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Saúde: É raro, mas é possível morrer de susto

O último Dia das Mães não foi de comemoração para a família de Renata Keyla da Silva Santos, de 17 anos, moradora de Jeremoabo, a 390 km de Salvador. Na madrugada de 27 de abril a jovem recebeu um telefonema informando que seria necessário levar sua mãe ao hospital, devido a uma crise renal. Ela já estava acostumada a acompanhar a senhora, que é diabética, em consultas e internamentos. Dessa vez, não foi possível. Renata morreu durante a ligação, não havendo tempo sequer do marido socorrê-la. A estudante do Colégio Estadual José Lourenço de Carvalho deixou uma filha de 1 ano e meio. Atualmente, sua mãe encontra-se internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, em estado de coma devido à doença renal, e ainda não sabe o que aconteceu. 

A família de Renata também não tem respostas para o ocorrido. “Ela atendeu ao celular e caiu no chão. Levaram para o hospital, mas não teve jeito. Os médicos não dizem o que aconteceu. É inaceitável, mas ninguém pode mudar a vontade de Deus”, resigna-se a tia, Elaine Silva de Sá. 

Mas, seria possível morrer de susto? Segundo o cardiologista Francisco Reis, sim, se a pessoa tiver cardiopatias. Em uma notícia inesperada, pode haver ativação do sistema cardiovascular e, caso o indivíduo tenha uma predisposição genética ou adquirida a alguma doença cardíaca, ele pode ter um infarto, uma arritmia cardíaca, uma lesão da aorta, um mal súbito e falecer. E, como isso funciona em nosso corpo? 

“Quando recebemos uma notícia, seja ela boa ou ruim, que traz forte impacto emocional, há liberação no sangue, por parte das glândulas suprarrenais (que ficam acima dos rins), dos hormônios adrenalina e noradrenalina, o que pode elevar a pressão arterial e a frequência cardíaca, causando irritabilidade no coração”, explica o cardiologista. 

De acordo com a tia de Renata Keyla, antes mesmo de receber o telefonema, a moça havia se queixado de dores na cabeça e no estômago. Não é possível afirmar que a estudante tenha morrido em decorrência de problemas cardíacos, mas, em outros casos, o comprometimento da porção inferior do coração pode se manifestar através de dor no estômago. Ela já tinha até a requisição médica para realizar um ultrassom. Elaine disse, ainda, que na família havia casos de infarto fulminante, como o do avô de Renata. No entanto, nem a própria jovem sabia se tinha problemas no coração. O que é quase justificável, uma vez que o senso comum nos leva a acreditar que doenças cardíacas estão associadas exclusivamente a pessoas mais velhas. 

“Indivíduos acima de 50 anos têm predisposição maior a ter doenças cardiovasculares adquiridas ao longo do tempo. Então, nessa faixa etária, devemos estar mais atentos a esses sintomas”, afirma Francisco Reis. Ele, no entanto, faz um alerta: “Mas também existem cardiopatias na infância, adolescência e vida adulta que podem predispor a doenças cardíacas fatais. Doenças que causam arritmias, taquicardia ventricular e fibrilação ventricular tem um cunho, geralmente, genético (transmitido através dos genes, de pai para filho). Emoções muito fortes são gatilhos para desencadear essas arritmias”, ressalta.  

Por isso, os cuidados com o coração devem começar cedo. “Devemos cuidar desde criança, principalmente no que diz respeito à alimentação, atividade física e a questão mental. Os jovens estão ficando cada vez mais ansiosos, a obesidade é uma epidemia no mundo todo, então, temos que ter um cuidado muito maior na prevenção, para evitar o primeiro episódio”, ressalta o cardiologista. 

Os sintomas a serem observados no contexto de uma emoção muito forte são: dor no peito, dor torácica – que dure mais de 30 minutos -, acompanhada de sudorese (suor em excesso), palpitações, sensação de desmaio, irradiação para o queixo, braço e costas. Isso pode ser sinal de um infarto em curso. Dor de cabeça muito intensa sinaliza uma crise hipertensiva, um aneurisma rompido ou uma hemorragia cerebral. Esses são sintomas de alerta que, quando acontecerem, e se persistirem, o paciente precisa ser levado a uma emergência para avaliação. 

