Ensina o professor Jeferson Bacelar como uma das táticas para ler o mundo, o conceito de “racismo de classe”, aquisição preciosa do invicto curso de Antropossociologia do Futebol no Ceao/Ufba.
Não vale ódio étnico, pois a desigualdade alcança maioria preta, mas há brancos não-proprietários de meios de produção, acrescida a impossibilidade de se dizer “preto” ou “branco”, dada a mestiçagem.
Noves fora estas arestas, o racismo vem sendo enfrentado, no futebol contemporâneo, pelo campeão Vinicius Júnior, em sorridente pretitude capaz de deter o nazifascismo em seu retorno mundial via futebol.
Vinicius é uma expressão da resistência ao racismo de classe e seu “novo” perfil vomitativo, o neoliberalismo, um disfarce para hitlers e mussolinis, agora vestidos em roupinha de primeira comunhão.
Confirma o craque-melanina uma hipótese incessantemente testada (como deve ser) pelos pesquisadores independentes do Grupo de Estudos de Futebol, Cultura e Sociedade (Gefucs).
Em seus estudos inéditos, verifica a agremiação anarco-epistêmica a condução de aspectos da história de fatos confirmados do futebol baiano à luz do “racismo de classe”. Senão vejamos:
A primeira organização teve clubes da elite branca, o Victoria, o Internacional de Cricket, o São Paulo-Bahia e o Bahiano de Remo.
Esta juventude da burguesia do Corredor da Vitória, da comunidade de origem britânica, estudantes paulistas de medicina e adeptos da eugenia (“melhoria racial”) fundaram a liga-mãe em 1904, na Mouraria.
Durou até 1912 o campeonato branco, cedendo à pressão de ex-escravizados, retirando-se ou extinguindo-se os clubes fundadores, insatisfeitos em misturar-se a pretos e pobres (racismo de classe).
Surge, então, uma frente ampla, pois os burgueses brancos de boa vontade uniram-se aos excluídos, criando ambiente plural. Ou seja, não basta a epiderme, tem de contextualizar.
É o tempo do Fluminense, antagônico ao tricolor do Rio, duas vezes campeão, todo formado por pretos de semblante sério, conforme revelam as poucas fotos deste admirável team.
Quem tinha dinheiro para comprar bolas e uniformes uniu-se a quem sabia jogar: surge o Ypiranga, alcançando a hegemonia, ao aceitar dirigentes de elite, após duas falências consecutivas.
Notem o quanto a suposta “realidade” é troncha a ponto de nos exigir paciência e capacidade de pensamento para navegar em seus “leandros” sinuosos, muito ao invés da “coerência” de concluir “isso” ou “aquilo” a partir de pressuposto fenotípico de aparência.
Reúnem-se outra vez os eugenistas para atacar a feição multiétnica ao investirem na construção do Campo da Graça, em 1920.
Pensavam recuperar a hegemonia, os adeptos do Victoria, Yankee, Athletica (Associação), campeã de 24, e Bahiano, campeão de 27, mas só que não, pois mantiveram-se hegemônicos o Ypiranga e o Botafogo do Corpo de Bombeiros.
O domínio popular seguiu na Fonte Nova, em 1951, mas sofreu revés no modelo Arena, prevalecente em escala planetária, sugerindo a volta dos supremacistas e seu asqueroso “racismo de classe”.
O futebol teria reaberto a porta do inferno ao oferecer o espetáculo apenas a quem pode pagar, banalizando o absurdo de uma torcida com direito a viver e todas as outras condenadas ao extermínio.
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.