InícioEditorialUma democracia séria (por André Gustavo Stumpf)

Uma democracia séria (por André Gustavo Stumpf)

O esperado debate promovido pela TV Globo entre os principais candidatos à presidência da República, em rede nacional, decepcionou. Foi longo demais, quase três e hora e meia, e improdutivo. O formato não permitiu o contraditório e estimulou curtas estocadas. Não houve espaço para formulações mais detalhadas. Os candidatos se limitaram a discutir o passado, falar de corrupção, desvios, malfeitos, nenhum projeto para o futuro. Ficaram nas provocações e xingamentos recíprocos. Não aproveitaram o momento para tentar convencer o eleitor. A candidata Simone Tebet, do MDB, salvou-se do naufrágio geral. Foi ela que, nas brechas possíveis, anunciou propostas e soluções. Fugiu dos xingamentos.

Apareceu uma única novidade. E não contribuiu para melhorar o debate. Surgiu um candidato laranja que teve por objetivo tumultuar o encontro, provocar candidatos na oposição a Jair Bolsonaro e funcionar como auxiliar do atual presidente. Kelmon Luiz de Souza, baiano, 45 anos, “pároco interino” da Arquidiocese Sírio Ortodoxa Mozankra da Diáspora, com sede na ilha da Maré, na Baía de Todos os Santos, Salvador, vestido de padre, falou em Deus, pregou o evangelho, criticou os comunistas, defendeu os valores cristãos da família e tumultuou o debate a ponto de quase fazer William Bonner sair do sério. Era o que ele queria. Ou desestabilizar Lula.  Chegou perto. Só se deteve quando Soraya Thronicke o qualificou como padre de festa junina.

As pesquisas eleitorais informam que o candidato Luís Inácio Lula da Silva é favorito para vencer as eleições presidenciais de 2022 no Brasil. São 156.454.011 milhões de eleitores, que terão que votar de acordo com o fuso horário de Brasília. Ou seja, as 17 horas na capital da República, 15 horas no Acre e 16 horas em Manaus, ou ainda 18 horas em Fernando de Noronha, todos os trabalhos deverão ser encerrados. Os brasileiros saberão se haverá segundo turno na eleição entre 19 e 20 horas, de Brasília, através dos boletins divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Dezenas de comitivas estrangeiras estão instaladas em vários pontos do território nacional para fiscalizar o desenvolvimento do pleito. Eleição no Brasil é assunto no mundo inteiro. É a maior democracia do hemisfério sul. Aqui votam 82.373.164 mulheres (52,65% do total) e 74.044.065 homens (47,33% do eleitorado), em 5.570 cidades, mais 181 postos no exterior, em 496.512 seções, distribuídas em 2.637 zonas eleitorais. É muita coisa. Trata-se de uma operação gigantesca, toda digitalizada, capaz de produzir o milagre de apurar essa montanha de votos, nacionais e estaduais, dentro do mesmo dia em que ocorreu a votação.

A urna eletrônica é adotada desde 1996 e nunca recebeu qualquer objeção séria. O sistema anterior, o voto em cédula de papel sempre foi uma tragédia anunciada na democracia brasileira. O risco de fraude era elevadíssimo. Havia também, além do desvio na contagem de votos, o chamado mapismo, que consistia na alteração do mapa eleitoral. Na primeira eleição de Leonel Brizola para governador do Rio de Janeiro, em 1982, ocorreu o chamado escândalo da Proconsult. Era uma empresa ligada aos serviços de informação contratada para fazer a totalização dos votos.

A apuração foi feita às claras em ginásios e escolas. A soma dos sufrágios era levada para os computadores da empresa – estávamos na primeira infância da computação – que aplicavam um desvio padrão de 15% dos votos de Brizola para outros candidatos. O esforço do sistema político comandado pelos militares foi voltado para impedir a vitória do candidato do PDT. O escândalo foi descoberto por uma emissora de rádio que realizou, por sua conta, uma apuração paralela dos votos. Seus números não batiam com os resultados oficiais. A gritaria foi tanta que a apuração foi suspensa e a fraude, afinal, descoberta. Leonel Brizola foi eleito.

Qualquer que seja o resultado da eleição de 2022 – que a exemplo de todas as anteriores é a mais importante porque discute o futuro do país – sua simples realização é uma monumental demonstração da capacidade nacional de fazer acontecer. O sistema que vem sendo refinado e melhorado ao longo das últimas décadas atingiu nível de excelência. O melhor resultado da eleição é a demonstração de que os brasileiros podem produzir algo tão bom quanto seu futebol ou seu carnaval. O Brasil não é somente um desfilar de bundas, de caretas do Neymar ou de padre de festa junina. É uma democracia séria.

 

André Gustavo Stumpf, jornalista ([email protected])

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