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A obra com aditivos de R$ 120 milhões, os entraves do apoio do UB a Lula e a desconfiança no secretariado de Jerônimo

Tempo, tempo, tempo
Após mais de oito anos desde que teve o contrato assinado, o projeto dos corredores transversais do governo do estado segue sem ser concluído. E o pior: continua recebendo aditivos. Em outras palavras: o governo continua transferindo dinheiro do estado para a consórcio Transoceânico Salvador, responsável pelo Corredor Transversal I, que compreende a integração da Avenida Pinto de Aguiar à Gal Costa, através de túnel, e se estende aos bairros da Capelinha e de Pirajá para desembocar no Lobato, na avenida Suburbana. De acordo com publicação do Diário Oficial do Estado, o contrato com o consórcio recebeu seu oitavo aditivo, no valor de R$ 760,2 mil, cuja assinatura ocorreu na última quarta-feira (4). 

(Foto: Divulgação)

Mais dinheiro
Com isso, o valor do contrato já teve um acréscimo de quase R$ 120 milhões, o que representa cerca de 18% a mais em relação ao orçado no início do projeto. O valor inicial previsto para a implantação do corredor foi de R$ 647,38 milhões e, agora, o volume de recursos já está em R$ 765,21 milhões. Enquanto o projeto segue recebendo recursos, não há prazo definido pelo governo para a conclusão. 

Crítica pela crítica
O mais curioso é que o projeto original prevê a implantação de corredores para BRT, uma vez que os recursos federais destinados não eram para sistema viário, mas sim para investimentos em transporte. O detalhe é que o modal BRT foi duramente atacado pelo PT na Bahia, em especial pelo ex-governador Rui Costa (PT), responsável pelo projeto dos corredores, que atacou o projeto conduzido pela Prefeitura de Salvador na região do Iguatemi até a Lapa. 

Muita calma nessa hora
Para ter o apoio formal do União Brasil, o governo Lula vai precisar de 3/5 dos 17 membros da executiva nacional do partido. O requisito está previsto no estatuto da legenda e foi fruto de uma exigência do então presidente do Democratas ACM Neto durante a fusão com o PSL. A regra prevê que temas muito relevantes – como o apoio da agremiação ao governo – precisam dos votos de ampla maioria da executiva para que sejam aprovados. Caciques do partido avaliam que vai ser “muito difícil” para o governo Lula conseguir a adesão da legenda, uma vez que não conta com os 3/5 votos necessários dentro da executiva nacional. 

O buraco é mais embaixo
Integrantes do União Brasil ponderam que o fato de o partido ter três ministros não garante o apoio formal da legenda ao governo. Argumentam que a agremiação é bastante heterogênea e que boa parte dos membros não está interessada em cargos ou ministérios. Internamente, integrantes do partido chamaram de “operação tabajara” a articulação do PT para atrair o União Brasil para a base governista, conforme mostrou a Folha de S. Paulo. O periódico aponta que a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, que tem sido bombardeada pela imprensa, não tem sustentação entre os deputados e que a articulação do PT escolheu os interlocutores errados para conduzir a negociação. 

Habitação em segundo plano
Uma auditoria do Tribunal de Contas do Estado (TCE) identificou nesta semana diversas irregularidades na política estadual de moradia popular nos controles utilizados pela gestão para monitorar e avaliar as ações executadas. A situação contrasta com a falta de valorização do governo do PT na área da habitação, que terá orçamento 43,3% menor para este ano. Em 2022, o volume de recursos previsto para o Fundo Estadual de Habitação de Interesse Social foi de R$ 83,3 milhões, contra R$ 47,2 milhões para 2023. 

Futuro duvidoso
A falta de qualificação técnica de secretários indicados pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT) para pastas e setores estratégicos pode comprometer a gestão estadual e, consequentemente, o desenvolvimento econômico do estado, que já vem cambaleando nos últimos anos, até mesmo antes da pandemia. A avaliação é feita por observadores da política baiana e integrantes do setor produtivo, que veem com preocupação os nomes indicados pelo petista para cinco secretarias: Agricultura (Seagri), Desenvolvimento Econômico (SDE), Infraestrutura (Seinfra), Turismo (Setur) e Desenvolvimento Urbano (Sedur). Na Seinfra e na Sedur, analistas dizem que os secretários (ambos do PSD) Sérgio Britto e Jusmari Oliveira, respectivamente, não têm nenhuma experiência na área e que, inclusive, já tiveram passagem pelo governo de Rui Costa e tiveram desempenho considerado ruim pela própria gestão petista. Já na SDE, o deputado Angelo Almeida (PSB) não tem interlocução com o setor produtivo, o que dificulta o diálogo para atração e ampliação de investimentos no estado. 

