Eleger qualquer candidato a presidente no primeiro turno não é lhe passar um cheque em branco para que governe como quiser. Não foi em 1994 quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se elegeu, nem em 1998 quando se reelegeu. Nas duas vezes, ele derrotou Lula (PT) por 54% a 27% e 53% a 31% dos votos válidos.
Diz a lei que você precisa de 50% dos votos + 1 para se eleger direto no primeiro turno. Em 2018, Bolsonaro teve 46%. Lula, Dilma e Bolsonaro só foram eleitos no segundo turno. Por ser autoritário, Bolsonaro entendeu a vitória como um cheque em branco. Por democratas, Lula, Dilma e Fernando Henrique, não.
A eleição deste ano não será uma eleição normal porque o presidente que aspira a um novo mandato não é um presidente normal. Nenhum dos seus antecessores conspirou contra a democracia restabelecida no país depois de 21 anos de ditadura militar; Bolsonaro não só conspira como quer derrubá-la.
O discurso do ódio e da destruição do que ele chama de “sistema” está na boca de quem? Qual foi o presidente que mais tencionou o país de 1985 para cá? Qual foi o único que recomendou às pessoas que se armassem? Qual foi o que menos demonstrou empatia pelos que sofrem? Qual foi o que mais desvalorizou a vida alheia?
Os preparativos do golpe avançam e podem ser vistos por quem tem olhos para ver e preza a democracia. Serão maiores as chances de o golpe frustrar-se se qualquer outro dos candidatos for eleito no primeiro turno com uma maioria confortável de votos. Quanto mais expressiva for sua vitória, menor será o risco de golpe.
Ora, direis: pede votos para Lula? Respondo: não. Sugiro que se eleja um presidente no primeiro turno, qualquer um, menos Bolsonaro. Há nomes dignos de serem votados. Em todas as eleições há nomes dignos. Não venha depois com a desculpa de que só havia de fato dois nomes e que foi uma escolha difícil.
Pelo que fez ou deixou de fazer, pelo que é, pelo que sempre foi e representa, Bolsonaro não merece ser reeleito.
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