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A festa das marcas: empresa alemã traz fone de ouvido de R$ 500 mil para Salvador

Não é só o folião quem passa o ano inteiro pensando no Carnaval de Salvador. Antes que qualquer atração tome as ruas da cidade na maior festa popular do mundo, empresas dos mais variados portes sonham com a oportunidade de colocar o bloco na rua e associar a própria imagem institucional, ou de seus produtos, à festa. Este ano, pelo menos 100 marcas devem realizar algum tipo de ação de patrocínio ou de ativação, estima a Saltur – Empresa Salvador Turismo. 

Neste caso, ênfase no “pelo menos”. Um indicativo de que o número deve ser maior pode ser percebido em um único grande camarote, por onde desfilam 25 marcas, que vão desde figurinhas carimbadas na folia, como bebidas, a sites de apostas e até adoçantes e pimenta. Sim, todo mundo quer aparecer no Carnaval de Salvador. Cabe até uma menção honrosa para a empresa alemã Sennheiser, que trouxe para demonstração o fone mais caro do mundo, o HE1, avaliado em mais de R$ 500 mil, feito com mármore Carrara. 

Fone mais caro do mundo esteve em exibição para profissionais da área (Foto: Divulgação)

Para o iFood, o investimento no Carnaval tem o papel de reforçar a brasilidade do aplicativo. É algo muito mais voltado para um reforço de imagem institucional e de visibilidade do que para a conversão e alavancagem de vendas, diz Ana Gabriela Lopes, diretora de Marketing do iFood. Ainda assim, o período costuma render bons resultados de vendas, reconhece. “Durante o verão, por exemplo, a semana do carnaval é reconhecida por marcar os maiores índices de pedidos diários deste período”, conta. 

A empresa planeja apoiar alguns dos principais blocos que estão nas ruas durante a festa, além do Camarote 2222. Em outra frente, a empresa uniu-se ao publicitário baiano Nizan Guanaes e a Carlinhos Brown para lançar o hit ‘Tá de Rango’, além de oferecer o Mapa do Carnaval Sympla. 

“O carnaval de Salvador tem um valor cultural imensurável para o país, bem como atrai a atenção e reúne milhares de brasileiros para aproveitar a festa”, lembra Ana Gabriela. 

Ana Gabriela Lopes, diretora de marketing do iFood (Foto: Divulgação)

Nizan Guanaes, CEO da N Ideias, lembra que a marca iFood tem uma relação de proximidade com a Bahia, que reflete no Carnaval. “É um gigante feito no Brasil, por um baiano, Fabrício Bloisi, que é um empreendedor que é orgulho para todos”. Nizan lembra que os dois foram colegas na Universidade de Havard. “É uma história exemplar de gestão, a empresa cresceu pelo modo brasileiro de trabalhar”.   

“Pelo nome, muita gente acha que o iFood é gringo. Não, nasceu no Brasil, feito por um baiano e eu tenho muito orgulho disso”, destaca o publicitário.

O Carnaval representa um dos momentos mais importantes do ano no que diz respeito ao consumo de cerveja. “Devassa é uma marca com uma atuação muito forte no Norte e Nordeste do Brasil e Salvador é uma das cidades com maior importância de volume para a marca. Não tem como ficar de fora do Carnaval de Salvador”, diz llana Lencastre Gerente de Marketing da Cerveja Devassa. Ela lembra que a relação da cerveja com o Carnaval é antiga.  

 “Como é um momento importante no consumo de cerveja, é claro que existe uma expectativa do nosso lado de retorno de venda, mas acima de tudo, com toda a história que a gente está construindo é tornar a marca relevante para os consumidores, uma marca que ofereça momento épicos e inesquecíveis”, projeta Ilana. Entre as atrações promovidas pela empresa está uma apresentação de Carlinhos Brown, que terá como convidada a cantora Iza, estreante na festa em Salvador, nesta quinta-feira.  

llana Lencastre fala da importância do Carnaval para o mercado de bebidas (Foto: Divulgação)

Líder mundial em tecnologia de áudio, a empresa alemã Sennheiser trouxe para o pré-Carnaval um centro de experiência imersiva para artistas, técnicos e produtores entrarem em contato com equipamentos de alta performance. Além do fone de ouvido mais caro do mundo, a Casa do Carnaval by Sennheiser, no Horto FLorestal, oferece aos visitantes uma sala imersiva montada com tecnologia Dolby Atmos e monitores Neumann, além da Soundbar da marca que simula um sistema 7.1.4, entre outros atrativos para quem gosta de som de qualidade. Entre 3 e 15 defevereiro, o espaço abriu as portas para visitantes como técnicos e engenheiros de som, responsáveis pela magia sonora por trás de trios elétricos, grandes palcos, estúdios de gravação, etc. 

