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Dia mais frio da história castiga sem-tetos no DF: “Mãos congeladas”

Nessa quinta-feira (19/5), a capital registrou o dia mais frio de sua história, quando termômetros do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) marcaram 1,4ºC na estação meteorológica do Gama. A queda na temperatura esta semana, ocasionada por uma onda de ar polar, colocou em alerta a população do Distrito Federal por risco potencial à saúde. Vulnerável, a população em situação de rua é a mais afetada.

“A hora que vi que tava frio de verdade foi quando acordei, fui puxar o carrinho, mas não conseguia, a mão tava congelada”, contou Jonas Pereira, 23 anos. Questionado sobre a melhor maneira de encarar o frio, o jovem explica que a única forma é “se virar do jeito que dá”. Para a madrugada desta sexta-feira, por exemplo, ele planejava montar um barraco de papelão para cortar o vento.

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  • Há cinco anos nas ruas, Jonas agradece a companhia do seu melhor amigo, o cachorro Bob. Os dois aquecem um ao outro nas noites mais frias. “Ele sente frio, a gente dorme no mesmo canto, ele fica no meu pé”, explicou o morador de rua.

    O risco à vida dessa população mobilizou o trabalho de voluntários, que, com os termômetros batendo recordes de baixas de temperaturas, reforçaram campanhas para doações de agasalhos, cobertas e outros vestuários para o frio. Jonas era um dos que estavam no Setor Comercial Sul (SCS) na noite dessa quinta-feira, em busca dessa ajuda.


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    De acordo com a ONG Salve a Si, que organizou a ação, foram distribuídas 500 quentinhas. Além disso, os voluntários ofereceram serviços de corte de cabelo e banho quente, com água na temperatura de 40ºC. A população vulnerável também ganhou gorros e cobertores.

    “Um grupo distribui dentro da cracolândia para quem não consegue sair de lá para comer. Todos estão reclamando demais do frio, sempre existe o risco de choque hipotérmico”, explicou o fundador e presidente da ONG, Henrique França.

    copos brancos com líquido marrom
    ONG Salve a Si distribuiu chocolate quente e quentinhas no Setor Comercial Sul

    Marivaldo da Silva, 52, que mora na rua há 26 anos, ele não sentia o frio que ele passou esta semana “há muitos anos”. “Para a gente que mora na rua, essa coisas acontecem. São coisas da natureza. Pode ser o aquecimento global ou só uma frente fria, mas muita gente [mais nova] nunca passou um frio desses”, comentou.

    Ele conta que não enfrentou a madrugada de quinta-feira no pior cenário possível. Para o dia mais frio da história de Brasília, Marivaldo juntou três cobertores. “Consegui dois cobertor [sic], um lençol e depois encontrei outro cobertor. Felizmente estou com saúde,  trabalhando durante o dia, ganhando meu dinheiro”, comemora o homem.


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    Mas nem todos os sem-tetos têm a mesma sorte ou experiência. Em situação de rua há dois anos, Fábio Rodrigues, 44, afirma que passou o dia mais frio do ano “na marra”, assim como todo mundo. “Hoje facilitou. Agora que tenho outra coberta”, comemorou, mostrando o tecido de lã dado pelos voluntários da ONG Salve a Si.

    No entanto, quando questionado sobre como se sentia, por ter de viver na rua o dia de frio, desabafou: “Me sinto um nada. Na verdade, é como se a gente fosse invisível na sociedade. Sociedade hipócrita. Essa é minha forma de pensar”, protestou Fábio.

    Arrecadação de casacos e outras ações

    O perigo causado pelo frio, em especial para a população de rua, continua no Distrito Federal. O Inmet emitiu alerta amarelo, para o potencial perigo de geadas na capital das 4h da madrugada desta sexta-feira (20/5) até as 8h da manhã.

    Assim, ONGs e o próprio governo se mobilizam para ajudar a população vulnerável. A Salve a Si, que organizou a ação dessa quinta, vai lançar uma campanha nos próximos dias. “Vamos fazer um trabalho de madrugada, que é quando mais a população em situação de rua precisa de ajuda para esquentar. Se em maio já está assim, imagina como vai ser no inverno”, pondera Henrique França.

    Campanhas arrecadam agasalhos no Distrito Federal. Veja como doar

    Mas não só o terceiro setor que arregaça as mangas. A partir da próxima segunda-feira (23/5), o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) promove a “Campanha Agasalho Solidário 2022”. Os interessados poderão deixar a doação em qualquer quartel operacional da corporação, bem como no centro de capacitação física e na academia de bombeiros, ambos no Setor Policial Sul, além do quartel do comando-geral, no Setor de Administração Municipal.

    O foco da campanha será a arrecadação de agasalhos e cobertores, mas também receberá lençóis, roupas e calçados.

    Assim como os bombeiros, a Polícia Militar do DF (PMDF) também está com campanha do agasalho aberta. As doações podem ser feitas até 17 de junho, em todas as unidades da corporação.


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    Outra iniciativa de arrecadação de casacos é movida pelo grupo Inspiração, que junta os agasalhos em uma campanha relâmpago, devido à urgência da situação. A iniciativa busca doações via Pix para comprar 150 casacos no valor de R$ 24 cada. Para doar, basta depositar na chave Pix [email protected], que receberá contribuições até esta sexta-feira (20/5). Após o valor ser arrecadado e investido na campanha, a organizadora, Elizabeth Habbema, fará uma prestação de contas, detalhando como o montante foi utilizado.

    A ONG BSB Invisível também começou a campanha contra o frio. A mobilização tenta arrecadar dinheiro para a compra de cobertores e moletons nunca usados. As doações podem ser feitas pelo Pix 39.826.188/0001-67 até julho. As entregas começaram e estão ocorrendo durante a noite, em diversos pontos da capital federal. Contato da organização: Maria Baqui, (61) 98151-5503.

    Além dos moletons, estão sendo entregues cobertores, também novos. Em 2021, a campanha entregou 400 moletons e mais de 1 mil cobertores para a população em situação de rua.

    O mesmo ocorre no projeto solidário Pão com Ovo. O grupo arrecada fundos pelo Pix 384.870.122-72, para a compra de 5 mil cobertores.

    O grupo No Setor entra no terceiro ano da campanha “Aqueça Vidas”. As doações de cobertores, agasalhos, calças, meias, tênis, chinelos e acessórios para o frio, como cachecol, touca e luva, podem ser feitas em diversos pontos de coleta. Confira:

    • Águas Claras – Jajá (61) 99432-9889;
    • Asa Norte – Hellen (61) 98242-0205;
    • Cruzeiro Velho – Maria (61) 98103-8489;
    • Guará 2 – Sandra (61) 99690-8046;
    • Jardim Botânico – Higo (61) 99139-0085;
    • Santa Maria – Ítalo (61) 98364-9565;
    • UnB – Mariana (61) 99333-5821;
    • Vicente Pires – Letícia (61) 99228-2682.

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