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Quando é que Michael Scott se aposenta? Veja os 5 comportamentos mais questionáveis

“O melhor chefe do mundo”. Pelo menos é a frase que estampa a caneca em cima da mesa de trabalho, adquirida, inclusive, pelo próprio sem nenhuma modéstia. Ele quer ser inspiração, um exemplo para os funcionários que comanda, um líder nato. Ele, porém, quase sempre esbarra em situações conflituosas e atitudes que podem transformar qualquer escritório em um ambiente de caos. Essa figura ambígua te lembra alguém? 

Não faz muito tempo que o último episódio da versão norte-americana do seriado The Office (Vida de Escritório, 2005/ 2013) completou 10 anos que foi ao ar, trazendo de um modo satírico muitas verdades cotidianas sobre as relações no ambiente de trabalho. 

Michael Scott, o patrão vivido pelo ator Steve Carell, é até hoje uma das figuras icônicas da série, principalmente, por ficar conhecido como um chefe “sem noção”, devido aos inúmeros comportamentos questionáveis para alguém que ocupa o posto de liderança de uma equipe.   

Durante a semana, a Amazon Prime Video anunciou que The Office vai ganhar uma nova versão australiana com uma protagonista feminina. A atriz e comediante Felicity Ward  vai viver a personagem principal da sitcom.  O remake da série americana tem previsão de estreia para o ano que vem no streaming e deve ficar disponível em mais de 240 países.

Mas, afinal, por que The Office continua tão atual? Mesmo após tanto tempo, o programa está entre os títulos mais assistidos em plataformas de streaming como Netflix, Amazon Prime Vídeo, HBO Max e Paramount+.  

Relação com o RH
Na história, Michael Scott começou a carreira como vendedor de papel na fictícia Dunder Mifflin até chegar ao cargo de gerente de uma das filiais da empresa. Mas, sua posição se deve não só porque ele entende muito de papel, mas pela fama de batedor de metas que conquistou. A promoção, no entanto, mostrou que o fato de Michael ser um bom vendedor não quer dizer que ele seja um gestor com a mesma qualidade. E aí, muito dessa gestão vai ser baseada por uma relação nada amigável com o RH, nas tentativas de ser popular e adorado pelos subordinados, mesmo que cometa várias gafes e protagonize situações constrangedoras e preconceituosas diante da equipe. 

No mundo do trabalho real, os ‘Michaels Scotts’ ainda não saíram de cena, como confirma o coordenador da Uniruy e consultor de Empresas, Elisandro Lima:

“É aquele que confunde ser líder e chefe, o que é muitas vezes é comum em áreas empresariais. Cercado por facetas e contradições, Scott acha que lidera para ver seus funcionários felizes e confunde muito tudo isso.  É egoísta e inseguro, mas, por outro lado, é ingênuo, criativo e sonhador”. 

Esse tipo de gestor é alguém que vive nos extremos ao mesmo tempo: divertido e irritante, amado e odiado, que pode ir da genialidade a idiotia num piscar de olhos. “The Office aborda temas como liderança, motivação, comunicação, diversidade, ética e inovação, que são relevantes e desafiadores para qualquer profissional ou organização.  Os gestores que não têm aptidão acabam ensinando tudo aquilo que não devemos fazer para alcançar uma gestão eficiente”, ressalta Lima. 

Muitos gestores ainda não têm consciência do impacto emocional que suas ações provocam nos trabalhadores. Esse é outro problema grave dos ‘Scotts’ da firma, apontados por Lima. Na série, o personagem humilha e ofende seus colaboradores com piadas racistas, sexistas, homofóbicas e preconceituosas, sem se importar com os sentimentos ou as consequências que suas palavras podem ter na vida pessoal e profissional do colaborador.

“Alguns gestores podem ter dificuldade em lidar com seus próprios sentimentos e emoções, e acabam projetando-os nos outros ou tentando evitá-los. Isso pode gerar conflitos, desmotivação e baixo desempenho nas equipes. Vejo muitos desses profissionais em empresas de vários segmentos. É aí que chamo atenção para a inteligência emocional, a capacidade de reconhecer e regular as próprias emoções, de forma a criar relacionamentos interpessoais saudáveis e produtivos nas organizações”, pontua o consultor.  

Para a Miriam Rodrigues, docente da Universidade Presbiteriana Mackenzie na área de Comportamento Organizacional, Gestão de Pessoas e Estudos Organizacionais, Michael Scott é um chefe que tenta fazer com que as coisas deem certo, mas que, normalmente, não consegue atingir seu objetivo.  

“Seja por falta de habilidade, por ter uma visão limitada dos assuntos ou por interpretar as coisas de maneira exagerada, ele acaba agindo dessa maneira. Existem vários fatores que contribuem para a existência e manutenção de lideranças com comportamentos assim. Entre eles, está a condução de profissionais que não possuem competências alinhadas ao exercício do papel de líder e a falta de acompanhamento, treinamento e desenvolvimento constantes daqueles que atuam nesses cargos”, opina a professora. 

Tudo fica mais difícil no ambiente de trabalho quando esses comportamentos são naturalizados, como acrescenta Miriam. “Em outras palavras, é aquele argumento de que ‘aqui as coisas são assim mesmo’. Em muitas ocasiões, o protagonista de The Office trata as questões apenas sob seu próprio ponto de vista, desconsiderando as emoções e aspectos individuais dos demais  membros da equipe. Infelizmente, o mundo do trabalho contemporâneo ainda incorpora vícios e erros antigos, que já deveriam ter sido abolidos. Os ‘Michaels Scotts’ existirão enquanto as empresas não adotarem políticas e práticas que possam coibir os líderes tóxicos”, afirma. 