Para o Shopping da Bahia, o primeiro efeito dos investimentos no Carnaval é percebido no aumento do fluxo no espaço. Somente para a retirada dos passaportes da folia na Operação Abadá são esperadas cerca de 250 mil pessoas circulando, conta Wilton Oliveira, superintendente do shopping, que é responsável pela entrega de 90% dos passaportes da folia. “Isso significa uma injeção positiva no fluxo de vendas e a diversificação desse público. Afinal, o turista que vem a Salvador e reconhece positivamente a nossa marca, pode concentrar no shopping sua alimentação, as compras de última hora, o tempo gasto nos intervalos da folia, entre outras movimentações, sem perder de vista o conforto e a segurança”, avalia.  

Wilton (camisa preta) com os famosos copos do shopping durante uma ativação de marca (Foto: Divulgação)

“Nós carregamos o nome da Bahia em nossa marca, portanto é imprescindível para a gente ser lembrado pelo público como o shopping que apoia aquilo que é importante para ele”

No contexto de uma festa descentralizada, com atrações em diversos espaços, a estratégia do Shopping é apoiar o maior número de eventos possível, desde os Filhos de Gandhi, Camaleão e Coruja até os camarotes Expresso 2222, Club, Camarote Salvador, entre outros. “Assim conseguimos pulverizar a nossa marca em vários espaços da folia e comunicar nossos valores os mais diversos perfis de público”, destaca Oliveira.   

Festa participativa 
O publicitário André Mascarenhas, presidente do Sinapro-Bahia e CEO da agencia Artecapital, explica o grande atrativo que a festa possui está na sua característica participativa. “Não é um momento de contemplação, são as pessoas que fazem a festa, vão para a rua e fazem parte”, diz. Por conta disso, não existe a possibilidade de se montar um esquema de patrocínios fechado, como acontece em locais como um sambódromo, por exemplo. “Numa festa indoor, o acesso é controlado e aí as empresas pagam as cotas de patrocínio e sabem exatamente qual retorno terão”, explica.  

“Salvador tem a maior festa de rua do Brasil e é possivelmente a maior do mundo, onde as coisas acontecem com o máximo de organização que o formato permite, sem perder a sua espontaneidade e isso gera muita curiosidade e expectativa”, destaca. Para Mascarenhas, um dos grandes atrativos está no fato de se poder contar tanto com as milhares de pessoas que estão na rua e interagem com as marcas, quanto com aquelas que acompanham o que está acontecendo a partir dos veículos de comunicação e das redes sociais.  

As possibilidades da chamada mídia espontânea, quando uma marca aparece durante uma imagem em jornal, ou numa transmissão televisiva são muito grandes. “Quando um jornal dá capa para uma atração, quando algo relacionado à festa aparece numa transmissão e aquela marca está lá, o retorno para o patrocinador é imensurável”, ressalta. André Mascarenhas acrescenta ainda um papel que vem sendo cada vez mais exercido pelos patrocinadores, de não apenas viabilizar a festa, mas de oferecerem novos produtos.  

“O patrocinador se beneficia muito mais numa festa como a de Salvador do que em carnavais indoor, como a gente tem no Rio e em São Paulo. O que acontece é uma simbiose, o patrocinador ajuda a viabilizar a festa economicamente e o Carnaval devolve isso em dobro”, acredita.  

Além da realização da Quarta Pink e ativações de marcas parceiras durante o período do Carnaval, a agência AsMinas está trabalhando no período com ações de criação de conteúdo. De acordo com Letícia Sotero, diretora Comercial e Relacionamento da agência, esta é uma demanda que vem crescendo no mercado. Ela conta que a agência baiana trabalha em diversas praças no período, além de Salvador. “A gente está trabalhando bastante no Verão e no Carnaval com influenciadores, criando conteúdos para a internet”, explica.  

Para Letícia, os atrativos que Salvador tem para patrocínios nesta época passam pelo tamanho da festa e pela qualidade das atrações. “Salvador tem a maior festa do mundo, que se faz com muita qualidade”, afirma. “Investir aqui significa ter uma tranquilidade muito grande em relação à qualidade da entrega e também de resultados”, explica. Ela acredita na necessidade de “não só despejar dinheiro na cidade”, mas na “construção de uma relação com a cidade”.  

A diretora da agência diz que as redes sociais ajudaram reduzir uma dificuldade que o mercado publicitário sempre teve em relação a ações de rua, que é o da mensuração dos resultados. “A gente consegue puxar dados geolocalizados e entender quantas vezes numa determinada região a marca foi mencionada, citada ou se alguém naquele local se interessou em acessar o Instagram da empresa”, explica. Apesar disso, Letícia ainda aponta a medição dos resultados como o grande desafio do mercado em eventos do tipo.  

