Investir em diversidade e inclusão precisa ser algo visto como algo que vai gerar transformações sociais e econômicas positivas, como uma fonte de riqueza e transformação, defende o publicitário, empreendedor e consultor em diversidade, Paulo Rogério Nunes, autor do livro Oportunidades Invisíveis.
“Precisamos de uma virada de chave. Por muito tempo se olhou para a inclusão como algo que precisava ser feito por caridade e esquecemos de olhar o quanto o país perde ao não ser inclusivo e o quanto pode ganhar quando mudar isso”, defende.
Um dos cofundadores da holding Vale do Dendê, Paulo Rogério explica que gosta de se apresentar como um “conectólogo” porque teve a sua vida profissional construída em torno de conexões. “Os lugares que eu consegui acessar eram praticamente improváveis para pessoas que tiveram a mesma origem que eu, mas eu consegui chegar lá a partir do poder das conexões”, diz. “Eu acredito muito no poder da mentoria, do diálogo e das pontes. Eu gosto muito do que o meu amigo Edu Lyra, da Gerando Falcões, diz, que ‘nós precisamos de menos muros e mais pontes’ aqui no Brasil”, completa.
“Eu conheci pessoas que me direcionaram para caminhos muito positivos e é o que eu tento fazer hoje, para devolver um pouco à sociedade. Ouvi pessoas que me disseram ‘leia este livro, assista aquele filme’, então me sinto na obrigação de fazer igual”, explica.
Publicitário, empreendedor e consultor em diversidade, Paulo Rogério foi membro do Berkman Klein Center da Universidade Harvard e foi fellow da Fulbright na Universidade de Maryland. Foi escolhido como um dos afrodescendentes mais influentes do mundo, em 2018, pela organização Most Influential People of African Descent (MIPAD).
Ele já prestou consultoria para várias organizações internacionais e grandes corporações. Paulo Rogério é também um dos fundadores da Vale do Dendê, que acelera e investe em startups da área criativa e digital em Salvador e da AFRO.TV, uma startup digital de mídia negra. Este ano, foi eleito pela revista Rest of the World com um dos mais inovadores fora do Vale do Silício, junto com os fundadores do Nubank, TikTok e Telegram.
Criado na periferia de Salvador, Paulo Rogério se dedica tanto a entender a realidade quanto a mostrar a riqueza e o potencial que a população dessas localidades têm. “Nós temos um problema muito grande de imagem, de representação e de visibilidade. A sociedade, muitas vezes dá muita visibilidade ao lado negativo das coisas”, aponta. Para ele, isso faz parte do instinto de autodefesa das pessoas, porém, complementa, isso provoca um “esquecimento” em relação ao que há de positivo.
“É um pouco do que eu apresento em meu livro, temos que passar a dar visibilidade para quem consegue fazer coisas incríveis sem recursos, sem estar no centro dos palcos, ou na luz da mídia”, afirma. “Temos que trabalhar para colocar luz naquelas pessoas que nunca tiveram oportunidades”, defende. Para Paulo Roberto, o cenário tem relação com a matriz econômica sob a qual o Brasil foi construído. O cofundador da holding Vale do Dendê acredita que é preciso olhar mais para o potencial do país e a sua capacidade para a geração de riquezas.
Para Paulo Rogério, a transformação econômica do Brasil passa também por um processo de transformação social. “Temos que encarar a necessidade de dar oportunidades para as pessoas como algo prioritário. É muito triste quando você chega numa periferia do país e vê os jovens, que poderiam estar estudando ou trabalhando, fazendo algo produtivo, sem uma alternativa. Eles estão vivendo um processo de exclusão e marginalização, quando poderiam estar estudando tecnologia, robótica, aprendendo uma atividade esportiva, etc”, exemplifica.
“Eu realmente acredito que a gente precisa investir nas pessoas porque isso gera riqueza para o país”, ressalta. Como exemplo, Paulo cita um estudo do Citibank mostrando que em uma década os Estados Unidos perderam US$ 16 trilhões por conta do racismo. “Isso nos Estados Unidos, que é um país onde nós olhamos para a TV e tem o Will Smith, a Oprah, um monte de artistas e empresários negros. Se olharmos para o Brasil, este cálculo vai precisar ser refeito”, acredita.
Criada para fazer referência ao Vale do Silício, um dos maiores centros tecnológicos do planeta, a Vale do Dendêse distingue pelo “tempero baiano”, como aponta Hélio Santos, doutor em Administração e mestre em Finanças, pela USP. “Nosso tempero pode ser visto a cada vez que você vai ao Centro Histórico, porque sempre que você chega ao Pelourinho é como se estivesse num portal em que acontece de tudo”, exemplifica.