Medida ocorreu por determinação do ministro da Justiça, Flávio Dino; MP de Goiás apontou a existência de uma organização que cooptava atletas de futebol para combinar jogadas e faturar com palpites
FREDERICO BRASIL/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO
Vista da sede da Polícia Federal, em Brasília; órgão irá investigar possível esquema de manipulação de resultados esportivos através de apostas on-line
Por determinação do ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), a Polícia Federal (PF) abriu um inquérito nesta quarta-feira, 10, e irá investigar a existência de uma possível organização que manipulava resultados esportivos. Segundo o chefe da pasta ministerial, a medida se baseia nos indícios de adulteração em competições de futebol que recentemente tiveram “repercussão interestadual e até internacional”. A decisão do político baseia-se na denúncia apresentada pelo Ministério Público de Goiás, obtida pelo site da Jovem Pan teve acesso, e que baseou a Operação “Penalidade Máxima”. As investigações, conduzidas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-GO, indicam que os apostadores cooptava jogadores para combinar ações em campo e faturar com palpites em sites especializados. Em um dos casos, um dos investigados combinou com um atleta para que este cometesse uma falta e tomasse um cartão amarelo. Após a combinação, o apostador aplicava o dinheiro em um site de aposta com o palpite de que o jogador corrompido seria advertido com um cartão amarelo. Com a concretização do evento combinado, o apostador multiplicava o dinheiro aplicado e repassava parte dos lucros para os atletas.
De acordo com informações apresentadas pelos investigadores, cerca de 100 atletas podem estar envolvidos. Destes 16 já foram denunciados pelo poder público. Para os atletas que aceitavam participar da prática ilegal de combinação de lances nas partidas, havia uma remuneração que variava entre R$ 40 mil a R$ 100 mil. Os investigadores tiveram acesso a uma planilha que inclui os nomes dos seguintes nomes: Vitor Mendes; Nino Paraíba; Paulo Miranda; Realpe; Jesus Trindade; Max Alves, ex-Flamengo; Eduardo Bauermann, ex-América-MG e hoje no Santos; Richard, do Cruzeiro. Além destes atletas, há a suspeita de manipulação nas partidas das Séries A e B do Campeonato Brasileiro de 2022 e de competições estaduais deste ano. De acordo com o MP de Goiás, as apostas foram alocadas nos sites Bet365 e Betano, com ações combinadas em São Paulo, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, entre outros.
Ao longo da quarta-feira, 10, os clubes anunciaram o afastamento de vários jogadores, o que levantou uma discussão sobre a possibilidade de o Campeonato Brasileiro, que teve apenas cinco das 38 rodadas disputadas, ser paralisado. Em comunicado oficial, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), entidade máxima do futebol nacional, descartou a hipótese. “Mais uma vez, a entidade reforça que o campeonato não será suspenso, mas defende que a punição de atletas e demais participantes do esquema de fraudes aconteça de forma veemente”, diz um trecho do documento. O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, também se manifestou sobre o caso, afirmando que “quem comete crimes não deve fazer parte do futebol brasileiro e mundial”. “Venho trabalhando em conjunto com a Fifa, demais entidades internacionais, além de clubes e Federações brasileiros, com o intuito de combater todo e qualquer tipo de crime, fraude ou ilícito dentro do futebol. Defendo a suspensão preventiva baseada em suspeitas concretas e até o banimento do esporte em casos comprovados”, assinalou. Ednaldo enviou ofício à Presidência da República e ao Ministério da Justiça, solicitando que a Polícia Federal entre no caso, com o objetivo de centralizar todas as informações a respeito dos casos em investigação. A CBF concluiu dizendo que “estará à disposição para dar todo o apoio necessário”.