Foto: Antonio Augusto/PGR
Procuradoria-Geral da República 12 de dezembro de 2023 | 22:00
Suspeito de integrar o núcleo financeiro de um poderoso esquema de tráfico internacional de arma, que envolve o PCC e o Comando Vermelho, o servidor Wagner Vinicius de Oliveira Miranda, analista processual da Procuradoria-Geral da República, foi afastado do cargo, pelo menos enquanto duram as investigações, segundo informações obtidas pela Coluna. Além disso, o Ministério Público está fazendo uma varredura em todos os sistemas que ele acessou, para saber se chegou a alguma informação “mais sensível”. O processo corre em sigilo.
A suspeita de ter um infiltrado desses grupos criminosos na Procuradoria Geral da República causou temor e apreensão entre os demais funcionários, segundo os relatos obtidos pela reportagem. Eles cobraram do Ministério Público o afastamento imediato, para evitar “contaminação” na imagem da instituição e também adotam um discurso de “contenção de danos”.
A afirmação recorrente é de que Wagner não atua em área que tenha relação direta com processos que envolvem traficantes e que, aparentemente, por não ser numa área criminal, isso diminuiria as chances de acesso a informações sigilosas. No entanto, também surgiu, imediatamente, a cobrança pelo aumento dos controles internos, por exemplo, para que haja alerta de “comportamento atípico” e de adoção de medidas de contrainteligência.
Wagner é um dos alvos da Operação Dakovo – investigação da Polícia Federal sobre o tráfico internacional de armas.
Wagner é listado como integrante de um grupo de pessoas que ‘figuram nos comprovantes de depósitos e que permitiram o uso de suas contas bancárias para o recebimento de pagamentos de armas e drogas por parte de criminosos no Paraguai’.
Ele passou a ser investigado após a PF encontrar seu nome em meio à análise de dados de Angel Antonio Flecha Barrios, responsável por repassar armas ilegais importadas da Europa para as duas maiores facções brasileiras, PCC e Comando Vermelho.
A PF apura o envolvimento de Wagner com uma suposta operação financeira ligada a Angel. O servidor do MPF é sócio de duas empresas: a Steak House Restaurante e a Bravoshop plataformas de vendas online. Esta última, segundo a PF, seria uma empresa de fachada. Um outro sócio foi identificado como Raimundo Nascimento Pereira.
A PF apurou que Raimundo consta como sócio da empresa Bravo Brasil – ‘sem empregados registrados e sem funcionamento no endereço constante nos seus registros cadastrais’. Tanto a Bravo Brasil como a Bravoshop têm o mesmo e-mail e telefone no cadastro e foram abertas no mesmo dia.
COM A PALAVRA, A PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA
“A investigação que está em andamento é conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPF na Bahia e segue sob sigilo.
Não há denúncia criminal no caso ainda, o que não impede a aplicação de outras medidas. Desde o início da investigação, foram adotadas todas as providências cabíveis tanto na esfera criminal quanto na administrativa”.
Roseann Kennedy/Estadão