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Temporada natalina: como a indústria dos filmes de Natal passou a dominar o streaming

Quando chega essa época do ano, a pedagoga Celeste Oliveira, 63 anos, nem precisa pensar muito na hora de escolher um filme para ver em casa: vai ser um longa sobre o Natal. “Eu amo. Gostava de assistir com minhas filhas e, agora, com minhas netas”, conta ela, que geralmente recorre às plataformas de streaming.  “Fico encantada com as decorações. Se eu pudesse, comprava 300 pisca-piscas e seguia as tradições de biscoitinho, arrumação da casa, reunião de família. Acho que inspira a gente. São histórias de família, de perdão e de amor. Sou extremamente romântica e acho lindo”, diz. 

Celeste não está sozinha. Os filmes de Natal sempre estiveram presentes de alguma forma, mas nunca foram tão acessíveis quanto agora. Nos últimos anos, as semanas que antecedem as festas de fim de ano viraram tempo para curtir especificamente filmes de Natal. Só a Netflix deve ter incluído, até o final de novembro deste ano, ao menos oito produções inéditas no catálogo.

Tem estreia até o último dia do mês, com Um Natal Cheio de Amor, produção brasileira estrelada por Sergio Malheiros e Gkay. Em dezembro, tem mais: serão pelo menos sete outros filmes novos, além de duas séries natalinas. Outros serviços de streaming seguem no mesmo caminho – do Disney+ ao Prime Video, todos já anunciaram novas adições para os assinantes, além dos clássicos disponíveis de anos anteriores. 
 
Sempre houve demanda por filmes de Natal – e eles não são exatamente uma novidade. A diferença é que eles estão cada vez mais nos serviços de streaming, que funcionam a partir de uma lógica de catálogos não lineares e sob demanda, segundo a pesquisadora Maíra Bianchini, doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas e professora do Estude Séries, projeto de análise, reflexão e discussão sobre séries de TV e streaming. 

“Nesse caso, a audiência pode ver e rever quantos filmes de Natal quiser e prolongar ao máximo os bons sentimentos que são evocados por essas obras, que costumam ser reconfortantes e acolhedoras”, diz ela, que estuda a atuação dessas plataformas no mercado audiovisual. 

Para ela, o investimento maior no lançamento de novas obras todos os anos é uma prova de que a demanda por esses filmes é alta. “Esse bem-estar evocado pelos filmes natalinos é potencializado pelo próprio momento de encerramento de um ano e início de um novo, em que ansiamos por esse sentimento de renovação da esperança e de fortalecimento da conexão com as pessoas que amamos”, acrescenta Maíra. 

Indústria
Ainda que a febre no streaming seja recente, não é de hoje que os filmes de Natal se tornaram um negócio lucrativo. Segundo o professor Lucas Ravazzano, doutor em Comunicação e Cultura e pesquisador da área de cinema, desde que Hollywood se estabelece como indústria, os filmes de Natal começam a ser produzidos, ainda entre as décadas de 1940. 

A Felicidade Não Se Compra, um dos primeiros clássicos natalinos, foi lançado em 1946 e desde então, clássico que é, vem sendo continuamente reprisado na época de festas de fim de ano. A mesma coisa acontece com a primeira versão de O Milagre da Rua 34, que aqui no Brasil ganhou o título em português de De Ilusão Também se Vive, em 1947. 

“Essa ideia de filmes de Natal nasce quase com a própria indústria, principalmente com o cinema sonoro que se consolida ali no final da década de 1930 e, em 1930, se torna o padrão. Já nos anos 1940, temos grandes filmes de Natal que estão na memória até hoje e já tiveram remakes, imitações”, explica. 

Uma possível diferença entre os filmes lançados pelo cinema e pelas plataformas de streaming seria justamente o orçamento, na avaliação do professor. Enquanto os longas que vão para o cinema podem contar com grandes orçamentos, os das plataformas normalmente vão por outro caminho. 

“Boa parte do orçamento vai para o cachê, que não é barato. Na Netflix, vai ter os filmes de Natal de Vanessa Hudgens, que não chegou ao estrelato de alguns colegas de High School Musical, como Zac Efron. Lindsay Lohan, que era uma carta fora do baralho durante muito tempo, está voltando agora no filme de Natal que estreou na Netflix”, exemplifica. Enquanto Vanessa Hudgens tem ao menos quatro produções de Natal que levam o selo de ‘original Netflix’, como a série A Princesa e a Plebeia, Lohan voltou a atuar em Uma Quedinha de Natal, lançado este mês, depois de quase uma década sem atuações de destaque. 

