Há cerca de 15 anos, o ator Dwayne Johnson, 50, começou a cobiçar para si Adão Negro, anti-herói da DC que tem como tradicional oponente o Shazam (antes, Capitão Marvel) nos quadrinhos. Mais do que reivindicar o personagem, The Rock começou a elaborar uma resposta à crescente escalada da Marvel no cinema. O tempo passou, a Marvel escreveu o cânone dos filmes de herói, mas a ambição do astro não enfraqueceu.
Diante do bate cabeça que tem sido encontrar um norte para os filmes dos paladinos da Liga da Justiça, Johnson resolveu estabelecer, como ele mesmo vem dizendo, “uma mudança na hierarquia do poder no universo DC”. Mas, ao colocar Adão Negro na telona, fica claro que a DC ainda não encontrou um norte.
Veja o trailer de Adão Negro:
Sem o realismo de Christopher Nolan na trilogia do Cavaleiro das Trevas ou a pirotecnia de Zack Snyder e os desdobramentos de sua Liga da Justiça. Há, isso sim, um abismo nesse mapa. E olhe que é possível destacar uma oxigenada no estúdio, soprada por títulos recentes, como Mulher-Maravilha (2017), Shazam! (2019), Coringa (2019) ou mesmo Batman (2022).
Não dá para dizer que estamos diante de um desastre. Mas, nem mesmo o carisma de uma tonelada do astro “mais legal de Hollywood” consegue elevar Adão Negro, filme do espanhol Jaume Collet-Serra (A Orfã). Primeiro porque há um descompasso entre a complexidade do personagem título em relação à leveza que a obra quer sugerir.
Depois do Superman, Adão Negro é dono do maior poder no panteão da editora, empatando neste segundo lugar com Shazam – ambos receberam o mesmo tipo de poder, mas caminharam por estradas diferentes, uma coisa como o dia e a noite. Com tanta dualidade dentro de si, é difícil querer descomplicar o jogo assim, de qualquer jeito.
Adão Negro se estranha com o Gavião Negro, integrante da Sociedade da Justiça (divulgação) |
Pois bem, esse filme de origem, que introduz também alguns heróis da Sociedade da Justiça (grupo anterior à Liga da Justiça ou aos Vingadores), funciona apenas como mais uma das centenas obras de ação que povoam os cinemas todos os anos. Cheia de excelentes recursos de CGI, boas coreografias de luta e roteiro fraquinho, fraquinho, além de diálogos sofríveis. Daqui a pouco passa e a gente nem sente.
A trama conta a história de um homem escravizado num país árabe fictício, que morreu e recebeu poderes divinos, tornando-se o protetor daquele lugar. Cerca de cinco mil anos depois, ele é acordado por caçadores de relíquias sagradas e, com as emoções ainda enviesadas, não consegue relativizar o que é certo e errado – conceitos tão caros à mitologia dos heróis.
Sociedade da Justiça
O bacana do Adão Negro original das HQs é justamente a zona cinzenta de sua personalidade. Como o Batman, ele não tem pudor ao usar a violência para justificar seus fins. No filme de Collet-Serra, a dualidade que rege o moralismo do mundo é traduzida do jeito mais piegas possível. Sobretudo no texto que sustenta a atuação da Sociedade da Justiça, representada por Senhor Destino (Pierce Brosnan), Gavião Negro (Aldis Hodge), Esmaga-Átomo (Noah Centineo) e Cyclone (Quintessa Swindell). Depois de um rápido antagonismo, o Adão Negro percebe que eles estão lutando pelas mesmas coisas, porém com menos mortes – afinal, heróis “não matam”.
Henry Cavill retorna ao papel de Superman no universo compartilhado da DC (divulgação) |
O grande atributo (e parece ser seu principal propósito) do filme é servir como porta de reentrada para o ótimo Superman de Henry Cavill. Calma, não há spoiler aqui depois de tantas dicas que Dwayne Johnson deu nas redes sociais. Depois dessa rápida participação, virá um novo solo do kryptoniano em que Superman e Adão Negro se enfrentam.
Resta saber se será uma história boa o bastante como Homem de Aço (Zack Snyder/2013) e se essa costura vai dialogar com os vindouros The Flash, Aquaman e o Reino Perdido e Shazam! – Fúria dos Deuses, que estão quase prontos. Isso sem falar de projetos como The Batman 2 e Coringa 2, já em pré-produção.