Clara Nunes até hoje lembrada pelo seu belo legado (Foto: Wilton Montenegro/Divulgação) |
Uma das artistas mais admiradas do Brasil, Clara Nunes nos deixou no dia 2 de abril de 1983. Portanto, há 40 anos, ela continua sendo lembrada em todos os lugares. Apesar de sua forte ligação com a Bahia e os baianos – a cantora gravou ‘Filhos de Gandhy’, de Edil Pacheco, e ‘Ê Baiana’, de Fabrício da Silva, Baianinho, Ênio Santos Ribeiro e Miguel Pancrácio –, Clara é mineirinha de Caetanópolis, nascida em 12 de agosto de 1942, e até hoje é considerada “a mais baiana das mineiras”.
Durante um tempo, ela formou ao lado de Beth Carvalho (que também nos deixou) e Alcione a santíssima trindade feminina do samba, apesar das três também serem excelentes intérpretes da chamada MPB. A morte da artista, em decorrência de uma parada cardíaca durante uma cirurgia de varizes, foi um choque.
No auge da carreira, aos 40 anos, ela deixava um legado de belas canções como ‘Morena de Angola’ (Chico Buarque), ‘Feira de Mangaio’ (Sivuca e Glorinha Gadelha), ‘Conto de Areia’, o ‘Mar Serenou’, ‘Tristeza pé no chão’, ‘Canto das Três Raças’, ‘Portela na avenida’, entre outras.
Aliás, a escola de samba Portela, a maior campeã do Carnaval carioca, era uma de suas grandes paixões. Portelense da carteirinha (assim como Paulinho da Viola), ela fazia questão de exaltar a escola e sempre estava participando dos desfiles.
Mantendo fortes ligações com a Bahia, Clara Nunes gravou em 1972 o álbum ‘Clara Clarice Clara’, nome da música composta pelos baianos Caetano Veloso e Capinan. Em 1973, quando lançou pela gravadora Odeon o disco ‘Clara Nunes’, estreou com Vinicius de Moraes e Toquinho o show ‘O poeta, a moça e o violão’ no Teatro Castro Alves, principal palco de Salvador.
Sempre eclética e dialogando com todos os segmentos, Clara atuou, em 1974, ao lado do ator Paulo Gracindo, em ‘Brasileiro Profissão Esperança’, espetáculo de Paulo Pontes sobre a vida da cantora e compositora Dolores Duran e do compositor e jornalista Antônio Maria. O show ficou em cartaz na casa de espetáculos Canecão, uma das mais tradicionais do Rio (fechada desde 2010), até 1975, resultando num disco homônimo.
Depois de sua morte, ela passou a receber diversas homenagens, a exemplo do Carnaval de 2019, quando a Portela desfilou com o enredo ‘Na Madureira moderníssima, hei sempre de ouvir cantar uma Sabiá.’
Na época, o então presidente da Escola, Luis Carlos Magalhães, falou sobre o antigo desejo dessa homenagem. “Todo ano os portelenses cobram isso da gente. ‘Quando que vai ser a vez da Clara, quando?’ Aí esse ano como tem a data redonda dos 95 anos de fundação da Portela, e nós já estávamos falando que iríamos fazer um enredo pra dentro da escola, contando algo da nossa história, ficou difícil não fazer”, comentou ele.
“As pessoas estavam nos cobrando e perguntando diretamente o motivo de não ser a Clara esse ano, se havia algum impedimento familiar. Nós já tínhamos a intenção de fazer esta homenagem, sempre tivemos. E o movimento cresceu muito… Nós estávamos em conversa lá com o pessoal de Caetanópolis (cidade natal de Clara), mas a coisa explodiu tanto internamente que resolvemos lançar o enredo agora, do nosso jeito”, complementou.
Muito antes da homenagem da Portela, o jornalista Vagner Fernandes publicou, em 2007, o livro ‘Clara Nunes Guerreira da Utopia’, resultado de uma pesquisa feita por ele durante quatro anos e recolhendo depoimentos de mais de 300 pessoas que fizeram parte da trajetória da artista. Eu tive a oportunidade de ler e, realmente, é um belo trabalho.
Desde 2012 existe um memorial em homenagem à artista em Caetanópolis, reunindo itens pessoais, recortes de jornais, revistas, prêmios entre outras coisas. No próximo mês de agosto, quando ela completaria 81 anos, o curador do memorial, Marlon de Souza e Silva, promete lançar um livro fotobiográfico da cantora. Além disso, a Banda Sobrinhos da Clara, formada por Márcio Guima, Mauro Guimarães e Guel, fará a abertura da 18ª edição do Festival Clara Nunes, também em sua cidade natal.
No audiovisual podem ser encontrados vários filmes e documentários sobre a artista como ‘Clara Estrela’, dirigido por Susanna Lira e Rodrigo Alzuguir; os documentários ‘Santa Clara’ e ‘Clara’, que podem ser vistos em plataformas de streaming.