InícioEditorialRecém-nascido sequestrado em Caravelas é encontrado a quase 10 km de casa

Recém-nascido sequestrado em Caravelas é encontrado a quase 10 km de casa

A família de um recém-nascido viveu momentos de terror neste final de semana, no município baiano de Caravelas, extremo-sul da Bahia. Enquanto a mãe e a avó do bebê estavam reunidas com familiares na cozinha de casa, uma mulher entrou na residência e sequestrou a criança, que dormia na sala. A suspeita, presa depois com o comparsa, disse que a criança seria usada em um ritual supostamente religioso.

Ao perceberem uma movimentação incomum, as moradoras foram até o cômodo e se surpreenderam ao perceber que o pequeno não estava mais lá. A ação da mulher foi rápida. O fato aconteceu no último sábado (14), por volta das 11h30, no bairro Damor da Cruz Alcântara. 

A avó do recém-nascido acionou a Polícia Militar já com uma suspeita em mente, pois um dia antes do sequestro, uma amiga da família esteve na casa com uma mulher desconhecida por eles. Não há informações sobre o motivo da visita. No entanto, a suspeita e acompanhante da mulher conhecida deixou uma mochila no local, que sumiu junto com o bebê.

No dia do ocorrido, ele tinha apenas 20 dias de nascido. Durante o mesmo período, estava na casa da avó, que tem 32 anos. Ela estava recebendo o neto e a mãe dele – sua filha de 17 anos – durante a fase de pós-parto e resguardo da menor, para ajudar nos cuidados com os dois. 

Segundo a Polícia Civil, a avó informou que, antes da chegada da PM, os parentes do recém-nascido já haviam localizado a mulher em um ponto de ônibus no distrito de Barra de Caravelas, localizado a 9,7 Km de onde ela havia cometido o sequestro. A mulher foi encontrada com o bebê no colo. 

Com base nas características da suspeita e com informações de vizinhos, a PM informou que os policiais da 88ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM) iniciaram as buscas e conseguiram prendê-la no mesmo distrito. Populares disseram à polícia ter visto a sequestradora, identificada como Sthefany de Jesus Silva, de 25 anos, passando com uma mochila nas mãos, segurando-a com certo cuidado. 

Ao ser detida pelos policiais, Sthefany revelou que não estava agindo sozinha no plano de sequestrar o recém-nascido. Segundo ela, o homem identificado como Ailton Ferreira dos Santos, 53 anos, foi quem arquitetou a ação e a encontraria em Barra de Caravelas, onde os dois realizariam um suposto ritual de batismo religioso com a vítima.

A polícia então seguiu à procura do comparsa de Sthefany e o prendeu na mesma região. O Conselho Tutelar foi acionado, e os dois foram apresentados ao delegado plantonista Charlton Bortolini, na Delegacia de Teixeira de Freitas, onde foram ouvidos e presos em flagrante pelos crimes de sequestro e cárcere privado, com o agravante de a vítima ser menor de idade. 

Ritual 
Em sua versão, Stefhany disse à polícia que o plano teria sido arquitetado por seu comparsa, Ailton Ferreira dos Santos. Após irem juntos a Caravelas, ele a teria convencido a cometer o delito para a realização de um suposto ritual religioso. A religião não foi especificada.

Os dois acusados foram identificados pelo delegado plantonista como membros da Religião da Irmandade, que seria um grupo religioso de matriz africana de Feira de Santana. A informação é do portal local Bahia Extremo Sul. O CORREIO não conseguiu contato com o plantonista nem confirmou a existência dessa irmandade (desconhecida até pelo Comitê Inter-Religioso da Bahia, conforme se lê abaixo).

Em seu depoimento, Ailton confirmou os fatos relatados por Sthefany, mas negou que ele tenha mandado pegar o bebê sem a autorização dos pais e que não iria fazer mal a ele. O acusado detalhou que o objetivo era realizar uma ritual de batismo com o bebê e que depois ele seria devolvido aos familiares. 

Em sua defesa, Sthefany afirmou que as conversas, com orientações e combinações do plano, foram feitas pelo WhatsApp, confirmando que o comparsa é o autor da ação. Os dois seguem presos em Teixeira de Freitas. 

Novas suspeitas 
As investigações sobre o caso estão sob responsabilidade do delegado titular do município de Caravelas, Marco Antônio Neves. Segundo ele, a quebra do sigilo telefônico dos suspeitos será solicitada. Sem revelar quem são os suspeitos, o delegado ainda informou que outras duas pessoas estão sendo investigadas por participação no crime. Ele não deu mais detalhes, para não atrapalhar as investigações.

Outro suspeita a ser analisada pelo titular de Caravelas é a de que os sequestradores poderiam estar em busca de outra criança, já que foi encontrada com Sthefany duas mochilas – uma com roupas de menina e outra com roupas de menino. Ambas de bebês. 

Intolerância
Para o membro coordenador do Comitê Inter-Religioso da Bahia e ogã do Terreiro Pilão de Prata, com 50 anos de existência, Elias Conceição, é preciso alertar para o perigo da associação entre as religiões de matriz africana e os crimes de sequestro de crianças para rituais religiosos, a fim de evitar o incentivo à intolerância religiosa.

No caso de Caravelas, especificamente, ele afirma não conhecer a Religião da Irmandade como vertente de matriz africana, nem a prática de planejamento de ritos religiosos pelo Whatsapp. “O primeiro ponto é averiguar a sanidade mental destas pessoas e depois buscar a fundo o porquê de dizerem que farão rituais e de matriz africana”, destaca o ogan.

Já segundo Mãe Nicinha de Nanã, yalorixá do Terreiro Olufanjá, o sacrifício de pessoas não existe no candomblé. “Nós tratamos da natureza. Queremos ver plantas e árvores crescerem e ter uma terra boa e fértil”, esclarece a yalorixá.

O mesmo é reverberado pelo ogan do Terreiro Olofunjá, Georgino da Conceição Filho. “Tenho mais de 25 anos de confirmado. Como um segmento da fé tem liberação para atuar dentro de comunidade e vai se acreditar em algo que simplesmente difama nossa fé?”, questiona.
 

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela

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