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Em torno de nossas bolhas

Especula-se que o Universo gire em torno de uns 10 bilhões de quilômetros. Amanhã não se sabe, pois ele se expande e tudo que contemplamos é anos-luz inalcançável. Ainda assim fazemos planos sobre ir a Marte (morar por lá, fundar países). Enquanto não fincamos bandeiras em Marte, delimitamos com ferocidade nossas bolhas no planeta. Já reparou como a apresentação nos perfis das redes sociais costuma entregar as pessoas? É como uma plaquinha que se coloca na porta de casa ou um tapete: “se for de paz pode entrar”. Há quem não se descreva. Outros capricham numa citação ou mandam logo algo bem agressivo do tipo “nem tente”.

Optei certa vez por uma frase de Cecília Meireles. “Tenho fases como a Lua. Fases de andar escondida. Fases de vir para a rua”. E é verdade. Troco fotos de capa e perfil constantemente. Fico entediada com o patrulhamento neurótico sobre as postagens. As discussões seguem monotemáticas em torno da vida e das mortes. De vez em quando, criam grupos ou inventam debates sobre algo que incomoda. Todo mundo adota e sai reproduzindo. Daí alguém pergunta: “quando faremos algo real a respeito?”. Logo, esquecem.

Há redes nas quais predominam fotos e vídeos. Mesmo já contaminadas por memes e mensagens de texto, essas ainda oferecem uma contemplação saudável da vida dos outros. Afinal, é disso que se trata, não é mesmo? Ao menos, sob o abrigo das imagens, estamos a salvo das polêmicas diárias sobre todo e qualquer assunto. Mas não se engane, caro leitor, eu sou como todo mundo, embora costume seguir as minhas próprias regras. Gosto de gente, de saber das coisas, tenho curiosidade. Não sou em nada diferente de quem reclama e segue nas redes apesar do barulho. .

Só que paro um pouco, às vezes, para escutar o silencio. Não me afeta a zoeira estridente em torno dos temas sérios, mas a impossibilidade de intervir seriamente. Penso em modos, mas apenas penso. Não sei distinguir no céu as várias constelações. A frase é bem mais que o título de um poema de Cecília Meireles, bem mais que um verso. “Quando alguém diz saber alguma coisa, fico perplexa: ou estará enganado ou é um farsante”. A ignorância tem sido um bom disfarce.

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