Não é só de devoção que vive a tradição da Festa de Iemanjá no dia 2 de fevereiro. Pescadores que todos os dias madrugam na Praia do Rio Vermelho aproveitam a data para fazer uma grana extra e, de quebra, ajudar os devotos da orixá a ter um contato mais íntimo com a rainha. Na areia, dezenas de barquinhos levam as pessoas para uma ida de cerca de 10 minutos no mar. Os preços variam entre R$20 e R$25.
Três turistas que chegaram de São Paulo na terça-feira (31), vieram para Salvador para cumprir uma missão muito especial. Incumbência essa que precisou ser feita em um barquinho, longe da areia e com direito a muito carinho e abraços. Há exatos um ano, no dia 2 de fevereiro de 2022, o marido de Valéria Aparecida Caratori faleceu vítima da covid-19.
Apesar de distante do Rio Vermelho, seu Ari cultuava Iemanjá de longe do mar era devoto da orixá. A viúva, em companhia da irmã, Valdereza, e da neta, Nathália, decidiram homenageá-lo vindo para a capital baiana especialmente para a Festa de Iemanjá.
Valdereza, Valéria e Nathália vieram para Salvador homenager um parente, vítima da covid-19 (Foto: Maysa Polcri/CORREIO) |
“Quando vimos o barquinho, achamos que a energia seria muito maior em alto mar. Meu avô era muito devoto e a gente imaginou que a sensação fosse ser diferente perto de Iemanjá, lá no mar”, conta Nathália Caratori, que é empresária.
Dito e feito. Longe dos barulhos da areia e com visão privilegiada para a praia, as turistas não se arrependeram de entrar no barco. Quando as três jogaram suas flores no mar, a emoção e saudades do avô falaram mais alto.
“Quando chegamos no mar, onde o barquinho parou, foi só choro. Oramos bastante e a energia de lá é muito diferente”, diz emocionada Valéria Aparecida.
Se o momento pede o intimida com Iemanjá, o pescador Antônio Jesus Rodrigues, de 80 anos, está lá. “Sou pescador no Rio Vermelho há mais de 30 anos e a gente aproveita o dia de Iemanjá para ajudar na renda. Eu sou aposentado e o salário é bem pouco”, explica. No barquinho de seu Antônio, cada pessoa paga R$10.
Desde os seus 12 anos, o pescador Raildo Nascimento, 52, sabe que as comemorações à rainha do mar podem render frutos a quem trabalha no bairro todos os dias. “No 2 de fevereiro é muita gente que vem para cá e é diferente do dia a dia, muito mais movimentado. Eu também sou devoto de Iemanjá e aproveito para fazer as minhas homenagens”, conta.
Quem voltava da volta no barquinho, dizia que o preço para ir até o mar é justo. O cabeleireiro Leandro Santos Cruz, 28, pegou o barquinho pela primeira vez e, como os turistas, confirmou que o momento no mar é diferenciado. “Fui agradecer e levar o presente à minha mãe Iemanjá. Tive um pouco de medo do mar, mas foi maravilhoso e muito lindo. Valeu muito a pena”, elogiou.
*Com a orientação de Perla Ribeiro.