Além disso, filmes pensados inicialmente para o cinema contam também com mais orçamento para produção e distribuição, como ressalta a pesquisadora Maíra Bianchini. Isso leva a metas mais altas de retorno esperado para o investimento. “Outro fator que pode influenciar no resultado técnico diz respeito ao quanto o filme lida com elementos mais fantasiosos ou mágicos, o que também é comum nesse tipo de produção e que demanda um orçamento maior para efeitos especiais”, acrescenta.

Expectativas
O público desses filmes natalinos não é diferente do público que escolhe qualquer outro gênero cinematográfico. De acordo com o professor Lucas Ravazzano, os gêneros narrativos costumam carregar visões de mundo e, assim, não é incomum que sejam consumidos por um tipo de ritual de confirmação de sociabilidade e da cultura que representam. Por essa lógica, um filme de romance, por exemplo, representa um ideal de confirmação do amor romântico. No caso dos natalinos, ainda tem um certo viés de ‘comfort movie’ – ou seja, aquelas obras que a pessoa já sabe como é, mas acaba assistindo para se sentir bem. Como diz a tradução literal, é um filme que dá conforto. 

“Nessa perspectiva, eu diria que o interesse, de certa forma, vem desse ritual de confirmação a respeito do que é Natal, do que é família, do que é amor, do que é amizade, fraternidade, esses valores judaico-cristãos ocidentais. São filmes que sempre tem essas mensagens positivas e que a gente se emociona mesmo que consiga prever o final de todos os personagens com cinco minutos”, acrescenta. 

Para a pesquisadora Maíra Bianchini, os filmes também estão ligados aos sentimentos que costumam ser comuns nos finais de ano, como renovação e esperança, além dos reencontros com família e amigos. A pandemia da covid-19 e outros episódios de tensão política e social podem contribuir para essa sensação nesse período. 

“Os filmes de Natal dialogam com todos esses sentimentos e, por isso, tendem a contar histórias familiares e românticas. Neste sentido, é interessante notar que tem surgido comédias românticas de Natal que abordam personagens LGBTQIA+, por exemplo, como Alguém Avisa? e Um Crush para o Natal, que acolhem uma maior diversidade de vivências dentro desses temas universais dos filmes natalinos”, diz.

Alguém Avisa?, que conta com Kristen Stewart (a Bella, da Saga Crepúsculo) no elenco, foi lançado em 2020, está disponível no Prime Video. Já Um Crush para o Natal foi um dos originais da Netflix em 2021. 

Televisão
Além das produções originais das plataformas de streaming e dos filmes de cinema que também ficam disponíveis por lá, há um investimento pesado em filmes feitos direto para a televisão. Nos Estados Unidos, é comum que canais da televisão a cabo local produzam obras de menor orçamento focadas em datas comemorativas. 

Um dos expoentes desse tipo de filme é o Hallmark Channel, canal ligado à rede de lojas Hallmark, especializada em cartões e produtos de épocas comemorativas. Por ano, a partir de outubro, o Hallmark chega a lançar cerca de 40 novos filmes de Natal. Algumas das estreias de novembro da Netflix, por exemplo, são dele, como 12 Presentes de Natal e Na Terra do Natal, disponíveis desde o dia 1º. 

“São filmes muito mais açucarados, que apelam para um excesso melodramático muito grande. Eles colam mais em certas convenções não só narrativas, mas sociais. São filmes que arriscam pouco”, explica o professor Lucas Ravazzano. Para o professor, porém, os critérios para avaliar se um filme de Natal é bom ou não dependem muito do espectador. Vai depender do quanto uma determinada trama toca cada pessoa, inclusive em aspectos como religiosidade e espiritualidade: “Talvez algo que, dramaturgicamente não seja tão bom, agrade alguém porque tocou, lembrou uma relação com um parente ou uma situação conflituosa que foi concentrada no Natal”. 

Na opinião da pesquisadora Maíra Bianchini, as obras natalinas tocam questões subjetivas. “Acho que o que é mais relevante é o quanto essas obras mobilizam nossos sentimentos (principalmente os sentimentos positivos) e o quanto elas contribuem para que possamos processar os acontecimentos que estão se encerrando ao fim do ano e para renovarmos a esperança de que, assim como acontece previsivelmente nos filmes de Natal, tudo vai dar certo no novo ano que se aproxima”, completa.

