Os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia colocaram as diferenças de lado e prestaram homenagem a Belchior (1946-2017) durante apresentação no Ceará, terra do ex-artista, no último sábado (17). A dupla tem realizado saudações aos cantores que marcaram época com a MPB, não deixando o cearense de fora.
Os irmãos saudaram a memória de Belchior ao incluírem no roteiro Mucuripe, canção em parceria com Raimundo Fagner e imortalizada na voz de Elis Regina (1945-1982).
Belchior e Caetano já trocaram farpas por meio de músicas durante a época da Tropicália, principalmente na década de 70. O cantor cearense era crítico ao movimento, e citava de forma implícita Caetano realizando críticas à Tropicália por considerar um gênero “acrítico”.
Um exemplo é a famosa composição “Rapaz Latino Americano”, em que Belchior escreve: “Mas sei que nada é divino / Nada / Nada é maravilhoso, nada / Nada é secreto, nada / Nada é misterioso / Não (…)”.
Outro exemplo é na música Retrato 3×4, quando a crítica fica mais aparente: “Veloso, o sol não é tão bonito pra quem vem do Norte e vai viver na rua”.
O ARTIGO DE CAETANO
Em 2017, ano da morte de Belchior, Caetano escreveu um artigo para o Estadão em que reverenciou o cantor cearense e afirmou que as canções do artista “não das que morrem”. No texto, o baiano afirma que Belchior está na ala de artistas mais criativos da história da música brasileira.
“Todas as citações a canções nossas que estavam em trechos de canções de Belchior me agradavam por estarem dentro de um timbre criativo sempre rico e instigante. Muitas entrevistas de Fagner desmereciam a força estética que era evidente em Mucuripe e em Belchior. Como Nossos Pais é uma das melhores interpretações de Elis. Também Velha Roupa Colorida é algo coeso e forte. Mas tudo isso ficava mais interessante ainda quando na voz do autor”, escreveu Caetano.