São Paulo – Pelo menos dez chefões do Primeiro Comando da Capital (PCC) que deixaram a cadeia pela porta da frente, beneficiados por habeas corpus ou cumprimento de pena na Justiça, viraram alvo de novas investigações envolvendo a facção criminosa.
O caso mais recente envolve Silvio Luís Ferreira, o Cebola, e Décio Gouveia Luiz, o Décio Português, denunciados pelo esquema de lavagem de R$ 20,9 milhões do PCC na empresa UpBus, que opera linhas de ônibus na zona leste da capital paulista. Ambos estão foragidos.
Em 2014, Cebola estava preso preventivamente por tráfico de drogas e deixou a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista, após conseguir um habeas corpus. Condenado pelo crime meses depois, ele tem escapado da polícia há dez anos e não pisou mais na cadeia.
O traficante também é apontado em investigação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) como “Sintonia Final do Progresso”, célula responsável pela logística de cargas de cocaína, a principal atividade econômica da facção.
Já Décio Português, que é autor de roubos milionários na década de 1990, saiu da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte, por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em agosto de 2023. Na prisão mais recente, ele estava detido por uso de documento falso.
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Silvio Luiz Ferreira, o Cebola Reprodução
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Décio Português é apontado como líder do PCC Reprodução
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Patric Velinton Salomão Reprodução
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André do Rap é apontado como chefe do tráfico internacional do PCC Divulgação/Polícia Civil de São Paulo
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Pedro Luiz da Silva Soares, o Chacal, é acusado de fazer parte da cúpula do PCC Reprodução
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Riola foi preso em 2020, mas fugiu do Brasil em 2021, quando foi transferido para o regime semiaberto Reprodução/Facebook
Atentado contra autoridaes Também em liberdade, Patric Velinton Salomão, o Forjado, é apontado atualmente como o número um do PCC nas ruas. Ele deixou o presídio federal de Brasília em fevereiro de 2022, após cumprir pena por tráfico de drogas.
Um ano depois, Forjado teve o nome envolvido em uma articulação para matar o senador Sergio Moro (União-PR), a família do parlamentar e o promotor Lincoln Gakiya, do MPSP, considerado o maior especialista em combate ao PCC no país. O plano de atentado foi descoberto pela Operação Sequaz, da Polícia Federal (PF).
Outra alvo da Sequaz era Sidney Rodrigo Aparecido Piovesan, o El Sid, que coleciona passagens por roubo, tráfico de drogas, explosão a caixa eletrônico e tentativas de assassinatos contra policiais militares de São Paulo.
Mesmo com um mandado de prisão em análise, El Sid deixou a Penitenciária 1 de São Vicente, no litoral paulista, pela porta da frente, em setembro de 2022. O episódio gerou um procedimento na Justiça paulista para apurar “soltura indevida”. O criminoso, no entanto, nunca foi pego de novo.
Congresso na mira Um desdobramento da Operação Sequaz, meses depois, identificou a participação de mais dois chefões do PCC na chamada “Sintonia Restrita”, célula de elite responsável por monitorar e planejar atentados contra autoridades. O grupo pesquisou os endereços das residências oficiais dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD).
Um dos chefões envolvidos é Pedro Luiz da Silva Soares, o Chacal, que tem histórico de roubo a caixa eletrônico e esteve na primeira leva de grandes lideranças do PCC transferidas para presídios federais, no início de 2019.
Chacal saiu pela porta da frente da Penitenciária Federal de Mossoró, após cumprir nove anos de prisão por roubo e formação de quadrilha, e está em liberdade desde o fim de outubro de 2023.
A investigação também encontrou mensagens do grupo que faziam referência a um criminoso chamado “Lelê”. Para o MPSP, trata-se de Ulisses Scotti de Toledo, 38, que deixou a cadeia em 2020 por cumprimento de pena.
André do Rap Já o narcotraficante André Oliveira Macedo, o André do Rap, foi solto em outubro de 2020. Ele era apontado como responsável pelo envio de drogas à Europa, por meio do Porto de Santos, no litoral de São Paulo.
A decisão de soltá-lo foi do então ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), com argumento de que o criminoso estava preso sem sentença definitiva (trânsito em julgado) e além do tempo limite previsto em lei.
A decisão seria suspensa pouco depois pelo ministro Luiz Fux, então presidente do STF. André do Rap, entretanto, já havia saído da Penitenciária de Presidente Venceslau. Hoje, a suspeita é que ele esteja no exterior e comande o tráfico de cocaína do PCC a partir da Bolívia.
Sócio de André do Rap, o traficante Suaélio Martins Lleda, o Peixe, recebeu alvará de soltura para cumprir a pena em casa, em julho de 2020, por fazer parte do grupo de risco durante a pandemia de Covid. Condenado a mais de 40 anos, ele não voltou para o endereço informado à Justiça e fugiu.
Tráfico de armas Posto em liberdade em 2018, após cumprir 20 anos de cadeia, Marcos Paulo Nunes da Silva, o Baianinho Vietnã, é um membro antigo do PCC, apontado como um dos primeiros financiadores do tráfico de drogas da facção.
Em dezembro de 2023, ele voltou ao radar da polícia na Operação Dakovo, deflagrada pela PF, para combater o tráfico internacional de armas. O grupo investigado é suspeito de enviar 43 mil armas de fogo para o território nacional.
Fecha a lista Elvis Riola de Andrade, o Cantor, ex-diretor da escola de samba Gaviões da Fiel, que chegou a ser capturado na Bolívia e devolvido para o Brasil em janeiro deste ano.
“Não vamos permitir que criminosos com antecedentes no exterior invadam a paz do povo boliviano”, comemorou Eduardo Del Castillo, ministro de Governo do país vizinho, na ocasião.
Ele, no entanto, acabou sendo colocado em liberdade no dia seguinte, porque não havia mandado de prisão contra ele no Brasil, por decisão do STJ. Em São Paulo, cumpriu pena por matar, a mando da cúpula do PCC, um agente penitenciário em Presidente Bernardes, no interior paulista, em 2009.