São Paulo — O apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) em sua campanha pela reeleição em São Paulo causou uma crise no bolsonarismo.
Apoiadores de Jair Bolsonaro estão inundando as redes sociais do ex-presidente com críticas após a confirmação da disputa do segundo turno na capital entre Nunes e Guilherme Boulos (PSol). Para essa ala de bolsonaristas, o político deveria ter apoiado Pablo Marçal (PRTB), que ficou em terceiro na eleição.
Um dos comentários, em uma postagem crítica ao PT, diz “você abandonou São Paulo, ninguém vai perdoar”. Outro afirmou: “Vou de Boulos, 50! Só de raiva”.
Os ataques também apareceram em uma foto do ex-presidente comentando o Marco Legal do Saneamento. Os usuários se disseram decepcionados com a falta de críticas de Bolsonaro ao que chamaram de censura às redes sociais de Marçal, que teve perfis derrubados depois de divulgar um laudo falso sobre Boulos ser usuário de drogas.
Nunes e Marçal disputaram o protagonismo do campo da direita nesta eleição municipal. Com isso, o apoio do ex-presidente entrou em disputa entre os concorrentes.
A relação de Jair Bolsonaro com Ricardo Nunes nunca foi muito sólida. O ex-presidente havia dado sinais de simpatia a Marçal enquanto o influenciador apresentava tendência de subida nas pesquisas. Em uma entrevista a uma rádio do Rio Grande do Norte, em 15 de agosto, disse que Marçal era inteligente e que Nunes não era seu “candidato dos sonhos”, mas sem romper com o prefeito.
Porém, ainda insatisfeito com o prefeito, no começo do mês, o ex-presidente abriu espaço para o ex-coach na manifestação de 7 de setembro na Paulista. Foi esse evento que marcou o rompimento entre ambos, pela constatação, por parte de Bolsonaro, de que Marçal tentou buscar um protagonismo maior do que o do ex-presidente entre seu público. O ponto final da relação se deu após a cadeirada que José Luiz Datena deu em Marçal no debate promovido pela TV Cultura. Na ocasião, o influenciador comparou a agressão sofrida à facada que Bolsonaro levou durante a campanha presidencial de 2018, o que enfureceu o ex-presidente.
“Usar um episódio dessa cadeirada, que ele provocou, para buscar se comparar comigo, com o Trump, para conseguir o poder, é lamentável”, disse Bolsonaro. O ex-presidente acrescentou que é possível uma pessoa votar errado, “agora, quando você já vota sabendo que vai errar, há uma diferença muito grande”.
A partir daí, Nunes e Bolsonaro estreitaram as relações. O emedebista passou a defender na campanha várias bandeiras bolsonaristas, como a anistia aos presos de 8 de janeiro de 2023 e posições contrárias ao aborto. Em contrapartida, o ex-presidente participou mais ativamente da disputa ao lado de Nunes, especialmente com vídeos pedindo votos.