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29 mulheres relatam ter sido vítimas de assédio sexual por sócio de restaurante

Vinte e nove outros casos vieram à tona após a denúncia de assédio sexual que teria sido praticado pelo relações-públicas Pedro Miguel de Oliveira Silva, 59 anos, contra três menores de idade no restaurante 33 Steakhouse, do qual é sócio. A situação com as adolescentes no estabelecimento, que fica no Salvador Shopping, aconteceu na sexta-feira (3). Pedro foi afastado das atividades da empresa, onde está há 17 anos. 

Com a mobilização feita em redes sociais pela mãe de uma delas, a publicitária Paloma Portela, 37, e pela irmã de outra vítima, a advogada Judith Cerqueira, 24, outras mulheres se sentiram encorajadas para relatar, nas redes sociais, antigas práticas de assédio por parte de Pedro Miguel nas dependências do 33 Steakhouse. 

“Eu e Judith, após ser divulgado na mídia, recebemos contato de diversas meninas que passaram por isso”, informou Paloma, que disse ter sido procurada, também, por, ao menos, quatro ex-funcionárias do relações-públicas. 

“Eu recebi contato de ex-funcionária que trabalhou com ele há mais de 12 anos, e ele já vinha cometendo esse tipo de ação”, relatou a publicitária. O número de vítimas, aliás, pode ser ainda maior. “Essas pessoas que denunciaram falaram que conhecem outras, de diversas idades”, destacou ela. 

Relatos 
Duas pessoas que se disseram vítimas de Pedro Miguel aceitaram conversar com o CORREIO, com a ressalva de que suas identidades fossem preservadas. Cíntia (nome fictício), 35, passou por situações de assédio com o mesmo homem em duas ocasiões diferentes — a primeira delas, em 2020. 

“Estava jantando e tomando vinho com duas amigas no restaurante 33 e ele se apresentou como sócio e sentou perto da gente. Estávamos sentadas em umas poltronas”, começou a contar. Assim como fez com as adolescentes, o suspeito abordou Cíntia e suas amigas oferecendo um convite para a ir à casa dele e passear de lancha. “Quando li a reportagem do Correio no Instagram, tive certeza que se tratava dele.” 

Cíntia, então, relembrou o ocorrido. “Quando sentou, ele nos ofereceu uma garrafa de vinho e posteriormente nos convidou para ir ao apartamento dele, que disse que ficava em um village no Rio Vermelho. Mas não fomos”, disse. Mesmo com a recusa, segundo ela, o suspeito pediu seu número de telefone. “Eu dei, por educação.” 

Após o episódio, a mulher retornou ao 33 Steakhouse só em janeiro deste ano. “Desta vez estávamos tomando vinho também numa mesa próxima à saída e ele nos abordou nos perguntando o que faríamos no outro dia”, relembrou ela, que recebeu, à véspera do Dia de Iemanjá, via WhatsApp, um novo convite de Pedro Miguel, novamente recusado. 

Também há três anos, em março de 2020, Verônica (nome fictício), 42, foi ao restaurante. Porém sozinha. “Como era sexta-feira, pedi um gin. Aí, esse Pedro se aproximou e pediu licença pra sentar na minha mesa”, afirmou ela. O pedido do homem foi negado, mas ele não desistiu. “Aí, falou: ‘Tá passeando?”, ao que ela respondeu que tinha ido realizar alguns pagamentos e procurar emprego. 

“Perguntou se eu queria trabalhar pra ele, e eu disse que ‘não’. Aí, pedi pra ele se retirar, porque eu tava esperando uma amiga”, prosseguiu Verônica. De acordo com a mulher, instantes depois, Pedro Miguel tentou passar a mão numa de suas pernas. “Aí, eu peguei e empurrei ele.” 

Apesar disso, o sócio do 33 Steakhouse persistiu e não saiu da mesa. “Ele botou a mão dele nas partes íntimas e começou a fazer gestos”, recorda-se a suposta vítima. “Aí, eu joguei o gin na cara dele. E ele disse: ‘Pra que isso?!’”, contou. Somente após ela ter ameaçado gritar e chamar a polícia foi que o homem resolveu se afastar. 

A reportagem entrou em contato com Pedro Miguel por telefone e rede social, mas ele não atendeu nem respondeu às mensagens. 

Constrangimento 
Assustada, Verônica, até então, guardava a história para si. “Só resolvi falar por se tratar de menores de idade”, comentou, em referência ao caso das adolescentes. Ainda assim, ela não pretende formalizar a denúncia. “Eu não quero expor meu filho, e a Justiça aqui nunca é 100%”, justificou. Cíntia também não foi à delegacia, mas disse ter se disposto a ser testemunha das jovens. 

Em casos de assédio e abuso sexuais, é natural que as vítimas tenham dificuldade de denunciar, tanto por aquilo representar um trauma como por outros motivos. Com isso, torna-se comum esse movimento de fazer relatos em redes sociais para, em algumas situações, ir à polícia depois, como no caso do médium João de Deus. 

“Vergonha, impunidade, chacota não só da sociedade como também dos órgãos muitas vezes. Eles têm que estar preparados para receber essas mulheres, e não para afastá-las”, sinalizou a advogada Helaine Marina, pesquisadora na área de gênero, raça e classe, que relembrou que mesmo famosas que foram vítimas de violência sexual, como a atriz Klara Castanho, passam por constrangimentos. 

