. Me senti muito vazia e a experiência foi péssima”, lamentou. A estudante ainda ressaltou que a conexão emocional na relação sexual é importante para complementar o relacionamento. 

O sexólogo Jeová Batista ressalta que a sociedade precisa aprender muito com as orientações sexuais que estão em evidência e focar muito no respeito, já que a demissexualidade, pode ser mais comum do que se imagina. “A gente ainda tem muito o que caminhar naquilo no que desrespeito à sexualidade, a sociedade ainda tem muito o que aprender. Há uma intolerância, mas, em contrapartida, eu percebo que a gente precisa ter cuidado com algumas situações”. 

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