Já foi dada a largada para o período de homenagens aos 474 anos de Salvador. E, com o intuito de valorizar a herança ancestral, o potencial cultural e criativo negro na cidade mais negra fora do continente africano, foi realizado na manhã desta quinta-feira (16) o lançamento do Festival Salvador com apresentação do Ilê Ayê. O evento, que faz incentivo ao Black Money, é fruto da parceria entre o Movimento Salvador Capital Afro e o Salvador Shopping e acontece de 15 a 31 de março, no centro de compras.
No festival, marcaram presença a vice-prefeita Ana Paula Matos, o secretário de Cultura, Pedro Tourinho, e o presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington.
A programação, que integra as celebrações do aniversário de Salvador, tem expectativa de atrair cerca de 10 mil pessoas e obter uma movimentação financeira de aproximadamente R$ 250 mil reais. Para isso, inclui atrações musicais e performáticas na Praça Central (piso L1) do shopping. Por lá, a primeira grande referência musical a passar foi o Ilê Ayê, que deu boas-vindas ao festival animando e atraindo olhares admirados de quem passeava no local.
A professora aposentada Suelene Guimarães, 63, estava com a neta de colo quando ouviu as batidas do Ilê. Ela não resistiu e resolveu parar para contemplar. “O que mais chamou a minha atenção foi a banda. Dançamos com o Ilê Aiyê e admiramos bastante. Foi muito lindo”, elogiou.
Contudo, além do Ilê Ayê, Suelene também ficou inclinada a levar um dos produtos na exposição. A variedade fazia os olhos saltarem: havia estandes nos segmentos de moda, acessórios, cosméticos e artes. E o diferencial é que toda a comercialização de produtos e serviços foi fornecida por afroempreendedores participantes da plataforma online AfroBiz Salvador, projeto da Prefeitura de fortalecimento da indústria criativa afro da cidade.
Para o comunicador e artesão Samuel Barbosa, o Festival Salvador representa uma grande oportunidade, assim como o AfroBiz Salvador. Ele, que criou o Studio B – Artesanato brasileiro, conta que foi no luto pela morte da mãe que teve contato com a arteterapia e descobriu seu talento para desenho. O talento virou negócio e Samuel encontrou casualmente, em uma feira, a chance de fazer parte da AfroBiz. Desde então, ele tem o suporte da plataforma para capacitação e consultoria, bem como indicações de vendas.
E, segundo o artesão, há consenso da parte dele e do Afrobiz quando apontam que o melhor lugar para se estar no momento é o Festival Salvador. “Participar do Festival Salvador é muito importante por conta dessa visibilidade. É muita gente frequentando o espaço, perguntando, elogiando, querendo cartão para comprar depois, comprando para dar de presente ou para decorar sua própria casa. Para mim é uma oportunidade excelente. E, para quem está empreendendo e começando, ter essa visibilidade é algo surreal”, diz Samuel.
Samuel Barbosa é artesão e participa do Festival Salvador como expositor da sua marca Studio B – Artesanato brasileiro (Foto: Marina Silva/CORREIO) |
Diretora de Cultura da Secult municipal, Maylla Pita destacou o desafio que é a parceria com o shopping. “[O desafio] é o de articular e pensar estratégias que, efetivamente, impactem no escoamento dos produtos e serviços. Neste sentido, para além da visibilidade e do valor simbólico desta collab (colaboração), desejamos criar e ampliar espaços de comercialização para pequenos e médios empreendimentos pretos da cidade”, afirma.
A parceria entre o Movimento Salvador Capital Afro e o Salvador Shopping também voltará com o Centro de Informação de Afroturismo, espaço voltado para a divulgação de roteiros inovadores, com o objetivo de oferecer aos visitantes uma diversidade de experiências em gastronomia, história, arte, cultura e religiões (católica e de matrizes africanas), todos contados sob a perspectiva da cultura afro-brasileira.
Dentre as sugestões de passeios afrocentrados, estão a mariscagem em Tubarão, incluindo saborear uma deliciosa moqueca com mamão verde, visitas ao Terreiro Vodun Kwe To Zo, à Pedra de Xangô e à Feira de São Joaquim, vivências de Fé na Terra Santa dos Alagados, Rota Afro Congo, na sede do Afoxé Filhos do Congo, e o tour histórico Caminho de Ogum, no Centro Antigo de Salvador.
De acordo com Simone Costa, gerente do Núcleo de Ações Turísticas do Programa Nacional de Desenvolvimento e Estruturação do Turismo de Salvador, os roteiros afrocentrados visa não apenas atrair turistas, mas, principalmente, convidar a população soteropolitana a conhecer a Salvador Capital Afro e fortalecer os afroempreendedores de diversos segmento que participam da Plataforma AfroBiz Salvador.
“O conjunto dessas ações propõe a inclusão dos empreendimentos negros na economia do turismo, impulsionando a rede e posicionando a cidade de Salvador como destino de referência do Afroturismo no Brasil”, ressalta Simone.
Gerente de Marketing do Salvador Shopping, Marianna Muniz, reitera a importância do Salvador Capital Afro promover um Festival no centro de compras. “A primeira edição já foi um sucesso e estamos na expectativa dessa segunda etapa. Esse evento é uma das principais ações do calendário do Comitê de Diversidade e Direitos Humanos do shopping este ano”, sinaliza a gestora.
O Salvador Capital Afro é uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Salvador, através da Secretaria de Cultura e Turismo, no âmbito do PRODETUR Salvador, em parceria com a Secretaria da Reparação. O projeto tem financiamento do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento e é mais uma ação implementada do Plano de Desenvolvimento do Turismo Afro em Salvador.