“Existe um pensamento de que tudo pode ser justificável: como foi que essas meninas se comportaram? Por que elas estavam num restaurante tão caro?”, continuou a exemplificar a advogada. 

Investigações 
Questionada se sabia dos novos casos que circulam na internet – ou tinha recebido outra denúncia formal -, a Polícia Civil informou que o homem já foi identificado, intimado e prestará esclarecimentos na Delegacia Especializada de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca). “Detalhes não podem ser divulgados neste momento”, enfatizou a PC. 

Conforme Helaine Marina, porém, mesmo que o termo ‘denúncia’ se refira à peça feita pelo Ministério Público ao juiz em casos de crimes de ação penal pública, pelo fato de se tratar de crime contra a dignidade sexual, caberia uma ação penal pública incondicionada à representação da vítima. “Basta que a autoridade policial tome conhecimento daquele crime, independentemente do consentimento da vítima”, explicou a advogada. 

Caso a própria vítima queira dar ciência do caso às autoridades, ela tem à disposição, por exemplo, os números de telefone 180 e 190 e a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), que, em Salvador, conta com unidades nos bairros do Engenho Velho de Brotas e Periperi. 

Relembre o caso 
Segundo Judith Cerqueira, um homem idoso que seria sócio do 33 Steakhouse se sentou à mesa com as meninas e iniciou os assédios. “Começou a insistir para que elas pegassem o número dele. Falou que iria levá-las para fazer um passeio de lancha e chamou para viajar. Falou ainda que iria abrir uma boate e colocaria elas dentro. Chamou outros homens do restaurante para poder mostrar as meninas menores de idade”, relatou, indignada. 

As meninas chegaram a comunicar ao homem que todas eram menores, mas ele teria respondido que “não tem problema gostar de menores de idade”. Em seguida, ele teria pedido para manter a conversa deles em segredo. Nesse momento, uma mulher na mesa ao lado ouviu toda a conversa e saiu em defesa das garotas, que ligaram para Judith. 

“Eu, como toda irmã mais velha faria, me dirigi até o local e fechei uma briga com este sujeito, na frente de todos do restaurante. Ele, por diversas vezes, deu as costas, fingindo que não era com ele, e tentou me fazer de doida. Repeti, gritando, tudo o que ele disse para as meninas, para todos verem o tipo de verme que é sócio do local”, escreveu a advogada na publicação.  

Ao CORREIO Judith contou que, após ser confrontado, o homem negou tudo. “Ele veio tentar explicar, dizendo que não sabia que elas eram menores de idade, sendo que ele sabia… O garçom veio se dirigir até a mesa para falar que esta não era a primeira vez que ele [o sócio] age desta forma. O garçom não disse se era em relação a menores de idade, mas vamos tomar aqui como uma atitude no geral”, disse. 

Logo após o caso, a advogada registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Criança e o Adolescente (Dercca), que abriu um inquérito para apurar o caso. A advogada ainda contou que as meninas estão em situação ‘bem delicada’ e passam por acompanhamento psicológico desde o ocorrido. 

“Duas delas já fazem acompanhamento psicológico, inclusive, a gente precisou marcar uma consulta de urgência. E uma passou a fazer o acompanhamento após o ocorrido. Elas estão recebendo todo o apoio e, graças a Deus, a equipe da delegacia tem sido ótima”, destacou. 

Restaurante diz manter repúdio; clientes querem boicote 

Logo na primeira denúncia, o 33 Steakhouse, por meio de sua assessoria, declarou que “a empresa e seus sócios repudiam qualquer tipo de assédio e está tomando todas as medidas cabíveis para o melhor esclarecimento da situação. Primamos pela excelência no atendimento, comprovados ao longo da nossa existência, pautados pelo bem servir aos baianos, e fiéis aos nossos valores bem como da sociedade.” 

Na oportunidade, o restaurante informou, ainda, que todas as imagens das câmeras de segurança foram fornecidas e que elas “mostram que a conversa não durou mais que dois minutos. Ele [o proprietário] se retirou assim que soube que elas eram menores… Talvez tenha ocorrido uma falha de interpretação.” 

Em novo contato feito pela reportagem nesta quinta-feira (9), a empresa afirmou que “mantém a posição de repúdio e segue colaborando com as investigações, que correm em sigilo, por envolver menores, e devem ser apuradas com extremo rigor. Portanto, o relações-públicas, já afastado, esclarecerá os fatos às autoridades”. 

Na internet, muitas pessoas têm anunciado boicote ao 33 Steakhouse e cobrado medidas ao Salvador Shopping. “Aguardar a decisão judicial pode demorar. Agora o boicote ao restaurante 33 Steakhouse pode iniciar imediatamente. A minha parte será feita”, comentou um usuário. 

O restaurante, inclusive, desativou os comentários nas publicações em seu perfil no Instagram. Já o centro de compras tem dado a mesma resposta enviada à imprensa: “Não compactuamos com nenhuma forma de assédio. Entendemos que a denúncia já foi levada às autoridades competentes e o shopping está à disposição para colaborar com a investigação.” 

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