InícioEditorialWandinha tem o tom gótico e humor ácido de Tim Burton

Wandinha tem o tom gótico e humor ácido de Tim Burton

Jenna Ortega é Wandinha

Criada nos anos 1930 pelo cartunista Charles Addams (1912-1988), A Família Addams estreou nas tirinhas de humor na prestigiada revista The New Yorker e permaneceu ali por por mais de cinco décadas. Mas não foi só na forma impressa que os bizarros e cômicos personagens apareceram: eles ganharam também a televisão, o cinema, videogames, musicais, animações… agora, é a vez dos Addams chegarem ao streaming.

Na verdade, é a vez de Wandinha, a adolescente simpática e esquisitinha da família, chegar à Netflix em uma produção em que ela é a protagonista. A série em oito episódios tem a marca de um dos diretores mais estilosos e talentosos de Hollywood: Tim Burton, consagrado por filmes como Alice no País das Maravilhas (2010), A Noiva Cadáver (2005) e Batman (1989).

E a assinatura do cineasta, como sempre, é evidente, com a característica atmosfera ora gótica, ora ultra colorida, mas sempre meio sombria. E esse caráter sombrio surge mesmo quando há uma dose de humor, como neste Wandinha, que vai remeter o espectador imediatamente à atmosfera de obras passadas do cineasta, como Os Fantasmas se Divertem (1988) e O Estranho Mundo de Jack (1993).

Nesta primeira produção de Burton criada diretamente para o streaming, Wandinha é interpretada por Jenna Ortega, que está na segunda temporada da série You e Pânico 5. E o diretor acertou no alvo! Jenna tem o carisma necessário para a personagem, incorpora muito bem seu espírito blasé e  arrogante. Mas, ainda assim, consegue ser simpática aos olhos do espectador, que acaba conquistado por ela.

O olhar expressivo que Jenna imprime à personagem é a maior marca de sua interpretação. A atriz, em uma entrevista à revista Teen Vogue, dá uma pista de como isso foi construído: “Em algum momento durante as primeiras semanas de filmagem, fiz uma tomada em que não pisquei. E Tim [Burton] disse: ‘Não quero que você pisque mais …’”. 

Jenna passou também por um treinamento rígido, que incluía exercitar um jeito de andar específico, aprender a tocar cello e fazer aulas de esgrima, instrumento e esporte que a personagem pratica.

História
Na série, a protagonista está chegando a uma nova escola, “especial para excluídos”, depois de ter sido expulsa de oito instituições em cinco anos, por causa de seu comportamento socialmente reprovável. O internato, chamado Nunca Mais, é o mesmo onde os pais dela, Morticia e Gomes Addams, estudaram. Os dois, que aparecem pouco na série, são interpretados por Catherine Zeta-Jones e Luis Guzmán. No cinema, Anjelica Huston e Raul Julia intepretaram os pais da menina.

Rejeitada pelos colegas nas escolas convencionais, Wandinha aprontou de tudo por lá e, para defender o irmão Feioso, chegou a jogar umas piranhas numa piscina, para se vingar de jovens que haviam praticado bullying contra ele. “Só eu posso torturar meu irmão”, diz Wandinha, antes de praticar a maldade contra os algozes de Feioso, numa frase muito característica do humor da série – e que, também, tem a cara de Tim Burton.

Mas, nem nova escola, para “excluídos”, a menina, antissocial por natureza, consegue se sentir aceita. E, para seu azar, logo que chega ao internato, Wandinha descobre que sua companheira de quarto é a antítese dela: alegre, sorridente e adora um visual ultracolorido, enquanto a protagonista está sempre sisuda e si diz “alérgica” a cores. “Minha pele tem feridas e cai quando tem contato com cores”, diz Wandinha, que, com seu mau humor – e até por causa dele – nos conquista facilmente.

Em resumo, a série Wandinha tem o humor ácido dos Addams com o toque particular sombrio de Burton, que estreia no streaming com o seu velho estilo e, por diversos momentos, lembra seus melhores filmes. É como diz o produtor executivo da série, Miles Millar: “Não é uma série de TV. É um filme de Tim Burton em versão estendida”.

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