O uso do sistema israelense First Mile pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) pôs em risco a soberania nacional. A avaliação é de investigadores da Polícia Federal (PF) que se debruçaram sobre a ferramenta utilizada durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Como já noticiado, a investigação aponta que a Abin se valeu do sistema para monitorar, de forma ilegal, jornalistas e autoridades públicas como ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
A ameaça à soberania nacional estaria configurada uma vez que as informações foram obtidas por meio de um sistema criado em outro país. É que não havia proteção, fiscalização ou regulamentação por parte da Anatel. Os dados de geolocalização iam, sem filtro, para o sistema israelense.
Ou seja: parte da Abin, que tem o dever de zelar pela soberania nacional, teria provocado vulnerabilidade na área.
Ao longo de seus quatro anos de governo, Bolsonaro manteve relação próxima com o governo de Israel, de onde a agência importou o sistema. Dias antes de deixar a Presidência, ele teve uma reunião confidencial com o embaixador israelense, Daniel Zonshine, no Planalto.
Prisão preventiva A Polícia Federal solicitou a lista de todas as pessoas monitoradas pelo First Mile, mas recebeu apenas os números, sem os nomes correspondentes. A postura da Abin, considerada nada colaborativa, irritou os investigadores, que tiveram que se desdobrar para vincular os dígitos aos donos das respectivas linhas telefônicas.
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Rodrigo Colli, profissional da área de Contrainteligência Cibernética da Abin que foi preso Reprodução
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Apreensão de US$ 171.800,00 em espécie na residência de um dos alvos de busca e apreensão e afastamento da função pública, em Brasília/DF PF/Divulgação
Eduardo Arthur Izycki Abin
Eduardo Arthur Izycki trabalhava como oficial de Inteligência da Abin Reprodução/Redes sociais
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A Polícia Federal deflagrou a Operação Última Milha para investigar o uso indevido de sistema de geolocalização de celulares sem autorização da Justiça por servidores da Abin Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
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Policiais cumprem dois mandados de prisão e 25 de busca e apreensão, além de medidas cautelares diversas da prisão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e no Distrito Federal Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
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De acordo com as investigações, o sistema de geolocalização usado pela Abin é um software intrusivo na infraestrutura crítica de telefonia brasileira Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
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A rede de telefonia teria sido invadida diversas vezes, com a utilização do serviço adquirido com recursos públicos Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
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Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
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Entre os alvos que teriam sido monitorados, estão jornalistas, políticos e adversários da gestão de Jair Bolsonaro (PL) Hugo Barreto/Metrópoles @hugobarretophoto
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Viatura chega à sede da Polícia Federal durante a operação Última Milha. Deflagrada na manhã desta sexta-feira, a operação investiga o monitoramento ilegal de celulares pela Agência Brasileira de Inteligência(Abin) Breno Esaki/Metrópoles @BrenoEsakiFoto
Helicóptero chega à PF
Helicóptero pousa na sede da PF Breno Esaki/Metrópoles
A suposta tentativa de obstruir as investigações fez com que, na PF, fosse discutida a prisão preventiva de mais servidores da Abin, além dos dois que foram detidos. Coube ao comando da Polícia Federal jogar água na fervura e evitar que mais servidores da agência fossem alvo da operação.