Emoções são inevitáveis

Toda essa reação em nosso corpo tem início no cérebro e nem sempre está relacionada a consequências negativas. Do ponto de vista neurológico, quando estamos em uma situação de perigo, medo ou estresse, um estímulo é enviado ao hipotálamo. A partir daí, depois de uma complexa cadeia de eventos, os glicocorticóides são liberados, estimulando outras áreas no cérebro que liberam noradrenalina. “Estas substâncias (catecolaminas e o cortisol) atuam em todo o corpo, levando a diversas reações típicas do estresse. São reações fisiológicas importantíssimas, que preparam o corpo para a fuga, despertando o instinto de sobrevivência. Sem estes mecanismos, nós não identificaríamos situações de perigo no cotidiano”, explica o neurocirurgião Everton Barbosa. 

Foram os sinais que o corpo deu que salvaram o diagramador aposentado Ilton de Jesus, 77, em 2000, quando recebeu a notícia do falecimento da mãe. Mesmo sabendo que ela já vinha doente, ele não estava preparado para esse momento. Nos dias que sucederam a despedida, Ilton começou a sentir incômodo no tórax e cansaço. Até que, durante um quadro mais severo de dor, a esposa achou por bem levá-lo ao médico. 

“Fui diagnosticado com uma angina. Em 2005, coloquei cinco pontes; e em 2017, realmente, enfartei”, lembra. Hoje em dia, por conta do seu histórico, os filhos enchem o pai de cuidados. Evitam até que ele assista a reportagens sobre violência nos telejornais. “Eles mudam de canal na hora”, brinca Ilton, bem-humorado, enquanto passeia pelo shopping.

Em um contexto mais geral, o cardiologista Francisco Reis recomenda cuidados ao contar notícias com alta carga emocional, principalmente para pessoas idosas: “Devemos evitar acordá-la no meio da noite. O ideal é contar pela manhã, após criar um ambiente de preparação para, aos poucos, ela ter essa informação”. 
É normal e até aceitável, por parte da família, ter todas as precauções com pessoas que possuem histórico de doenças cardíacas e neurológicas. O neurologista Ivar Brandi atenta, porém, que o óbito causado por fortes emoções é extremamente raro. Além do mais, não se pode evitar que as pessoas sintam emoções. 

“É muito comum no dia a dia, familiares de indivíduos com antecedente de acidente vascular encefálico (AVC), por exemplo, evitarem que eles participem de questões da família por receio das reações emocionais. Isso leva a mais afastamento familiar e social. O mesmo ocorre com muita frequência com pessoas idosas.

O importante é que as condições clínicas (diabetes, hipertensão arterial, doenças cardíacas) estejam adequadamente controladas para que a pessoa possa viver todas as emoções que fazem parte da vida”, destaca. 

A psicóloga Tatiane Seixas concorda e garante que a supressão das emoções é a grande causadora de muitos traumas e desordens emocionais: “Temos uma tendência a querer extinguir a dor do outro, devido à nossa dificuldade em ver o outro sofrer, passando uma mensagem equivocada de que ficar triste é errado”, afirma. “Somos seres emocionais e as emoções são funcionais à nossa existência. Podemos sentir e tudo bem, contanto que as emoções sejam reguladas”. 

O mais importante é manter corpo e mente sãos. “A gente deve se cuidar cada vez mais. Devemos também filtrar as informações. No mundo da Internet e das redes sociais temos muitas informações sendo processadas e a gente não tem necessidade disso e nem capacidade. Vamos cuidar da nossa saúde física e mental, através de alimentação, atividade física, meditação, criar situações que possam nos dar um equilíbrio para viver no mundo atual”, finaliza o médico Francisco Reis.

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