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Pesquisa revela contaminação por mercúrio em 84% da população yanomami de nove aldeias em Roraima

Pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou que a contaminação por mercúrio afeta quase toda a população das nove aldeias yanomamis em Roraima. De acordo com os resultados divulgados nesta quinta-feira (4), foram examinadas 287 amostras de cabelo de indivíduos de diferentes faixas etárias, sendo que 84% apresentaram níveis de mercúrio acima de 2,0 microgramas por grama de cabelo. Em 10,8% das análises, os níveis ultrapassaram 6,0 µg/g. Nessa faixa já é obrigatória a notificação dos casos no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), através do qual são produzidas estatísticas oficiais que balizam as medidas a serem adotadas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). O estudo destaca a preocupante situação e contribui para o entendimento dos impactos do garimpo ilegal de ouro na região. A pesquisa, intitulada Impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia, contou com o apoio do Instituto Socioambiental (ISA) e envolveu duas instâncias da Fiocruz. As aldeias estudadas estão localizadas na região do Alto Rio Mucajaí e abrigam yanomamis do subgrupo ninam. “Existem metais, como o zinco, o ferro e o selênio, que têm uma importância para o organismo. Eles estão envolvidos no metabolismo do ser humano. O ferro, por exemplo, faz parte da formação da hemoglobina. Mas o mercúrio não desempenha nenhum papel no metabolismo humano. Por isso, ele é considerado um contaminante químico. E a ciência vem desde os anos 1950 acumulando evidências sobre seus efeitos deletérios para a saúde”, explica Paulo Basta, pesquisador da Fiocruz.

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Segundo o pesquisador, a presença de mercúrio no organismo pode afetar qualquer local do corpo humano e qualquer órgão. Há relatos de danos, por exemplo, aos rins, ao fígado e ao sistema cardiovascular, gerando aumento da pressão arterial e risco de infarto. Mas o maior afetado geralmente é o sistema nervoso central. Basta observa que os sintomas geralmente começam brandos e evoluem e que, muitas vezes, há dificuldade para reconhecer que eles estão associados à exposição ao mercúrio. “No cérebro, ele provoca lesões definitivas, irreversíveis. Adultos submetidos à exposição crônica podem ter alterações sensitivas que envolvem alterações na sensibilidade das mãos e dos pés, na audição, no paladar. Pode envolver também insônia e ansiedade. Também pode haver alterações motoras, que incluem problemas de tontura, de equilíbrio, de marcha. Pode ter sintomas semelhantes à Síndrome de Parkinson. E há também alterações cognitivas, incluindo perda de memória, dificuldade de articulação de raciocínio. Pode chegar a um quadro similar ao da doença de Alzheimer”, diz o pesquisador. Ele observa, porém, que os mais vulneráveis são crianças e mulheres idade fértil, sobretudo gestantes. O mercúrio pode gerar má formação do feto e até levar ao aborto. Já as crianças podem apresentar problemas no desenvolvimento motor e no aprendizado. Os pesquisadores chegaram a realizar um teste de coeficiente de inteligência envolvendo 58 crianças. Os pesquisadores destacam a necessidade de atenção especial a essa parcela da população, principalmente aos indígenas que vivem próximos aos garimpos ilegais. A presença do garimpo ilegal na Terra Yanomami, maior reserva indígena do país, é um problema antigo. O mercúrio utilizado no processo de extração do ouro acaba sendo despejado nos rios, contaminando a cadeia alimentar. O avanço do garimpo ilegal tem sido associado a problemas como desnutrição e aumento de doenças, como a malária, entre as populações yanomamis.

Publicado por Heverton Nascimento

*Reportagem produzida com auxílio de IA

 

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