InícioEditorialEsportesDom Quixote e a crônica esportiva

Dom Quixote e a crônica esportiva

O bom cronista esportivo dedica-se à atualização constante de conceitos, princípios e valores do exercício da prática de representar as aparições e fenômenos das competições o mais próximo possível de como se dão.

A este encontro entre a narrativa e o mundo como ele nos parece, chamamos precariamente “realidade” e tanto melhor será o cronista quanto mais aproximar-se deste suposto e refutável “real”.

Esta seria nossa utopia, objetivo inalcançável, do qual nunca desistimos, quixotescamente, pois a este sonho devemos nosso entendimento de defender o ofício como um fim em si mesmo em vez de oficina de fazeres viciosos.

Nosso combustível é a afinidade com o objeto, o jogo; nosso oxigênio, o convívio saudável; nossa ignição, a vontade de escrever. A razão, esta cocheira, comanda os impulsos e os ímpetos, os cavalos da volúpia. (Platão).

São variados os motivos de fascínio desta produção de conteúdo, a qual me afeiçoei ainda criança, ao editar cadernos manuscritos, tornando-me, já maiorzinho, cronista esportivo, pesquisador e professor formador de cronistas.

Sem nunca deixar de ser criança, pois sem inocência, não há jogo nem times ou craques, o cronista não passa da risca de meio-campo, sem a companhia de grandes autoras e autores, além dos ídolos da filosofia.

Os caminhos para aprimorar o bom cronista passam necessariamente por qualificada discussão ontológica, ética, fenomenológica e estética, embora as faculdades costumem rebaixar o esporte a assunto menor.

Uma das questões sem resposta exata (trata-se de ciência humana) refere-se ao profissional aficcionado a um clube ou a uma modalidade, condição sine qua non para o acesso ao campo das redações, construído pela via dos afetos.

A hipótese, por ora mais aceita, é a de três grupos distintos: o cronista assume o clube ao qual é afeiçoado; o cronista afirma torcer por time pequeno, do exterior ou de outro planeta; o cronista esconde-se na moita da neutralidade.

Quem prefere assumir sua afinidade, entende ser esta opção a única honesta, criando vínculos virtuosos com leitoras e leitores, pois conhecem a preferência de quem produz conteúdo.

Parece razoável aceitar o perfil deste grupo como capacitado a controlar seu bias (palavra inglesa de impossível tradução), algo como viés, visada, perspectiva ou angulação.

Ao manter conscientes os efeitos da paixão, seria possível controlar nossas inclinações, evitando a figura do “dis-torcedor”, ao “distorcer” o suposto “real”, se não vigiarmos a nós mesmos.

Este grupo corre risco de responder por denunciação falsa de “parcialidade”, pois a crença predominante ingênua implica em atribuir predicados supralunares ao cronista humano.

É como se o cronista descesse subitamente de uma nave espacial, num vistoso paraquedas, qual um extra-terrestre a deletar as experiências de sua história pessoal.

Cautelosos são os cronistas autoproclamados torcedores do Redenção ou do Besiktas da Turquia pois pensam, com esta tática, escapar ilesos ao monitoramento de publicações enviesadas.

Para sorte nossa, somos marcados por leitores críticos e atentos, testemunhas de grande parte dos fatos dos quais extraímos a matéria-prima, contribuindo para fazer da crônica esportiva o gênero ético por excelência.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade

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