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Turismo – (não) volte 20 casas

Dois mil e vinte e três trouxe à atividade do turismo do Brasil e da Bahia novos gestores, novas visões, desafios, possibilidades e, tomara, novas políticas. Há exatos 20 anos, experimentávamos algo parecido, quando o turismo começava a traçar os caminhos apontados pela 1ª primeira versão do Plano Aquarela, que, embora não fosse perfeito, é até hoje nosso mais bem-sucedido plano de marketing internacional.

Até 2003, o Brasil promovia sua imagem no exterior rasa e sistematicamente como o país do carnaval, de belas mulheres e de um massivo e predatório turismo sol & mar. A Bahia, sempre vanguardista, abria novos flancos focando a própria divulgação em sua vasta diversidade cultural, visão Gaudenziana que chegou a levar a Bahia a países em que a própria Embratur nunca havia pisado para divulgar o Brasil. Foi a mudança de modelos mentais e de atitude de gestores do segmento que fizeram o cenário e a história mudarem.

Lembremos: foi em 2003 que o turismo passou a ter um Ministério exclusivo, não mais sendo parte dos Ministérios da Indústria, Comércio e Turismo (1992 a 1998) e dos Esportes e Turismo (1998 a 2002). Foi a partir de 2003, também, que vimos os índices de qualificação do segmento ascender de forma estruturada e como nunca. Não éramos mais apenas o país do carnaval, de um turismo massivo, questionável e predatório em que se basearam as políticas promocionais da Embratur desde sua criação em 1966. Foi a partir da exclusividade de um Ministério só seu e da existência do Plano Aquarela, que o turismo divulgou para o mundo um Brasil excelente para negócios e eventos, esportes, cultura, dentre os 11 segmentos potenciais catalogados – importante citar que a Bahia jogava e joga nas 11 oferecendo produtos em todos os segmentos. Um país com vasta oferta de diferenciais multiculturais, pesquisa científica e tecnologia de ponta, além do que podemos chamar de ‘commodities’ do setor (facilidade de acesso, malha diversificada, diversidade na rede hoteleira e infraestrutura para eventos). Tudo isso antes das privatizações ou concessões de aeroportos e espaços para eventos e sem abdicar do (ainda massivo e predatório) turismo sol & mar. Índices? Vamos a eles.

Em 2002, o Brasil era o 21º no ranking mundial de países com mais ocorrência de eventos internacionais e em 2009 o país atingiu o ápice de 7º lugar no mundo (único país latino-americano a conseguir a façanha até hoje). No mesmo 2002, o país registrou o ingresso de 3,7 milhões de turistas, enquanto que no ano da Copa do Mundo celebramos 6,4 milhões de visitantes. A emissão de passagens aéreas saltou de 30 milhões em 2002 para 100 milhões em 2015. São dados oficiais da ICCA, MTur e ABEAR, respectivamente.

Os números da série histórica do MTUR são o resultado de uma política nacional de descentralização e apoio efetivo que foi implantada com critério e metodologia e, de quebra, fez surgir uma salutar competividade entre as cidades brasileiras, monitorada pelo Sebrae Nacional e aplicada em campo através das entidades de destino, os chamados Convention & Visitors Bureaux com apoio das secretarias municipais e estaduais de turismo. Nunca nossos indicadores foram tão bons!

Vinte anos depois daqueles primeiros passos de vida independente, o turismo no país parece novamente se reorganizar política e institucionalmente ao relançar a Marca-Brasil, símbolo institucional do país no exterior, e uma nova versão do Plano Aquarela. Retomar a mesmíssima receita de 20 anos atrás não é garantia de bonança futura, mas é uma lufada de esperança na retomada do sucesso interrompido essencialmente por descontinuidade de ações, desmantelo de políticas inovadoras e corte de investimentos federais no setor.

Planejamento, monitoramento e articulação de agentes envolvidos são conceitos eficazes para o sucesso, mas infelizmente pouco usuais. Até temos alguns planejamentos bem elaborados no setor, mas, depois de elaborados, é necessário aplicá-los às bases do turismo e, acima de tudo, prepararmos o futuro com acompanhamento e controle constantes. Planos são excelentes geradores de mídia, fotos e repercussão. Em apresentações de slides garantem aplausos efusivos. Seus efeitos são ainda maiores – para o bem e para o mal. Aprendemos isso com o topo em que chegamos na primeira década deste século. Importante também refletir sobre o que nos fez desviar do caminho para que daqui a outras duas décadas não tenhamos que retroceder 20 casas novamente. Será?

Silvana Gomes é turismóloga, consultora, especialista em adm de serviços pela UFBA, com MBA em Gestão Empresarial pela FGV e entusiasta do turismo de eventos.

Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores

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