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31 de março de 1964: uma data a ser lembrada, e não esquecida

Cobrou-se, agora menos, mas sempre se cobrará uma autocrítica do PT. O partido que governou o país por quase 13 anos, e que agora volta a governar, cometeu acertos, mas também muitos erros, como os escândalos do mensalão e petrolão, e a condução desastrosa da economia no período da presidente Dilma Rousseff.

O conceito de “crítica e autocrítica” desenvolveu-se durante o período stalinista da União Soviética como uma forma de interrogar publicamente os intelectuais apontados como suspeitos de possuírem posições contrarrevolucionárias. Stalin, o ditador, valeu-se dele para livrar-se dos que lhe podiam fazer sombra.

No caso do mensalão em meados de 2005 (compra de votos de deputados federais para aprovar projetos de interesse do governo), Lula chorou quando lhe contaram e foi à televisão dizer que havia sido traído. Não deu o nome dos traidores. Reelegeu-se no ano seguinte. E, mais tarde, passou a dizer que o mensalão jamais existiu.

Ficou-lhe mais difícil negar o petrolão (desvio de dinheiro da Petrobras para enriquecer os que dele se beneficiaram e financiar campanhas políticas). Lula sempre defendeu sua inocência. Nunca se descobriu uma única conta dele. E o Supremo Tribunal Federal anulou suas condenações, devolvendo-lhe a elegibilidade.

Quem ficou mal foi o ex-juiz Sérgio Moro, que o condenou e prendeu. O tribunal declarou Moro um juiz parcial, aliado dos promotores da Lava Jato para cassar os direitos políticos de Lula e impedi-lo de disputar as eleições de 2018, vencidas pelo ex-capitão Bolsonaro com o apoio dos militares que nos anos 80 o rejeitaram.

De Moro, até aqui, autocrítica jamais foi cobrada por quem poderia fazê-lo. E ele, espontaneamente, não cogita disso. Despiu a toga para servir como ministro ao presidente que ajudou a eleger. Deixou o governo acusando-o de interferência na Polícia Federal e insinuando que era corrupto. Reatou com ele e se elegeu senador.

Não seria o caso de cobrarmos de Moro uma autocrítica, ou ele está dispensado, e por quê? Só porque nós, jornalistas, à época, nos extasiamos com tudo o que ele nos ofereceu de graça, e quando nos demos conta do engodo já era tarde demais? Todo cuidado com o que ele diz ou disser é pouco; já vimos e veremos de novo.

Aprendemos nos últimos 4 anos a distinguir entre verdade e mentira nas falas de Bolsonaro, denunciando as mentiras. Mas, se eram mentiras, por que as passamos adiante para deleite dele e dos seus seguidores? Por que simplesmente não as ignoramos? Por que ele era o presidente? E agora que não é: porque foi presidente?

Quanto tempo parte da mídia não levou para chamar a ditadura militar de 64 pelo que ela foi – uma ditadura? “Foi fácil entrar na ditadura, difícil foi sair”, escreveu o jornalista Elio Gaspari. Em 1992, o manual de um importante jornal ainda recomendava designar a ditadura como “movimento militar”, ditadura, não.

Em 2001, segundo o manual, “em textos noticiosos” podia-se “usar a expressão ditadura militar para designar o regime que vigorou no Brasil de 1964 a 1985″. Foi só na versão de 2018 do manual que se assumiu de modo claro que “a expressão ditadura militar designa o regime que vigorou no Brasil de 1964 a 1985”. Ufa!

Daqui a quatro dias, a ditadura militar de 64 completará 59 anos. Os atuais comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica prometeram a Lula que a data não será lembrada por eles. Deveria ser, sim, se fosse para fazer uma autocrítica e pedir perdão pelos crimes cometidos. Esquecê-los não significa arrependimento.

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