Meu passado me condena I
Na Seagri, o escolhido foi o deputado estadual Tum (Avante), que é bacharel em turismo. O setor agropecuário representa cerca de 25% do PIB baiano e, ainda assim, teve pouco incentivo do governo nos últimos anos. Pelo contrário, enfrentou sucateamento com a extinção da EBDA e o sucateamento da ADAB. Integrantes do setor dizem que a falta de valorização da pasta associada a um nome que não tem competência técnica e que use a secretaria como instrumento político pode prejudicar ainda mais o desenvolvimento agropecuário da Bahia. Tum é irmão do prefeito de Casa Nova, Wilker Torres (PSB), denunciado no ano passado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA) por fraude em licitação e alienação ilegal. 

Meu passado me condena II
O mesmo acontece com Maurício Bacelar na Setur. Engenheiro civil de formação, passou por ADAB e Detran antes de ser nomeado para a pasta, ainda no governo Rui. Nos dois cargos, teve desempenho desaprovado. Na ADAB, dizem deputados governistas, deu continuidade ao sucateamento do órgão. No Detran, uma operação da Polícia Civil atingiu em cheio um projeto liderado por Maurício, a Escola Pública de Trânsito (Eptran), cujas investigações apontaram uma série de irregularidades. 

Secretarias à deriva
O pontapé para a gestão de Jerônimo Rodrigues aconteceu debaixo de uma gambiarra administrativa ao mesmo estilo do antecessor Rui Costa. Dos quatro deputados estaduais nomeados secretários no dia 1º de janeiro, três não haviam se afastado oficialmente das atividades na Assembleia Legislativa, o que gerou um embaraço no seio do governo. Apenas Tum, da Agricultura, formalizou o ato. Nesta quinta-feira (5), a edição do Diário Oficial do Estado tornou sem efeito a nomeação de Angelo Almeida (SDE) e Osni (SDR), colocando auxiliares das respectivas equipes para responderem pelas pastas. Uma versão extra do Diário também anunciou a exoneração do secretário da Casa Civil, o deputado Afonso Florence. Em menos de uma semana de governo, pelo menos três secretarias ficaram sem seus recém-titulares.

Cerco fechado
O governo de Jerônimo Rodrigues (PT) começou com dificuldades de articulação junto aos partidos na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA). Com a oposição numericamente mais fortalecida após as eleições de 2022, integrantes do novo governo estão preocupados com as possíveis dificuldades que poderão enfrentar para aprovar matérias de interesse do Palácio de Ondina. O principal obstáculo, por enquanto, tem sido o PP. Embora alguns parlamentares já tenham sinalizado apoio a Jerônimo, outros deputados seguem com uma postura mais afastada do governo e prometem dificultar a vida da base petista. 

No limbo
Quem não ficou muito satisfeito com o secretariado de Jerônimo Rodrigues foi o PSB. A legenda da deputada federal Lídice da Mata ficou apenas com uma pasta, a SDE, que, embora seja estratégica, não é considerada “boa para fazer política”. Integrantes da legenda sugerem agora uma pressão maior para cargos no segundo escalão, o que seria inclusive uma forma de o partido se fortalecer para as eleições de 2024. 

Sem memória ou sem responsabilidade?
O apelo de Jerônimo de tornar o combate à fome tema prioritário na Bahia poderia ser razão de aplauso, não fosse o fato de o seu grupo político governar o estado há 16 anos, por quatro mandatos seguidos. Agora, no início do quinto período, Jerônimo trata as mazelas do Estado como se não tivesse qualquer relação de responsabilidade com elas. A pergunta que fica é: falta memória ou responsabilidade? 

Rui jogou água no chopp de Lula
Sabe a promessa Lula de o povo voltar a comer picanha e tomar cerveja gelada? Aqui na Bahia, ela vai demorar a acontecer. É que o ex-governador Rui Costa aumentou o ICMS dos produtos no apagar das luzes da sua gestão, antes de subir para Brasília.  

Cartão de visita
Por falar em Rui, militantes de movimentos sociais e de igualdade racial na Bahia têm levado ao cenário nacional um cartão de visita nada agradável do petista. Uma militante antirracista se refere a ele como “o governador que mandou fechar colégios e validou os massacres dos nossos”, ao lembrar de ocorrências policiais com mortes de jovens e crianças negras diante das quais se mostrou indiferente. “Rui Costa fez uma gestão na Bahia G, de genocida”, exclama uma pessoa no Twitter. Outro usuário também contradiz o perfil de “petista raiz” de Rui e aponta que na Bahia ele é chamado de “fascista de esquerda”.

Figurante
Na tentativa de esvaziar os rumores de que Geraldo Júnior será um vice figurativo, o governador Jerônimo Rodrigues deu uma contraprova prática daquilo que dizia. Durante a posse dos secretários na última terça-feira, ele chamou o vice para ficar em pé ao seu lado enquanto repetia que o parceiro de chapa teria participação atuante no dia a dia da gestão, mas depois de dado o recado deixou Geraldo compondo cenário ao seu lado por cerca de 15 minutos. Restou ao emedebista fazer acenos para a plateia e aplaudir outros nomes que eram citados por Jerônimo na longa lista de presenças do cerimonial. No resumo da ópera, Geraldo figurou.

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