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Quem usa fake news para ferir acaba morto pela verdade

Gostou do título? Também gostei, mas não estou convencido do triunfo final da verdade. É mais desejo do que certeza.

Há fake news que não resistem a uma verificação rápida, mas há outras capazes de prevalecer sobre a verdade por séculos.

Há quatro anos, Bolsonaro saiu na frente no uso da internet para disseminar notícias falsas. A esquerda foi surpreendida.

Ele e sua turma ainda estão anos adiantados no uso da internet e na criação de mentiras, mas a esquerda avançou muitas casas.

Na madrugada de hoje, em live com caráter de urgência, Bolsonaro disse que foi vítima de uma fake news “que ultrapassou todos os limites”.

Segundo ele, a esquerda acusou-o de ser pedófilo. E só porque ele disse que adolescentes venezuelanas viviam em má situação.

Em entrevista ao canal “Paparazzo Rubro-Negro”, Bolsonaro contou que avistou meninas e que “pintou um clima” entre eles.

Foi nas vizinhanças de Brasília, quando ele passeava de moto. Sem tirar nem pôr, segue o que Bolsonaro afirmou ao canal:

“Eu parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. ‘Posso entrar na sua casa?’ Entrei. Tinham umas 15, 20 meninas sábado de manhã se arrumando. Todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos se arrumando no sábado para que? Ganhar a vida.”

Gabriel Chalita, escritor paulista e político que nunca foi de esquerda, escreveu a propósito no Twitter:

“É normal um presidente da República ou homem adulto dizer que pediu pra entrar na casa de uma criança de 14 anos após ter ‘pintado um clima’ entre eles? É criminoso. É asqueroso.”

Rachel Sheherazade, jornalista, ex-âncora de jornais no SBT e na Jovem Pan, que nunca foi de esquerda, escreveu:

“Sujeito sessentão andando de moto pela periferia encontra menor de 14 anos, sente ‘um clima’, entra na casa dela, encontra outras menores em situação de risco e vulnerabilidade. Podendo e devendo denunciar a situação, não o faz. Que nome dar a esse senhor?”

Marina Silva, deputada federal recém-eleita pela Rede, duas vezes candidata a presidente da República, escreveu:

“A linguagem e a visão expressa por Bolsonaro diante de meninas venezuelanas refugiadas expõem a impostura de uma pessoa despreparada política, ética e socialmente para exercer a função de presidente da República.”

Ex-senador pelo Distrito Federal, ex-candidato a presidente da República, o professor e escritor Cristovam Buarque escreveu:

“Um dia, Bolsonaro disse que comeria carne humana, hoje que pintou um clima dele com meninas de 14 anos e ele foi à casa delas. Até quando temos de aguentar um candidato tão desqualificado?”

E a cantora Zélia Duncan:

“Como alguém pode querer como presidente um homem bem maduro que para de moto numa esquina, tira o capacete e faz clima com crianças que julga serem prostitutas, menores de idade!?”

Um político de esquerda, o ex-governador do Maranhão Flávio Dino (PSB), acusou diretamente Bolsonaro de ser pedófilo:

“Pintou um clima com uma menina de 14 anos? Um sujeito de quase 70 anos? Pediu para entrar na casa da menina! Esse que é o defensor da ‘família tradicional’? Esse sujeito, a cada dia, se supera no seu comportamento abjeto. Não podemos ter um pedófilo na presidência da República”.

Dino será colega no Senado de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que correu a defender o pai:

“É completamente abominável a mais nova mentira da esquerda! Pegou uma fala mal colocada do presidente para lhe imputar uma fake news nojenta! Um pai com uma filha e duas netas!”

“Uma fala mal colocada”. Tomara que tenha sido só isso. Mas Bolsonaro admitiu que “pintou um clima” entre ele e as meninas. Que clima? Clima de quê?

E não disse o que fez depois para retirá-las da condição de prostitutas infantis. Um presidente responsável e humano teria feito alguma coisa.

Como um presidente responsável e humano teria visitado durante a pandemia famílias que perderam parentes para a Covid-19. Ele jamais visitou. E ainda imitou quem morria asfixiado.

“Uma fala mal colocada”, é só disso que se trata, observou Flávio.

Uma frase de Lula pega pela metade foi usada, ontem, no programa de Bolsonaro na tv para insinuar que Lula celebrou a chegada ao Brasil do vírus que matou quase 700 mil pessoas.

Em Teresina, Piauí, Bolsonaro disse no sábado que Lula quer para o Brasil “banheiro unissex, liberação das drogas, aborto e invasões de terras”. Lula nunca disse isso.

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