Com o objetivo de desconstruir preconceitos contra o candomblé, foi realizado o terceiro encontro do “Samba no Terreiro”. O movimento da casa Ilê Axé Tumbi Oji Odé reúne duas vezes ao mês bandas que fortalecem o samba de roda, trazendo elementos ligados aos orixás e caboclos. O grupo feminino e candomblecista “Samba Ohana” animou a tarde deste domingo dos visitantes do terreiro em Cajazeiras, com músicas que retratam a ancestralidade africana.
O babalorixá Deilton Gomes conta que o projeto teve início em 2008, mas fez uma pausa em 2013 devido a questões administrativas. A retomada foi em abril deste ano e veio com um novo planejamento. “Tem a rota da pedra de Xangô, essa foi a ideia desse recomeço. Com a rota você vai visitar a pedra e dá uma passada aqui. A ideia não é mais pegar o público de Cajazeiras e sim as pessoas que vêm visitar a pedra de Xangô e dar uma passada no terreiro. [Assim podem] aproveitar para almoçar e ouvir um som de qualidade”, explica.
Foto: Marina Silva/ CORREIO |
O evento é aberto a sambistas, capoeiristas, candomblecistas e simpatizantes. A entrada e alimentação são cobradas para pagar contas de luz e água do terreiro, assim como monetizar o trabalho das cozinheiras. O amalá com carne, especiaria da casa, mocotó e feijoada são alguns dos pratos servidos. O babalorixá lembra que são comidas típicas da senzala. Por isso foram escolhidas pelo terreiro.
“O projeto abre um leque para as pessoas entenderem a religião de forma diferente”, diz a candomblecista do terreiro Ilè Asé Obá Ojó e analista financeiro Maiara Cerqueira.
O “Samba no Terreiro” já trouxe artistas como Nelson Rufino, Bambeia, Gal do Beco, Gang do Samba, Fé no Batuque, Acima da Média e Segura o Tombo. “As pessoas saíam do centro para vir, eram bandas que estavam no auge em Salvador”, destaca Gomes.
Com todas as integrantes da banda sendo do candomblé, a apresentação foi a mistura de cantigas de caboclo com samba de roda. “Os nomes que passaram por aqui deixaram o chão preparado para a gente também estar pisando aqui. É muito gratificante o espaço que estamos recebendo e o convite feito pelo pai Deilton”, agradece a produtora Roseane Araújo.
“Todo show pra a gente é uma alegria diferente. Só que, quando a gente toca na nossa raiz, a alegria é um pouco mais especial”, afirma a vocalista da banda, Marcela Dórea
Para os organizadores do evento, o objetivo é desmistificar o candomblé para as pessoas. Por haver preconceito contra os praticantes da religião, a iniciativa busca mostrar que o terreiro é um local familiar. Aniversários, batizados e eventos da comunidade são bem-vindos no Ilê Axé Tumbi Oji Odé. Segundo o babalorixá, tudo é feito com a energia de Exu.
“[A iniciativa] começou com Exu [orixá guardião da comunicação] mais um músico que tocava violão. Eles vieram para fazer samba. O músico disse: ‘Exu se a gente colocar os músicos daqui isso vai funcionar com sua ajuda. Aqui eu consigo trazer todos os sambistas de Salvador’. Exu fez um acerto. Trouxe uma caixa de cerveja um violão e um pandeirista, na segunda semana já se tinha mais músicos tocando e vendendo caixas de cerveja. Daí começou o projeto”, narra o babalorixá.
Foto: Marina Silva/ CORREIO |
*Com orientação da chefe da reportagem Perla Ribeiro