12 filmes (dos clássicos aos novatos) de Natal para ver no streaming 

A felicidade não se compra
Sinopse: Em Bedford Falls, no Natal, George Bailey, um homem que sempre ajudou a todos, está prestes a se suicidar quando é salvo por um espírito candidato a anjo.
Ano de lançamento: 1946
Onde ver: Prime Video e Telecine. 

Esqueceram de mim
Sinopse: A família de Kevin, um menino de oito anos, acidentalmente o esquece em casa no feriado de Natal. Ele tem que fazer as compras e cozinhar, até que ladrões tentam invadir sua casa. 
Ano de lançamento: 1990
Onde ver: Disney+

O amor não tira férias
Sinopse: Durante as festas natalinas, duas mulheres decidem trocar de casa e acabam trazendo consequências para suas vidas amorosas. 
Ano de lançamento: 2006
Onde ver: Apple TV, Netflix, Prime Video e Telecine.

O estranho mundo de Jack 
Sinopse: O Rei do Halloween, Jack Esqueleto, tenta assumir o controle do Natal. 
Ano de lançamento: 1993
Onde ver: Disney+

O Grinch
Ano de lançamento: 2000
Onde ver: Apple TV, Google Play Filmes, Globoplay, Netflix e Prime Video

O diário de Noel
Sinopse: De volta à casa onde passou a infância, um escritor conhece uma mulher em busca de respostas. 
Ano de lançamento: 2022
Onde ver: Netflix (original da plataforma)

Something from Tiffany’s
Ano de lançamento: 2022 (a partir de 9 de dezembro)
Sinopse: Quando uma simples mistura de presentes faz com que seus caminhos se cruzem, uma série de reviravoltas levam casais para onde realmente deveriam estar.
Onde ver: Prime Video (original da plataforma)

Uma quedinha de Natal 
Sinopse: Uma herdeira mimada perde a memória em um acidente e acaba sob os cuidados de um desafortunado viúvo e sua filha durante a temporada de Natal.
Ano de lançamento: 2022
Onde ver: Netflix (original da plataforma)

Natal com você
Sinopse: Uma estrela pop em busca de inspiração realiza o desejo de uma fã e acaba encontrando o amor. 
Ano de lançamento: 2022
Onde ver: Netflix (original da plataforma)

Um crush para o Natal
Sinopse: Peter pede que seu melhor amigo finja ser seu namorado para o Natal. Os planos e os sentimentos mudam quando a família dele tenta bancar o cupido.
Ano de lançamento: 2021
Onde ver: Netflix (original da plataforma)

Natal em Evergreen (todos)
Sinopse: A série de filmes anuais acontece na cidade de Evergreen, que é famosa por ter um globo de neve mágico capaz de realizar desejos. A cada filme, há novos protagonistas, além dos personagens já conhecidos. Em 2020, o quarto longa foi lançado, mas ainda não está disponível nos streamings brasileiros. 
Ano de lançamento: 2017 a 2019
Onde ver: Prime Video e Globoplay (original Hallmark Channel)

Natal sob medida 
Sinopse: Um arquiteto vai receber a família no natal e contrata uma coordenadora para o evento. Mas ele não imaginava que ela traria tanta luz à vida dele. 
Onde ver: Netflix, Globoplay e Paramount+ (original Hallmark Channel)

3 séries de Natal para ver: 

Meu papai ainda é Noel
Sinopse: Após três décadas, Scott Calvin considera se aposentar do cargo de Papai Noel. 
Ano de lançamento: 2022
Onde ver: Disney+ (original da plataforma)

Eu odeio Natal
Sinopse: uma enfermeira solteira diz à família que tem um namorado – e tem 24 dias até o Natal para encontrar um. Versão italiana da série norueguesa Namorado de Natal.
Ano de lançamento: 2022 (disponível a partir de 7 de dezembro).
Onde ver: Netflix (original da plataforma)

Dash and Lily
Sinopse: No período de Natal, Dash e Lily trocam mensagens e desafios em um caderno que deixam em diferentes pontos de Nova York.
Ano de lançamento: 2020
Onde ver: Netflix (original da plataforma)

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