Nesta quinta-feira (31), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou a taxa de desemprego terminada no trimestre móvel de setembro. Na passagem de agosto para setembro, o desemprego recuou de 6,6% para 6,4%, abaixo do consenso de mercado (6,5%). Para este período, é a menor taxa da série histórica iniciada em 2012. Considerando-se todos os meses, é a segunda melhor taxa, perdendo apenas para dezembro de 2013 – recorde da série histórica (6,3%). No entanto, a queda no desemprego – notícia positiva -, parece não refletir a realidade dos brasileiros. Há uma percepção de que a economia não vai tão bem, e o dinheiro não consegue comprar a mesma quantidade de produtos de outrora. Como explicar essa aparente contradição?
A primeira hipótese é que a perda de renda do brasileiro na última década foi brutal. Os anos de 2015 e 2016 foram marcados pela maior crise econômica brasileira da história – duas quedas consecutivas do PIB próximas de 3,5% (magnitude de pandemia), inflação elevada e rápido aumento do desemprego. Depois, veio a greve dos caminhoneiros, que tirou 0,8 p.p. de crescimento do PIB. Por fim, a pandemia de Covid-19, com suas graves consequências para a economia. Todas essas crises machucaram muito o bolso do brasileiro, de tal modo que a recuperação do emprego ainda insuficiente para repor toda a renda perdida durante esses anos.
Outra hipótese para insatisfação da população é a volta da inflação. O IPCA ronda na casa de 4,5%. No entanto, o índice é uma média geral da alta dos preços, não refletindo necessariamente a inflação individual de cada pessoa. Para alguns indivíduos, dependendo da composição do orçamento, essa inflação pode ser muito superior a 4,5%. Inflação mais alta significa perda do poder de compra, mesmo com a recuperação no mercado de trabalho. Além da inflação, outro motivo capaz de explicar o descolamento entre melhora no mercado de trabalho e insatisfação da população é a possiblidade da queda do desemprego não ocorrer em todos os segmentos da sociedade.
Independentemente das causas da insatisfação, a situação atual lembra muito a do governo Dilma. Naquela época, mesmo com o recorde histórico de desemprego, havia um clima de descontentamento geral na sociedade, que resultou nas manifestações de 2013. Se o mercado de trabalho estava tão bom, então por que milhares de brasileiros saíram às ruas para protestar?
Como venho apontando nesta coluna, há várias semelhanças do atual governo com a gestão Dilma, principalmente pela política fiscal expansionista (aumento de gasto público). Lá atrás, a farra fiscal de 2011 a 2014 elevou rapidamente a taxa de desemprego em 2015. Até agora as sinalizações (gasto e endividamento) mostram que a história pode se repetir, e a taxa atual taxa de desemprego não se sustentar, infelizmente.