A ausência de um processo constante de avaliação de desempenho das lideranças que incluam o ponto de vista dos liderados é mais um motivo que justifica a permanência desse tipo de perfil nos cargos de chefia, como complementa a especialista. 

“São fatores que podem ter sua origem em questões de natureza cultural, como em empresas que acham que os líderes detém poderes que conferem a eles a possibilidade de agir da forma que quiserem. Em outras, podemos ter elementos relacionados a questões políticas que favoreçam a permanência no cargo de líderes com perfis inadequados”, diz.  

Impacto na organização
Por outro lado – e apesar de todos os seus defeitos e consequências deles na rotina organizacional – Michael Scott tem algumas qualidades como chefe, como defender a empresa que trabalha entre as concorrentes e atuar em algo que realmente gosta. Sejam positivas ou negativas, as ações dos líderes podem ter um efeito direto na cultura organizacional: influenciam o engajamento, o ambiente, a atmosfera da empresa e de seus clientes. 

Mesmo que não tenham se aposentado ainda do cenário das organizações, a gerente de Filial da Randstad Brasil acredita que os dias dos chefes com esse tipo de perfil estão contados. Afinal, toda mudança precisa vir da alta liderança. Por isso, o maior desafio ainda é convencer o topo da pirâmide a respeito da importância e da influência positiva em uma cultura organizacional que reveja certos comportamentos. 

“Pesquisas apontam que 8 em cada 10 profissionais pedem demissão por causa do chefe. Portanto, encontrar um gestor que se comprometa a extrair o melhor de cada um não é fácil. Existe aí uma geração que vem promovendo rupturas desse padrão de comportamento arbitrário, quando os talentos passaram a ser ter mais protagonismo na relação com as empresas. A força de trabalho está cada vez mais diversa e plural, buscando a valorização de suas individualidades”, opina ela. 

Gerente do Empregos.com.br, Tabata Silva acha que existe saída para lidar com um chefe como Michael Scott. Tudo passa pela mudança de mentalidade:

“A criação de comitês de gerenciamento que priorizem a saúde mental e a qualidade de vida no ambiente de trabalho podem ajudar muito nesse sentido. Claro que, ações como essas, são mais efetivas em empresas que apresentam uma abertura maior e um RH bem definido. A conversa é sempre o primeiro passo para uma mudança efetiva”. 

CINCO COMPORTAMENTOS DO CHEFE QUE CONTINUAM DIFICULTANDO AS RELAÇÕES NO TRABALHO

1. O chefe ‘sem noção’
Michael Scott pode ser contraditório, chegar na linha tênue do “ame ou odeie”, mas um fato é unânime:  ele é o tipo de chefe sem noção, ou seja, é movido por impulsos, o que o coloca nas piores situações e acaba gerando problemas e conflitos absolutamente desnecessários.

(Imagem: Reprodução/ @brtheoffice)

Outro comportamento recorrente é o de interromper com uma certa frequência o trabalho da equipe, afetando a concentração e, consequente, a produtividade. Fica ainda pior quando esse comportamento é naturalizado com aquela máxima de que “as coisas por aqui não vão mudar, são assim mesmo”. 

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2. O inimigo do RH
Não por um acaso, Michael Scott nunca se deu bem com Toby – o cara do RH. Ele sempre o trata com desprezo e hostilidade, ignorando seu papel de ser ponte entre a gestão e os colaboradores.

(Imagem: Reprodução/ @brtheoffice)

Um bom chefe deveria ver a área de RH como aliada e buscar sua orientação e apoio em questões delicadas, conflituosas, de clima organizacional ou que possam trazer melhorias para a equipe. 

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3. Ele tenta ser popular, mas é ofensivo
Não é uma, nem duas, ou três vezes, que Michael faz comentários ofensivos estereotipados sobre raça, gênero, sexualidade e religião, sem perceber o mal-estar que provoca em seus colaboradores, na tentativa de ser engraçado e o mais popular no escritório para conseguir ganhar respeito e admiração.  Inclusive, ele acha que pode ser um grande mentor, um exemplo de inspiração, mas, na verdade, confunde liderar por felicidade com o contrário disso.

(Imagem: Reprodução/ @brtheoffice)

Muitos gestores ainda não têm consciência do impacto emocional de como suas ações incidem sobre seus colaboradores. Eles podem acreditar que estão sendo engraçados, carismáticos ou assertivos, quando estão sendo autoritários, ofensivos e desrespeitosos.

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4. Quase sempre foge da tomada de decisões importantes
Michael evita o tempo todo tomar decisões importantes e chega até a expor um outro funcionário para não ficar mal com a equipe e evitar o confronto, transferindo a culpa para o outro. Michael gostava de ser o chefe das notícias boas, a personificação de alguém carente de atenção e por isso quer ser legal com todos.

(Imagem: Reprodução/ @brtheoffice)

Líderes precisam ocupar e exercer seus papéis na tomada de decisão. Possuem responsabilidade e não dá para fugir disso.  

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5. Falta de empatia
A falta de respeito e empatia são comportamentos comuns de serem encontrados no mercado de trabalho mesmo diante de todas as mudanças que ele vem passando. Isso vai desde a sobrecarga de trabalho, excesso de cobrança até o assédio, o que prejudica diretamente a saúde mental do colaborador. E o Michael Scott – mesmo o da ficção – diz muito sobre isso.

(Imagem: Reprodução/ @brtheoffice)

Um caminho para resolver essas questões é a mudança na cultura organizacional e, principalmente, na mentalidade dos líderes. Para além dos resultados, é preciso olhar para o ser humano e colocar o bem-estar das pessoas em primeiro lugar.
 

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