“Eu pedi ajuda e vocês querem me colocar na cadeia. Por favor, véi! Eles vão saber que fui eu”. A frase é a transcrição de um áudio, enviado a um familiar, por Guilherme Nascimento Pereira, 29 anos. O homem foi preso na madrugada dessa quinta-feira (3/3), após matar Letícia Barbosa Mariano, 25, espancada. Ele é feminicida confesso e pede ajuda para livrar-se do assassinato. Contudo, diferente do que gostaria de ouvir, Pereira foi aconselhado a entregar-se às autoridades.
“Espera até de manhã! Não sei se ela está morta. Trisquei nela e a bicha está mexendo um pouco o pescoço e o peito. Espera! As vezes é cachaça. Espera um pouquinho. Não vai [agora] não”, começa o suspeito. “Não vai na delegacia não, por favor! Eu já estou na desgraça. Por favor, não vá! Só não vá. Estou na rua, moço. Eu estou dando voltas. Eu fiz foi fugir, já”, finalizou.
Por volta das 4h30, Letícia foi assassinada dentro de casa, em Taguatinga. A vítima foi espancada até a morte, no banheiro do apartamento onde morava, no Setor de Indústrias Gráficas da região. O suspeito fugiu da cena do crime, mas foi preso horas depois em um hotel, em Ceilândia.
Ouça os áudios encaminhados por Guilherme:
Letícia havia denunciado o namorado por ameaça e lesão corporal. O Metrópoles teve acesso a detalhes de uma denúncia registrada pela vítima, em 17 de setembro do ano passado, contra o namorado. Na ocasião, a vítima alegou que namorou o autor por cerca de cinco anos e terminou o relacionamento em junho de 2022.
A jovem também revelou que o companheiro sempre apresentou comportamento violento e que chegou a ser agredida física e moralmente por ele. Guilherme, inclusive, chegou a reclamar da “roupa curta” de Letícia.
À época, a vítima procurou ajuda das autoridades contra o agressor. A delegada responsável pelo caso pediu a prisão preventiva do suspeito, mas o Ministério Público entendeu que não havia requisito para a prisão – e a Justiça indeferiu o pedido.
Na decisão obtida pelo Metrópoles, a juíza do 2º Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Ceilândia diz que não há informações de que Guilherme teria descumprido medidas de proteção anteriormente pedidas por Letícia e, portanto, não havia necessidade de “custódia cautelar”.
“Há previsão legal de outras medidas menos gravosas, como as medidas protetivas de urgência, que podem garantir a integridade física e psíquica da possível vítima, as quais já foram deferidas em favor da ofendida nos autos da Medida Protetiva de Urgência. Ausentes, portanto, os requisitos necessários à decretação da prisão temporária porquanto não resta demonstrada a necessidade da custódia cautelar para as investigações do inquérito policial”, disse a juíza Joanna D’Arc Medeiros Augusto.
AgressõesQuando registrou o boletim de ocorrência, Letícia afirmou que havia sofrido uma tentativa de feminicídio e requereu medidas protetivas de urgência.
Aos policiais, a vítima contou que encontrou Guilherme enquanto caminhava pela rua, e o agressor tentou iniciar uma conversa. Diante da negativa da vítima, ele a acertou com um murro no rosto.
Em 14 de setembro de 2022, o suspeito, extremamente irritado e descontrolado, foi à casa da jovem e começou a gritar: “Desgraçada, desgraçada. Eu quero ver seu Instagram”. Em seguida, puxou os cabelos dela, com bastante violência e a ameaçou: “Eu vou te matar. A sua roupa está muito curta”. O criminoso chegou a pressionar Letícia contra o muro e continuou as agressões, dizendo: “Põe a senha do Instagram, senão eu te bato”.
Apavorada, ela conseguiu se desvencilhar, correr e se abrigar em um salão de beleza. Testemunhas ligaram para a Polícia Militar, que chegou ao local quando o suspeito já havia fugido.
Em depoimento, a jovem reforçou que a conduta do agressor era reiterada e que ela não “suportava mais o abalo psicológico” causado pela situação. Acrescentou que temia pela própria vida, devido ao temperamento agressivo, violento e imprevisível do ex-namorado. Letícia descreveu Guilherme como “profundamente possessivo e ciumento”, e disse que ele não aceitava o fim do relacionamento.