“Paraíso das marcas” 
“O Carnaval de Salvador é o paraíso das marcas”, reconhece o presidente da Saltur, Isaac Edington. Para ele, a diversidade de atrações e a diversificação geográfica da festa, que chega a acontecer em 400 locais diferentes, trazem oportunidades para marcas dos mais diferentes tamanhos e perfis. Edington lembra ainda que o Carnaval é bastante associado à alegria, uma emoção à qual diversas empresas gostariam de associar os seus produtos.  

Ele calcula que Salvador deverá contar mais de 100 empresas fazendo algum tipo de ativação de marca no período da festa. “Você tem camarotes que buscam as marcas para melhorar as experiências dos consumidores, os blocos que procuram para rentabilizar ou melhorar a qualidade das atrações ofertadas, a própria Prefeitura busca marcas para ajudar a viabilizar o Carnaval, em troca de espaços na festa”, enumera. “Cada um empacota esse grande produto da melhor maneira possível para fazer valor aos seus empreendimentos”. 

Segundo o dirigente da Saltur, cada uma das programações que acontecem na época atrai públicos diferentes. “Salvador é uma cidade tão diversa que nós temos um palco dedicado ao rock, na Barra tem uma torre que só toca música eletrônica. E quem vai para uma programação como esta é um público totalmente diverso do que frequenta outros locais de festa”, diz. A essa salada cultural, somam-se a festa das orquestras no Santo Antônio, desfile de fantasias na Praça Municipal, o palco multicultural e as festas nos bairros. “Acontece tudo ao mesmo tempo e tudo bem, a gente tem Carnaval até para quem não gosta de Carnaval”.   

Mesmo os camarotes mais caros e requintados serviriam para ampliar a diversidade da festa, acredita Isaac Edington. Há um público que vem para a cidade por conta dos espaços, argumenta. “Não somos contra os camarotes, geram muito emprego e muita renda. Além disso, muita gente que está num camarote em um dos dias, nos outros está participando da festa na rua”, diz.  

Festa deve movimentar R$ 2,4 bilhões 
Mesmo não impactando tanto nas vendas do varejo como acontece em outros momentos festivos, como o Natal, o Carnaval é um momento fundamental para o setor de serviços. A festa é fundamental para uma série de atividades ligadas à Indústria Criativa e ao Turismo. Além de movimentar toda a cadeia de hospitalidade – que inclui transporte, alimentação e hotelaria – e atividades relacionadas a eventos e música, o efeito mais importante do Carnaval na economia baiana persiste mesmo depois que a festa acaba.  

“A imagem que o Carnaval transmite de Salvador e da Bahia como um todo, ao longo do ano, cria um desejo e uma expectativa em relação à vinda para cá”, aponta André Mascarenhas, presidente do Sinapro-Bahia e CEO da agencia Artecapital. “A Bahia é vista no mundo inteiro por causa desta festa e se torna um destino turístico desejado não apenas em fevereiro, mas durante todo o ano. Sem dúvidas, é a data mais importante que nós temos porque nos coloca numa evidência que nenhuma outra coloca”, diz.  

Isaac Edington, presidente da Saltur, acredita que os investimentos de requalificação e reposicionamento de Salvador nos últimos anos potencializam os efeitos da visibilidade que é dada pela festa. “Houve muitas melhorias na cidade, na nossa estrutura turística, em promoção, nós temos novos espaços para mostrar. Todas essas ações fazem a cidade ser muito mais demandada pelos visitantes”, diz. Segundo ele, desde novembro houve um aumento na movimentação de visitantes. “As festas populares tiveram uma movimentação gigantesca de gente”.   

“Esse tipo de movimentação é importante porque a indústria que nós temos é a Criativa, é o entretenimento, a cultura, as artes, a fotografia e todos as outras atividades que fazem parte deste conceito”, afirma. Edington destaca que a Indústria Criativa “alimenta” diversas outras atividades econômicas da cidade.  

Este ano, o Carnaval deve movimentar R$ 2,4 bilhões na economia baiana projeta a Fecomércio-Ba. Caso o cenário se confirme, o resultado ficará abaixo dos R$ 2,6 bilhões de 2020, último período antes da pandemia. A entidade estima que o destaque vai se dar para as atividades turísticas, que devem responder por R$ 1,39 bilhão deste total, com gastos nas mais diversas estruturas, como os meios de hospedagens, bares e restaurantes, transporte, entre outros. De acordo com dados do IBGE, o Turismo cresceu 26% no período de janeiro a novembro do ano passado na Bahia. 

Nacionalmente, a expectativa é de uma movimentação de R$ 8,18 bilhões no Carnaval deste ano.  

O Correio Folia tem patrocínio da Clínica Delfin, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio da Jotagê e AJL.

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